quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Este Natal em Santa Sancha


Durante a minha ausência do território, foi eleito o próximo Chefe do Executivo. Fernando Chui Sai On foi eleito no dia 27 de Julho e vai governar Macau durante os próximos cinco anos. Dez, se tivermos em conta que o território não é propriamente um caldeirão borbulhante de alternativas políticas e ideias novas. Mantenham-se os brandos costumes, e vamos ter o mesmo elenco até 2019.

Chui Sai On foi eleito com 284 votos do Colégio Eleitoral constituído or 300 membros. Como não havia outro candidato, fica-se com a ideia de que os 16 que resolveram votar em branco foram corajosos, ou quiseram comprar uma briga com o futuro executivo. Mas nada disso. As abstenções serviram até para evitar que existisse uma unanimidade que tiraria o seu "petit chose" de democrático ao acto eleitoral. Assim até parece que existe "outra via".

O mais triste de tudo isto não é o facto de não ter acontecido política em Macau. Nem o facto de Chui Sai On ter sido eleito, pois afinal a continuidade até parece ser a solução mais acertada, dado o esforço envidado pelo actual executivo em agradar a Pequim neste último ano de governação, depois da grande "picada" que foi o caso Ao Man Long. O mais triste é que em Macau não exista alguém com coragem para alterar o "status quo".

Senão vejamos, o que se pode esperar deste próximo executivo? O mesmo, para o melhor e para o pior. Esperam-se decisões acertadas no capítulo da consolidação do segundo sistema, de Macau governado pelas suas gentes e toda essa lábia que se ouve nas alturas festivas ou nas visitas de dignatários da RPC. Deverá continuar a gestão adequada dos recursos económicos gerados pelo jogo, mas ao mesmo tempo que se atrasa a questão da diversificação da economia. Mas aqui "so far, so good", e podemos dar-nos como satisfeitos que Macau tenha passado a tempestade da crise económica mundial mais ou menos incólume.

De resto vamos ficar dez anos a perguntar onde está a lei sindical, onde está o tão necessário hospital público, a cultura e espaços de lazer, enquanto se assiste ao aumento de certos tipos de criminalidade e do trabalho precário, e ao crescimento da barriga da malta do lobby da construção. O pior de tudo vai sendo o crescente desinteresse da população pela política, e o sentimento de que não podem sequer contribuir para alterar o estado de coisas.

E o exemplo vem de cima. O que pensa a população do cargo de Chefe do Executivo? Que o CE é um indivíduo que se mata a trabalhar para servir os interesses da população? Até pode ser que seja verdade, mas o que o povo pensa - como em quase tudo - é que o cargo de CE é apenas um cargo muito bem remunerado, e uma posição de poder com muitas oportunidades de negócio. Ao contrário de muitos regimes democráticos, a população não critica directamente (pelo menos publicamente) o seu líder, não lhe exige explicações, e em muitos casos não lhe atribui sequer culpas.

Uma maior aproximação do CE à população era o que eu desejava no sapatinho este Natal, quando Santa Sancha mudar de inquilino. Um Chefe que dê ouvidos a todos os sectores da população, que "dar ouvidos" é diferente de "ouvir". Ouvir é muito fácil. Mas sobretudo que o próximo elenco executivo consiga pelo menos manter Macau uma cidade onde, apesar de tudo, ainda se consegue viver com algum conforto. Ao contrário de alguns críticos, não tenho vontade que as coisas corram mal a ninguém. Quem ganharia com isso, afinal?

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