domingo, 23 de agosto de 2009

Sozinhos em casa


Ele há coisas que me deixam completamente abismado. Esta semana vieram à luz novos dados sobre uma espécie de abandono que não fazia ideia ser assim tão grave. Cerca de oitenta por cento das crianças de Macau já ficaram sozinhas em casa. Grande parte admitiu ter tido acidentes nesse período. E agora? Uma tal Kitty Lam, que é presidente da Associação de Luta Contra os Maus Tratos às Crianças, a situação é tão grave (?) que “deve ser criada legislação que permita ser mais fácil retirar as crianças aos respectivos progenitores”. E eles a dar-lhe com a legislação por tudo e por nada.

Entre quase quatro mil crianças inquiridas, pouco mais de 3000 admitiu ter sido deixada sozinha em casa, e destes três milhares apenas 875 admitiu ter tido acidentes. E mais, a maioria das “criancinhas” deixadas sozinhas em casa têm entre 8 e 11 anos. Quanto à intensidade dos acidentes, 25 destas crianças tiveram que ser hospitalizadas. Conclusão deste estudo da treta: entre 3000 crianças que ficaram sozinhas em casa, 0,8% foram parar ao hospital. Vamos já largar tudo o que estamos a fazer e tomar as ruas de assalto para exigir essa tal legislação.

É claro que quando deixamos uma criança sozinha em casa temos que atender a alguns factores. Primeiro que tipo de criancinha é esta de que estamos a falar. Um bebé que gatinha e gosta de beber o detergente da casa-de-banho ou enfiar os dedinhos na tomada não é o tipo de criança que pode ser deixada à sua sorte. Nem o petiz de três ou quarto anos que viu o papá a fazer a barba e quer fazer igual. Uma criança minimamente crescidinha, educada e sossegada pode muito bem ser deixada sozinha em casa uma manhã ou uma tarde inteira sem que daí possa advir um grande mal. Provavelmente as crianças questionadas neste inquérito consideram "normal" terem sido deixadas sozinhas numa outra ocasião. Duvido que tenham respondido a chorar baba e ranho, de tão negligenciadas que foram.

Existe uma distância enorme entre deixar uma criança responsável sozinha em casa durante alguns minutos ou uma hora e deixar um pequeno delinquente entregue à sua sorte numa casa cheia de facas penduradas na parede da cozinha e garrafas de whiskey deixadas pelo chão o dia todo. E quanto aos acidentes que acontecem mesmo quando os pais estão em casa? Tenho a certeza que mais de 25 crianças foram hospitalizadas devido a acidentes ocorridos nestas circunstâncias. Acidentes acontecem, é assim a vida. E o pior é quando os "acidentes" são causados pelos próprios pais, muitos deles com a mão bem pesada. Disto pouco se fala.

Quando tinha quatro ou cinco anos já fazia recados aos meus pais ou aos meus avós. Quando tinha oito anos já saía de casa sozinho para ir jogar à bola com os amigos lá do bairro. Com nove anos já ia para a escola sozinho. Entre estes anos todos foram inúmeras as vezes que ficava sozinho em casa. Se tive medo? Não. Eu até gostava! Se parti alguma coisa? Se tive algum acidente? Não. Tive sorte? Não. Tive juízinho. Ficava a ver televisão, a ouvir discos ou a falar ao telefone com os amigos e as amigas. Era bastante divertido até. Quando ficava sozinho na quinta era ainda melhor. Tinha a companhia do cão, corria atrás das galinhas e dos patos, montava a vaca e as ovelhas, coitadas. Nem uma queda, nem um arranhão.

Já deixei os meus filhos sozinhos em casa várias vezes. Não preciso de os deixar numa creche ou contratar uma baby-sitter cada vez que vou ali ao mercado comprar uns tomates e demoro mais dez minutos porque passei pelo supermercado para comprar umas coca-colas. Eles até têm a internet para tomar conta deles! A maioria das vezes quando abro a porta eles reagem surpreendidos: “Ó pai, já voltaste?”. É triste que nos dias que correm estejamos a tratar as criancinhas como uns verdadeiros atrasadinhos mentais. Eles estão cansados de saber o que devem ou não fazer, que não devem abrir a porta a estranhos nem brincar com o fogão. Na era dos telemóveis, onde basta que marquem um número para saber onde estamos, o que estamos a fazer e quanto tempo vamos demorar, estamos a andar para trás.

Os pais negligentes, alcoolicos, as empregadas que se ausentam para ir dar uma queca, toda essa gente tem que ser responsabilizada. Agora que não façam os pais responsáveis que têm filhos disciplinados, educados e certinhos pagar pelos outros que se calhar nunca deviam ter tido filhos. Na verdade, qual é afinal a idade para se deixar uma criança sozinha em casa sem que isso seja considerado abandono? 18 anos? Se há coisa que os miúdos acham "careta" é chegar a casa e ver lá a mãe a descascar cebolas e a perguntar-lhe "como foi a escola". Os putos têm imenso com que se entreter quando estão sozinhos. Isto num território onde se chegou a pensar em reduzir a idade da imputabilidade criminal para os 14 anos. Deixemo-nos de falsos moralismos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas em Macau as pessoas sabem muito pouco e com medo que de merda então fazse uma leizita que para o caso de dar merda usa-se a a lei como desculpa assism ninguem pode dizer que não se fez nada...A cultura do Taichi...Olha e a proposito, sabendo desde ja que defendes o portugues etc etc porque é que este blog tao interessante nao aparece em ingles? Tambem pertences ao clube dos que querem ensinar Portugues aos Chineses?

Irene Fernandes Abreu disse...

Grande Leocardo!!! Continua a subir pontos na minha consideração (e na de mais pessoas com quem trocamos opiniões sobres estes e outros acontecimentos em Macau)
Pois eu também não percebo o que se passa nos tempos de hoje: eu tinha 4 anos, os meus pais saíam cedo para entrar às oito da manhã nos respectivos empregos e eu ficava sózinha até uma vizinha me ir buscar às 10 horas, para me levar à escola. Os meus pais ensinaram-me a não mexer no fogão e não ir à janela porque podia cair. Tudo bem! Levantava-me, vestia-me, bebia o leite que a minha mãe me deixava preparado para quando me levantasse e... até aos 6 anos, foi assim, nunca aconteceu nada, tornei-me apenas independente.
E muito poderia contar sobre estas "mariquices" actuais que só deixam as criancinhas dependentemente tótós!!

Anónimo disse...

Como digo cada vez mais, o século XXI foi tomado de assalto pelos idiotas. E idiotice gera regras sem sentido e regras sem sentido geram mais idiotice. Deve estar a fazer falta uma espécie de purga para erradicar estes idiotas todos de uma vez. Eu era o primeiro a pegar em armas para eliminar esses fundamentalistazinhos das regras.