O autocarro do amor

A polémica da campanha publicitária afixada em autocarros de Macau referente a uma clínica em Zhuhai que realiza abortos é interessante de seguir, apesar do seu carácter muito técnico e da habitual intriga burocrática do "diz-que-disse", envolvendo os Serviços de Saúde. A tal clínica cuja publicidade tem viajado nos autocarros da TCM acompanhada de duas meninas sorridentes (será por terem realizado um aborto?) é uma clínica de ginecologia que realiza "exames pré-Natal". Não sei se isto será um eufemismo para "aborto", pois trata-se apenas de fazer o diagnóstico da gravidez e saber de quantas semanas está a menina de esperanças. Sendo o aborto ilegal em Macau, excepto nos casos previstos na lei, o que será talvez mais chocante é identificar onde as meninas azaradas de Macau fazem os seus desmanchos: mesmo ali ao lado. Por 680 yuan. É ingenuidade pensar que as mulheres de Macau não fazem abortos, ou que o planeamento familiar é infalível, mas duvido que existam no território clínicas que se especializem na interrupção voluntária da gravidez. Na China o aborto é não só uma opção como é também muitas vezes encorajado, como forma de manter o controlo de natalidade. É uma questão sobretudo demográfica. Publicidade a mais ou a menos, é reconfortante saber que existe um lugar decente onde se podem arrancar fetos como quem arranca um dente. E é pior isso que o aborto nem sequer é um tema que se discuta em Macau. A não ser quando aparece sugerido no chassis dos autocarros, pelos vistos.