Macau vota Cavaco

Macau vai votar em Cavaco Silva, apesar do calibre dos apoiantes socialistas em Macau, que ontem (ou hoje? sei lá, não interessa) organizaram um jantar de convívio no Clube Militar (o sítio do costume). Macau, por uma razão que se prende mais com a superstição do que com a política, vota normalmente na direita. A comunidade macaense, super-religiosa e receosa de qualquer forma de socialismo - por razões históricas e geográficas - não se revê na alternativa oferecida pelo PS, e como José Rocha Dinis recordou, nem Mário Soares venceu as micro-presidenciais em Macau.

Não vou votar no Domingo, nunca votei para as presidenciais, e o único PR que me merece o mínimo de consideração e respeito é o General António Ramalho Eanes, que terminou o segundo mandato tinha eu apenas 13 anos. Cavaco Silva tem toda a razão quando diz que é importante para o país que seja eleito à primeira volta. Não estou a ver porque seria necessário procrastinar esta palhaçada por mais duas semanas. De todos os candidatos, Cavaco é quem tem de longe o maior pedigree - foi dez anos primeiro-ministro e é ainda o presidente em exercício. Manuel Alegre é conhecido, e os outros são...os "outros".

Tinha uma tia que adorava Cavaco Silva. A tia Conceição casou com o tio António quando este trabalhou no Algarve, e era uma espadaúda algarvia de Loulé. A sua cor política era do PSD, e juntando-se a isto o facto do líder do PSD nos anos 80 ser Cavaco Silva, gerou-se naquela casa uma espécie de culto da personalidade muito próprio. Numa das campanhas de Cavaco para as legislativas (1987?) usava uns aventais de plástico que largavam tinta laranja, pendurava bandeiras do PSD à porta de casa e tinha retratos do então primeiro-ministro na credência e nos móveis da casa. Cavaco era o outro homem da vida da minha tia Conceição. Coitado do meu tio António.

Se me encostassem uma pistola à cabeça, votaria em Cavaco Silva, sem dúvida. Não que ele seja um bom presidente, muito longe disso, mas porque as alternativas são terríveis. As piores de sempre. Só para que se tenha uma ideia de quão mau isto é, a eleição de Sampaio contra Cavaco em 1995 detinha o título de pior eleição presidencial de sempre - e Cavaco saíu derrotado. Hoje aparece como a única opção possível. Parece que a presidência da república é só um posto para quem não tem mesmo nada de melhor que fazer.