sexta-feira, 17 de junho de 2016

Sim, é uma doença mental

A tragédia abateu-se sobre a campanha do Brexit, o referendo que daqui a dez dias vai decidir se o Reino Unido permanece como membro da União Europeia, ou se sai, pura e simplesmente - daí o "Br" de "Britain", e "exit" de "saída". Eu vinha evitando falar deste assunto, e agora posso explicar a razão. É pena contudo que tenha sido necessário ser motivado a fazê-lo pela violência, pelo ódio e pelo medo. Eu sei que a minha opinião é apenas mais uma, mas não é paga, não custa um centavo a quem a lê, e sobretudo não obrigo ninguém a partilhar dela. Jo Cox, por seu lado, fazia questão que o maior número de pessoas partilhasse da sua, e isso veio a custar-lhe a vida. Não, não pensem que vou fazer o mesmo jogo baixo que venho aqui criticando nos últimos tempos, mesmo que tenha as cartas todas na mão. Não critico quem o faça, e mesmo assim não vou bater palmas ou fazer troça, falar de karma, coisa em que nem acredito sequer, e nem sequer de "justiça poética" - nem há nada remotamente semelhante ao ideal romântico que implica a poesia. Jo Cox morreu fazendo campanha pela permanência do Reino Unido na E.U. apenas e somente por uma questão temporal: a sua morte aconteceu numa data que coincide com o período de  campanha precedente do referendo, e da qual ela era interveniente activa. Apenas isto, e não se tratou aqui de nenhum martírio em nome de uma causa ou ideal, e não é sequer líquido que esta tragédia possa ter qualquer influência no resultado da consulta aos britânicos,  e segundo as últimas sondagens o Sim ao abandono do projecto comum europeu levava uma ligeira vantagem sobre a opção de continuar. Demasiado renhido para se poder fazer umaleitura dessas, ainda para mais tratando-sede uma sondagem. Por outro lado...

A morte da deputada é um bom pretexto para que se possa reflectir sobre um ou dois aspectos relacionados com a importante decisão que os britânicos vão ser chamados a fazer no próximo dia 27. Pessoalmente tanto me faz que fiquem ou saiam, e se formos fazer uma resenha do que tem sido a atitude dos ingleses em relação ao resto da Europa, da qual sempre se demarcaram recorrendo para isso à sua insularidade  (chamam-nos continentais inclusive), vemos que se calhar o melhor era aplicar a boa medida portuguesa do "quem está mal que se mude", ou neste caso "ninguém os obrigada a ficar". Mas isto é mais sério do que uma simples "birrinha", pois deixa o fantasma do fim da União no ar. Não se pense que os alemães e os franceses  estão nisto por "amor à camisola". Já nos anos 90 do século transacto ouvia da boca de alemães com quem tive a oportunidade de conversar um sem número de queixumes, e sempre com o mercado comum e a U.E. como o mau da fita. Escusado será dizer que a ideia de que se está melhor só é simetricamente oposto ao ideal da União, mas se um dos seus membros pode decidir unilateralmente se continua elemento de um grupo, e como tal a vontade do colectivo devia impor-se sobre o individual, porque não fazer o mesmo, e deixar a população decidir se quer quebrar um compromisso com o qual não tinha sido tida e achada na hora de o assumir? Pode parecer uma comparação algo crude, mas seria como um se um homem fosse desposar uma mulher divorciada e aceitasse ajudar a pagar dívidas do ex marido desta. O problema aqui nesta campanha do sim ao Brexit não tem tanto a ver com razões de natureza económica, mesmo que em mente esteja a convidativa possibilidade de se livrarem da imposição de quotas de produção impostas por um elemento externo à sua Economia  - os números que mais se têm trazido a debate são os da imigração. Se essa fosse a única ou a principal razão pela qual Jo Cox sucumbiu ao ataque levado a cabo contra ela, seria fácil identificar os autores morais dessa violência.


Ódio. O agora viúvo da deputada não podia ter escolhido uma palavra melhor e tiro-lhe aqui desde já o meu chapéu. A mesma palavra que foi repudiada por tantos quando usada para ajudar a entender o que aconteceu no passado fim de semana em Orlando, quando um homem armado de uma arma de assalto, coisa que aparentemente alguns consideram normal e até se recomenda, entra num bar e dispara indiscriminadamente sobre um grupo de outras pessoas sem motivo aparente, a não ser aquilo que lhe ia na cabeça naquele momento. Uma tragédia que nunca teria acontecido, ou pelo menos nas mesmas proporções e de forma tão violenta sem dar às vítimas qualquer possibilidade de reacção , se não lhe fosse permitido adquirir algo que só tem um uso: matar. A este ponto abstenho-me de fazer comparações imbecis entre rifles semi automáticos e utensílios de cozinha, ou entre a sinistralidade rodoviária e o número de vítimas do facilitismo no acesso a armas de fogo. Tudo isso meto  no mesmo saquinho onde meti essa arrebatadora estatística de que "as bicicletas mataram mais do que a Inquisição e entrego aos falidos de inteligência e amputados de bom senso para que se entretenham a brincar. Divirtam-se, meus lindinhos (sarcasmo). E então, agora que só ficamos nós, pessoas que não se perdem em futilidades, vamos a um último teste.



O autor do atentado foi identificado como sendo inglês, "britânico" (pode ser que tenha ficado algum lerdinho entre o grupo, por acidente), 52 anos. Mais alguma coisa? Ou melhor: mais alguma coisa que nós e não a justiça através dos trâmites normais possamos concluir ou deduzir em termos de motivação, causa ou até culpa? Muito bem, vou aqui explicar porque é que não vos dou esse prazer. O indivíduo gritou "Britain First", nome de um partido conotado com a extrema direita, antes de disparar a matar sobre a deputada trabalhista. O tal partido assume uma posição contrária à da vítima, que durante esta campanha queria explicar aos britânicos que a saída da União Europeia não iria resolver o "problema" da imigração, e caso conseguisse convencer isso lhes traria prejuízo. Contudo o partido nega qualquer ligação com o homicida, o que poderá convencer uns, enquanto outros podem ficar a torcer o nariz. E é por isto que a justiça popular não funciona; não podemos aplicar a mão pesada da justiça em alguém partindo de suposições, palpites, ou se não vamos com a sua cara. Temos que deixar essa decisão nas mãos de quem se preparou para a tomar, e nós, especialmente nos últimos tempos, andamos a sofrer de um défice de sensatez que nos inibe de tal ousadia. O máximo que posso dar ao "Britain First" em termos de credibilidade é acreditar quando dizem que lamentam o sucedido. Todos lamentamos, pelo menos as pessoas de bem e quanto ao que pensam, não sou dotado do poder da telepatia para me poder pronunciar. Se o indivíduo agiu a mando de alguém ou de um grupo, isso cabe à polícia determinar, e o facto dele ter referido o nome do tal partido não prova NADA! São palavras que qualquer pessoa dotada de voz e que as consiga pronunciar é capaz de dizer. Eu dizer que sou Rei da Patagónia não faz de mim nem sequer Arquiduque da Cascalheira, e exagerar nos meus dotes viris não me vai acrescentar mais um bocado (e nem é necessário, se estão mesmo interessados em saber). Assim pode ser que entendam finalmente o ridículo que constitui colocar sob suspeita 1200 milhões de pessoas cada vez que um tipo diz "Allahu Akbar" antes de cometer um crime, simplesmente porque partilha da mesma religião. Fosse a religião um orgão do corpo humano, e neste caso concreto o Islão um orgão defeituoso que invariavelmente ganhasse vontade própria e cometesse crimes, a conversa aí era outra. Mas já sei o que vão dizer os mais teimosos, e se me permitem "teimoso" aqui adquire um carácter asinino. Vamos lê ver, então.


Aqui "Loner" julgo que nos quer dar a entender que este indivíduo não pertencia a qualquer grupo extremista ou outro referenciado pelas autoridades na lista de organizações terroristas, e esta definição nunca ficará longe da verdade, mais detalhe ou menos detalhe. Já quanto ao "historial de doenças mentais", ou "problemas de saúde mental", que soa menos a uma psicopatia mas mais a um desastre gramatical, o caso muda de figura - "doença mental" pode querer dizer mil e uma coisas, com um grau de perigosidade que pode variar entre Joane, o parvo do vicentino  Auto da Barca do Inferno até ao professor Hannibal "the cannibal" Lector. Mas não voemos sobre um ninho de cucos, e vamos antes assumir que o indivíduo não constituía até ontem  um risco por aí além para a sociedade. Ainda não sei detalhes sobre a sua identidade, mas assumo que não terá saído de um buraco no chão nem caído do céu  (isso seria..."irregular", no mínimo), e deve ter família, ou senão algum tipo de acompanhamento e se não tiver nada disso pelo menos alguém lhe passa a roupa a ferro, que terá alguma noção de como é o indivíduo em termos de personalidade, se é de trato fácil ou se pelo contrário repete constantemente ameaças ao sistema, sei lá, uma coisa é certa : não é frequente que pegue numa pistola e numa arma branca e vá por aí a assassinar pessoas. Ou será temos que incluir nesta equação algum factor menos objectivo, ou mais obscuro, marginal, até? Quiçá se foi compelido a executar aquele acto de violência respondendo a algum tipo de sugestão, algo que lhe provocou um impulso, como se estivesse programado, ou lhe tenha sido feita alguma espécie de lavagem cerebral. E que tal mais uma pista?


Fosse eu um indivíduo desprovido de auto estima, e que não desse valor ao investimento que fiz em mim mesmo, procurando dotar-me de  valências de modo a não cair nessa tentação, e desatava agora aqui a disparatar: "Ah pois! Quando é com os outros são criminosos e toca a dar-lhes um pontapé na bunda e dá de frosques que já vais tarde, mas este não coitadinho que é doente né? Pqp mas é pá ! Morto dez vezes ainda era pouco!". Se isto vos parece familiar, e devem identificar o estilo recorrente em toda essa porcaria que vêem por aí na net, com o senão dos personagens estarem trocados, então parece que está identificada a tal "doença mental". E vou já antecipadamente deixar bem claro que quaisquer teorias da conspiração no sentido de "fazer parecer que foi assim mas na verdade foi ao contrário" são um sintoma mais que evidente de que estamos na presença de um caso perdido - um doente incurável que necessita ficar detido por constituir um perigo para os outros e para si mesmo. E se as pessoas que estão no meio deste "encantador" choque de civilizações - e penso que ainda são uma maioria respeitável, e que inclui órgãos de soberania e forças armadas - decidissem resolver o problema desta maneira : fora com o Islão, e cana ou manicómio para estes tipos, conforme o caso. Que tal? Epá eu ia achar o máximo, ia ser um sossego. Nunca pensei dizer isto, mas tenho uma lista de potenciais indiciados numa porrada de crimes que é só pedir e é para ontem - vou pôr o "ação" na palavra "delação"! Ora bem, antes da conclusão vamos num tom mais descontraído ver se há reacções a esta lamentável tragédia da parte de alguns islamófobos declarados que são já conhecidos aqui da casa.


E porque é que isto já nem me surpreende? Bom, por um lado até tem a sua vantagem: enquanto uiva de cio na esperança que alguém lhe venha abrir ao meio até ficar como um frango da Guia, não fica aí a poluir as redes sociais com mais bedum literário.

Este ainda não apanhou o gosto do seu amiguinho ali de cima, mas está disposto a praticar até chegar ao mesmo patamar, e quiçá superá-lo. Sabem que eu começo a ficar convencido que este tipo é mesmo quem afirma, e que obteve um grau de mestre em História Contemporânea? Nota-se que é uma pessoa que se esmera em alcançar as metas a que se propõe e só é pena mesmo que a mais recente seja a idiotice. Paradoxo: o título daquele post.


Olha esta, depois de andar a choramingar lágrimas de crocodilo pelos gays em Orlando e o casal de polícias franceses, este novo episódio já não lhe interessa assim tanto - também se fosse assinalar todos os crimes desta natureza não lhe sobrava tempo para a xenofobia "Hardcore", onde se tornou exímia na categoria de Islamófobia, ao ponto de se falar da possibilidade de se atribuir o seu nome ao estilo singular de preconceito que inaugurou. Pessoalmente considero que aquela aparência de ogre contribuiu em grande parte para a descoberta da sua verdadeira vocação. Quanto à pessoa com quem resolveu embirrar desta vez, não pensem que é por acaso - lá ia a Maria Vieira investir a sua peçonha assim sem mais nem menos? A  taróloga vendeu mais da sua banha da cobra do que a Maria Vieira aqueles livros de viagens merdosos onde conta por onde andou a ostentar a banha. Estão a ver?  Se ela soubesse representar um bocadinho que fosse ainda enganava alguém com uma idade mental superior a sete anos.


E nem de propósito escolhi este artista aqui, um de muitos que se dedica a remexer o esterco,  assegurando assim que o ar que se respira permanece ao nível da indução do vómito. Daquilo que ele desconfia, já nós temos tanta certeza que nem o benefício da dúvida lhe podemos dar. Quando todas as evidências apontam para que o acto criminoso levado ontem a cabo em Londres tenha sido da autoria de um indivíduo como ele, mas numa fase mais adiantada de decomposição da dignidade e do amor próprio que levou a que lhe  "saltasse a tampa", insiste na mesma ilusão delirante. Apenas em poucas linhas fica patente o quadro clínico: estado dissociativo que o leva a urdir teorias da conspiração onde pontifica uma tal de Nova Ordem Mundial, imagina genocídios onde não se extermina ninguém, re-reconquistas, com uma civilização a querer ajustar contas de mais de 500 anos com outra, e com a conivência do Papa (?) e em conluio dos média, e tudo fundamentado em escrituras de há mais de mil anos, e nas quais se a ambiguidade não servir os seus fins, "inventa-se um bocadinho", pois afinal "é em nome de um bem maior". Qual, nem imagino, mas de "bem" terá pouco ou nada para eles, e pior do que isso, para nós, que não pedimos nada da lista e ainda nos arriscamos a ter que pagar a conta deste maranhal chalupa. Que "causa" pode ter valor se requer mentiras onde se sustentar? E a que ponto chegámos nós, senhores, com o desprezo pelo "politicamente correcto", não para que "se digam as verdades", como alguns protelam desonestamente, mas sim para que se possa fomentar o ódio com "subtilezas" trazidas por "atalhos"  e que antes só podiam merecer a censura e o repúdio das pessoas de bem. Olhem para isto:


Este tipo de "prosa" começa a ser não só cada vez mais tolerada, como ainda há quem considere "de grande eloquência". Se o vosso filho chegar a casa com um zero na composição por ter escrito uma barbaridade desta estirpe, fazem o quê? Vão à escola dar com uma barra de ferro na cabeça do professor? Este infeliz incidente, que espero que pelo menos abra os olhos às pessoas, pelo menos algumas, fez-me adiar um post que estava a preparar e quem nem de propósito inclui exemplos de comportamentos tipo de pessoas como esta, e há mesmo um caso em que consegui levar um indivíduo a um estado semelhante ao de possessão demoníaca, bastando adivinhar o que ele ia escrever a seguir - e qualquer pessoa consegue isto, basta tomar atenção. Esta gente está toda numa transe. Não se deixem enganar: aquilo que eles dizem conseguir ver a mais que vocês NÃO EXISTE! Se depois de tudo isto ainda restarem dúvidas de que estamos perante um transtorno psiquiátrico anteriormente referenciado (xenofobia), e que agora assume contornos de psicose (Islamófobia), peço só que usem o raciocínio lógico e pensem nisto que  vos vou dizer: se estivéssemos REALMENTE na iminência de uma catástrofe das dimensões que eles descrevem, e à mercê de um inimigo poderoso que já se encontra entre nós e está prestes a multiplicar o seu contingente, NÃO ACHAM QUE JÁ HÁ MUITO QUE LHES TINHAM CORTADO O PIO? E se vos começarem a chamar nomes, alguns de coisas que vocês nem sabiam ou tinham ouvido falar sequer, só por duvidarem daquelas baboseiras que repetem dia após dia, meses a fio, que falam de uma "desgraça" que está para vir "já já, se não fizerem alguma coisa", deixem-nos falar! Que se lixe, porra, não caiam é nessa conversa, senão quando derem por vós estão a chamar aos vossos amigos "esquerdalhetas" e "neocons" e eles a virarem-vos as costas enquanto pensam "mais um". Até chegar a vez deles, também. 

Desculpem ter que "gritar", e acreditem que me custa adoptar esta postura que até eu consideraria de arrogante vista de fora. Mas custa muito mais olhar para o que se tem dito e escrito sobre toda esta dramática sequência de eventos, que começou em 2011 com o conflito na Síria e o surgimento do Estado Islâmico e que "derrapou" completamente no Verão do ano passado com a crise dos refugiados, ou enfrentar o olhar desconfiado de amigos e conhecidos quando lhes tento chamar de volta à razão, interpretando o meu gesto como "cúmplice" de algo que nem faço ideia que seja, mas que lhes tentaram impingir, e em alguns casos com sucesso, e tudo porquê? Mesmo para a tal "hipnose" tiveram que recorrer...


...a uma fotografia tirada em 1991, onde se vêem 20 mil albaneses no porto do Durres a tentar embarcar para Itália, no navio La Vlore. Pesquisem e vão ver que não vos estou a mentir. Quem acham que tinha algum interesse em assustar os europeus com isto, alegando que se tratavam de muçulmanos radicais preparados para "invadir" a Europa? Isto que vos deixei aqui agora, e com a promessa de que o mais tardar amanhã trago-vos o tal post que ficou adiado por causa deste, não é a favor ou contra o Brexit - que coisa, para isso fazia-o em inglês. Só quero que entendam que estes tipos que fomentam este ódio, o tal de que o agora viúvo de Jo Cox falou, demonstrando sobriedade mesmo numa hora em que a raiva lhe podia ter turvado os sentidos. Pensem nisto, e fiquem sempre atentos. Até já.


1 comentário:

Paulo Reis disse...

A polícia inglesa não confirma que o assassino tenha gritado "Britain First"...