Ainda falando do Europeu de futebol que arranca esta sexta-feira em França, não sei o que estava a pensar a Federação Portuguesa de Futebol quando lançou este novo slogan de apoio à selecção. Antes de continuar, isto não tem nada a ver com o facto de muitas pessoas terem optado por acrescentar a imagem ao seu perfil no Facebook - cada um faz o que entender, nada de pessoal. O que me aborrece é por um lado a falta de imaginação patenteada nesta empreitada, e pior do que isso, a sua falácia: desde quando é que somos "11 milhões"? Pode parecer uma preciosidade, mas aqui o Diabo está nos detalhes. Sempre ouvi dizer, desde pequeno, que éramos dez milhões, arredondando para cima dos 9 milhões e etcetera, e surpreendentemente o último censos em 2011 revelou que a população de Portugal continental e regiões autónomas era de 10,5 milhões - e atenção que aqui inclui-se o número de estrangeiros a residir no nosso país, que não será tão "insignificante" quanto isso. Actualmente e segundo uma estimativa datada de 2014, seremos um pouco menos que dez milhões e meio, entre tugas e não tugas. Até consigo imaginar o que terá sido a sessão de "brainstorming" para o slogan:
- "Epá, já sei! Se os jogadores em campo são 11, que tal "Não somos onze, somos onze milhões"? Onze milhões de portugueses, todos os portugueses ali com a selecção...que tal?"
- "Hmm realmente é uma ideia genial, mas não somos só uns dez milhões, ou nem isso?"
- "Epá dez, onze, qual é a diferença? Ninguém vai ligar".
Pois é, pá, um milhão a mais ou a menos, "kaganisso", à boa maneira portuguesa com certeza. O problema é que...
...na hora de "kagarnisso", não falta quem ande com o ventre preso (peço desculpa pela imagem, mas assim de repente foi o melhor que consegui, e ao contrário dos tipos da FPF ninguém me pagou para fazer melhor). Ao melhor jeito do "ou comem todos ou não há nada para ninguém", aparece o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, a lembrar que afinal "existem portugueses a viver fora de Portugal", e aparentemente não tão poucos quanto isso. "Epá pois é, esqueci-me!" terá dito o criativo cretino que pensou (mal) que "para quem é, bacalhau basta", e toca de meter o Governo a pressionar a FPF para alterar o "slogan" de 11 milhões para 15 milhões. E mais: segundo José Luís Carneiro, o conceito original "gerou preocupação, tristeza, e alguma indignação" entre os portugueses a residir fora de Portugal! Bolas, e eu que sempre pensei que os nossos emigrantes tinham mais que fazer do que se "preocuparem" com estas menoridades, ao ponto de ficarem tristes e indignados. Falo por mim, que estou aqui em Macau, e tudo o que penso é que a ideia já nasceu torta, e não me surpreende nada que vá por aí fora na auto-estrada da palermice até ao deboche final. E que tal resolver o problema de maneira a que ninguém fique tristinho? Contam-se as cabeças todas, muda-se o slogan para "Não somos 11, somos 15,097,338", e escreve-se o nome de cada um dos portugueses, que tal? Só que terá que ser em letras muito, mas mesmo muito pequeninas, para caberem todos no cachecol, que mesmo assim terá o tamanho de vinte tapetes de Arraiolos. Ai Portugal, e os seus milhões de pequenos grandes problemas.
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