domingo, 19 de junho de 2016

E que tal ires mas é trabalhar?



Ora aí está, muito bem dito, Dani Flores. Eu não tenho de pessoal contra humor negro, de mau gosto, ofensivo, ou outro tipo qualquer que "desafie os limites", porque para mim é olho por olho, dente por dente, desde que seja dentro da legalidade. Quem me conhece já deve ter percebido que não sou de me deixar ficar, e se eu não riposto a um desagravo dirigido à minha pessoa, então é sinal que já não me vai caber a mim resolver esse problema - e sim, passa a ser um problema. E não vou dar a ninguém o gosto de reagir, mostrar que estou insultado, indignado, pedir que se retraiam e peçam desculpa, nada: ou respondo à letra, ou não respondo. Mas voltando a isso de humor, como já deixei assente, não tenho qualquer tipo de tabu, mas é claro que compreendo quem tenha; minorias, homossexuais, deficientes e as suas famílias, bem como as famílias das vítimas de acidentes e tragédias, quer naturais, quer humanas, e mesmo quem perdeu um ente querido por causas naturais, e pouco importa se tinha 50,80 ou 100 anos, tem o direito de ficar ofendido com qualquer referência menos indecorosa feita ao "de cujus", pode ficar indignada, pode recorrer aos meios legais ao seu dispor caso ache que existe motivo para tal, tudo bem - não me peça é para partilhar da sua posição. E recordo que estou a falar apenas e somente no contexto do HUMOR. Não aprovo que se insulte a memória de ninguém de forma gratuita, e olho quase com o mesmo desprezo para quem aproveita para cometer desabafos que se calhar devia ter dirigido a essa pessoa em vida, ou em alternativa ficar calado. Só HUMOR, repito, e neste caso ao nível profissional, dirigido ao grande público, e que pode muito bem "saltar" à frente da vista de qualquer um, pois o médio usado foi a internet, e mais precisamente as redes sociais.


E isto não é humor. Não estou ofendido com esta frase - não anedota ou piada - mas entendo que haja quem fique mais do que isso. O contexto é o massacre cometido no último fim-de-semana numa discoteca "gay" em Orlando, na Flórida, o média é o Twitter, e o autor é Rui Sinel de Cordes, de quem já falei aqui de forma nada abonatória, e que agora vem confirmar os meus piores receios. Pior, pois como vão ver mais à frente, este "artista" não tem sequer a dignidade para assumir o que diz, e ainda tenta passar atestados de burrice a toda a gente. Este deve ser um daqueles tipos que cresceu rodeado de gente mais imbecil que ele, e decidiu um dia enfrentar o mundo com a perspectiva de que era todo igual à sua rua. Antes de passar à frente, vou deixar bem claro mais uma vez que isto NÃO me ofende, mas se o tipo que produziu este comentário diz que é "humor", e é disso que ele vive, então é uma fraude. E parece que desta vez não resta dúvida de que é mesmo assim:


Seleccionei apenas alguns entre as centenas de comentários, na esmagadora maioria negativos. Talvez não pelos mesmos motivos que os meus, mas pelo menos vejo ali alguns que dão força à ideia de que a frase deste indivíduo que se diz "humorista" peca principalmente por não ter nada que a identifique como "humor". Encontrei ainda alguns outros, raros, que diziam coisas do género "quem não gosta coma menos", e só posso entender que partiram de espertalhões que não sabem aquilo que dizem. Como se sabe, estas coisas não se conseguem evitar tão facilmente quanto isso nas redes sociais, pois mesmo que evitemos, há sempre uma pessoa que partilha, e só por acaso é que isso não acontece - é impossível que toda a gente a que estamos ligados nas redes sociais tenha exactamente o mesmo gosto que nós. Outros ainda falavam de "liberdade de expressão", e aqui é que reside um problema que tem começado a ganhar contornos surreais: liberdade de expressão não é dizer tudo o que nos dá na gana. Essa agora, e ainda por cima com aquela nova fórmula do "politicamente INcorrecto", as coisas ficaram completamente do avesso, e já nem falo dos badamecos que deviam perder os dedos todos das mãos para não escreverem a trampa que escrevem, e quando se vêem com o cu apertado acenam com "liberdade de expressão". Já vi coisas do tipo "é um facto científico comprovado que os negros têm um QI inferior aos brancos" serem justificadas ao abrigo da "liberdade de expressão". Tretas! Se é um "facto científico comprovado", faz favor de mostrar essa "certeza", sua besta - e sim, aqui "besta" passa a ser um facto comprovado que nem carece de fundamentação científica. Mas esta não é a primeira vez que este personagem se sai com uma destas:


Estão a ver onde quero chegar? Se este palerma quer fazer isto passar como "humor negro", então é duplamente palerma. O tal "humor negro" é, vá lá, uma "arte" que requer um certo talento que eu chamaria de "inato" - em suma, é preciso ser bastante cínico, com uma dose de filha-da-putice. Isto que está ali é parvo, para não lhe chamar outra coisa. Mas que imagem é aquela? Quem pensou em semelhante coisa, pelo Deus dos agnósticos? Só posso depreender disto que os pais do Rui Sinel Cordes tinham um boxer, e já não estranharam a retardação do gajo, bolas, isto é que se chama em inglês de "too far fetched", ou numa tradução livre, "muito forçado". E note-se que nesta "gaffe" mais recente encontramos a mesma fórmula, e vamos pegar naquilo que ali está, esquecendo por um instante o impacto que teve ou a intenção do autor (?). Portanto "Que seja uma lição para os homossexuais" é a "premise", e uma vez que foi deixado no Twitter, onde só cabem 140 caracteres, a "punchline" deve vir logo a seguir, pois não há espaço para prevenir mal-entendidos, e que temos então: "quando vos perguntam se vos podem abrir um buraco novo, nem sempre devem responder sim". Penso que nem há aqui lugar para os tais "mal-entendidos" a que me referi um pouco atrás: está tudo MAL! Mal estruturado, mal elaborado, mal pensado, mal entregue (até abreviou algumas palavras para poder caber tudo) e de muito mau gosto, claro. Porque:

1) Ninguém "perguntou" nada às vítimas do atentado na discoteca em Orlando;

2) Qual "buraco novo"? Onde é que o acto propriamente dito, assumindo que a ideia é mesmo essa, deixa um "buraco novo"? 

3) Como vimos no números anteriores nada daquilo faz sentido, como é que se ia responder "sim"?

4) E o que quer dizer "nem sempre"? Alguém alguma vez abriu "um buraco novo" nestas circunstâncias? (pensando bem, ele podia tentar explicar esta, para ver o que saía dali).

Aí está: sei que é mais do que esta parvoíce merece, mas pode ser que o tipo veja isto e PERCEBA FINALMENTE o que estava errado com o que ele chama de "humor". Se formos traduzir esta piada para inglês, a expressão "tear you a new hole", ou "fazer-te um buraco" pode aplicar-se, mas...em Portugal? Ó estúpido fode-a-mãe, que buraco do cu! O problema de muitos humoristas da nova geração é exactamente este; cresceram com os "Friends" e "Seinfelds" e quejandos, e depois basta alguém dizer-lhes que têm piada uma vez e pensam logo "eu também posso fazer isto". Não, não podes, porque já está feito: podes IMITAR, e se há coisa que não se consegue traduzir é o sentido de humor. Felizmente para umas coisas e infelizmente para outras, temos uma mentalidade diferente da dos americanos. Neste caso em particular não sei se isso é bom ou não, mas quando assisto a comédia portuguesa não espero ver o mesmo que numa comédia americana - essas já vêm com legendas, não é necessário fazer uma versão em português.



 E sim, claro que choveram insultos, e aquilo que habitualmente se chamam "ameaças de morte", mas que não passam de desabafos - conta como insultos, também. E aqui não é difícil adivinhar quem "desabafou" ou simplesmente recorreu directamente ao insulto, mas quem ficou ofendido foi...Rui Sinel de Cordes, que deixou uma mensagem na sua página pessoal, que li e mais uma vez dei por mim a abanar a cabeça em sinal de reprovação. Este tipo é completamente desfasado, e nem devia sequer PENSAR em fazer o que faz como opção de carreira. Para começar não sei a quem a que ele se está a dirigir, e se calhar era simpático da sua parte explicar isso antes do resto do texto. Eu não sou um puritano, como vocês sabem, respeito quem seja, mas em qualquer dos casos não se vai deixar uma mensagem supostamente dirigida ao grande público e onde é suposto estar a falar a sério com "foram-se", "carvalhos" e "fdp" metidos no meio, como se estivesse a contar ao melhor amigo que a namorada lhe tinha dado cornos - ou será também "humor negro"? Repito: não sou puritano,  mas quem não me conhece não sabe disso, e eu levaria a mal se fosse ler uma carta ou um e-mail dirigido à minha pessoa contendo aquele tipo de linguagem, e neste caso sabendo que parte de alguém urbano e educado - não digo "inteligente" porque obviamente que não o é. Peguemos numa comparação que faz a meio da carta entre aquela frase que deixou indignados os homossexuais (e com razão, enquanto que falando por mim, penso que um não-homossexual deveria sentir pena do gajo) com as rotinas dos humoristas do programa "Levanta-te e ri", que "gozavam com o José Castelo-Branco". Que diabo, então compara-se o José Castelo-Branco aos homossexuais no seu todo?  O José Castelo-Branco é um personagem completamente à parte. Só a polícia ou quem sabe a magistratura se referiria a JCB como "homossexual", e ninguém acha divertido parodiá-lo por ele ser homossexual, mas antes devido à sua singularidade. Mas o pior de tudo é o facto deste gajo ser um troca-tintas, que nem firmeza de carácter consegue demonstrar:


Tu nunca o quê? Exacto, e naquela capa de revista que vimos em cima no parágrafo anterior é a mesma coisa: a única interpretação que se pode dar ao texto é de que vai mesmo deixar o Facebook. Isto nem chega a ser dar o dito por não dito, ou sequer um caso de "virar a casaca": é gozar com a cara das pessoas. Podia dizer que "pensou melhor", ou que "tomou uma decisão de cabeça quente" (ou "perdida", que aparentemente é o seu estado normal), mas não - preferiu voltar a insultar a inteligência das pessoas, e da mesma forma que havia feito há uns meses, da primeira vez que falei dele:


Aí está, e para quem não se deu ao trabalho de recordar o incidente, resume-se de uma forma muito simples: a actriz Sofia Ribeiro foi diagnosticada com cancro, foi fazer um vídeo onde aparece a abraçar amigos e no fim raspa a cabeça, e aparentemente tudo com fins comerciais - desconheço se isto acabou por se confirmar ou não, mas o cancro é dela, faz o que quiser com ele. Passados alguns dias este triste faz um comentário a esse respeito no Facebook, gera uma controvérsia onde fica mal visto, e depois arma-se em parvo, como se pode ver ali naquele cabeçalho. Curiosamente quando escrevi sobre este tema, disse isto:

E eu rio-me do ridículo que representas, e não do que tu chamas de "humor corrosivo". Mais uma vez concretizo o que tu deixas no ar: o meu pai morreu de cancro com 51 anos. Pronto, isto só a mim e aos meus diz respeito, mas darei seguimento à minha argumentação dizendo que sei o que EU senti, mas não consigo imaginar como ELE se sentia, e talvez por isso não consiga achar piada a graçolas inseridas nesse estilo, capisce? Estás a perceber ou é preciso fazer um desenho, ó tótó?

Isto a propósito dele ter dito que "sabia o que era viver a doença através de familiares e amigos", e é lógico que aquilo que eu queria dizer era que com toda a certeza não sabia o que sentia a própria Sofia Salgado, que foi quem ele resolveu criticar, recorrendo àquela "boca" parva do "Cancro VIP". Agora na carta que deixou no seu website, menciona outra vez a mesma coisa:

Estes hipócritas, são os mesmos que sempre que faço uma piada com Cancro, me dizem que eu só brinco porque nunca sofri na pele e o que merecia era que a minha família toda morresse com essa doença. Imbecis que desconhecem que depois de uma mãe, avó e tio com Cancro, a mim ninguém me ensina como me movimentar nos corredores do IPO.
Pronto, não dá. Nem fazendo um desenho. Mas uma coisa que me chamou a atenção naquela (extensiva) carta foi dizer que "anda nisto há 11 anos". Nunca tinha ouvido falar dele antes do incidente de Março com a Sofia Salgado, mas vamos lá ver o que é que ele tem andado a fazer, afinal.





Viram? Bestial, e esses são apenas dois exemplos. Outros incluem um especial de Natal na SIC Radical que fez dele o primeiro humorista a ser multado pela ERC, e entre "as piadas" destacava-se esta:


Ah Síndroma de Down? LOOL! Não, a sério, outra vez: não tens piada nenhuma, meu.  E vou terminar como comecei, com uma sugestão que não vais estranhar, das vezes que provavelmente já te disseram a mesma coisa:



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