sexta-feira, 10 de junho de 2016

Shqiptare no país dos chocolates


Arrancou o Euro 2016, e neste momento a França, equipa da casa, vai vencendo a Roménia por uma bola a zero no jogo de abertura do Grupo A, numa partida que se pode descrever como tudo menos emocionante. Mas é amanhã que se realiza em Lens (lê-se "lã") o jogo mais interessante por motivos extra-futebol deste grupo e quem sabe de toda esta fase a pontuar: o Albânia-Suíça. Isto porque alguns jogadores de ambos os lados da contenda se conhecem bem, em alguns casos demasiado bem. A Albânia orientada já há cinco anos pelo italiano Gianni De Basi, qualificou-se pela primeira vez para uma fase final de um grande torneio internacional, e apesar do campeonato albanês ser considerado um dos menos competitivos da Europa, o equilíbrio na selecção deve-se sobretudo à chamada de jogadores etnicamente albaneses, ou seja, nascidos fora da Albânia, mas com ascendência "shqiptar" - santinho! Não, "shqiptar" é o nome com que os albaneses são conhecidos inter-pares. Se encontrar alguém que suspeita ser albanês, pode abordá-lo e dizer "shqiptar?". Se ele não for é capaz de fazer um sinal com a cabeça e afastar-se (ou dizer-lhe "santinho"), mas se for albanês é possível que lhe responda afirmativamente, seguido de um discurso do qual não entenderá uma única palavra. Assim entre os jogadores albaneses nascidos na Albânia, que serão a maioria, mas sem "quorum", temos outros nascidos na ex-república jugoslava do Kosovo, um na Macedónia, outro na Alemanha, mas sobretudo naturais da Suíça - seis deles! Aqui está a razão do meu súbito estado de basbaque: suíços que vão defrontar a Suíça! E a saber: os defesas Arlind Ajeti e Freddie Veseli, os médios Migjen Basha, Amir Abrashi e Shkelzen Gashi, e o médio-ofensivo Taulant Xhaka, que tem uma particularidade muito especial, que vamos ver já a seguir.


E aqui está: estes são Taulant e Granit Xhaqa, e como já podem ter percebido, são irmãos. Taulant, à esquerda, tem 25 anos, e como também já vimos, representa a Albânia, e a nível de clubes o Basel, da cidade suíça onde nasceu, filho de imigrantes kosovares-albaneses. Ao lado está Granit, que apesar de mais alto é dois anos mais novo, e apesar de se ter formado igualmente nas escolas do Basel, foi para a Alemanha ainda à beira de completar 20 anos, para representar o Borussia Moenchengladbach, onde se destacou na posição de médio-centro, ao ponto do Arsenal (o de Inglaterra, para quem não deduziu logo) ter desembolsado 30 milhões de libras (!) este Verão para poder contar com os seus serviços para a próxima época - há quem o compare a Andrea Pirlo em termos de técnica, de passe, e claro, pela posição que ocupa no terreno de jogo, idêntica à do italiano. Amanhã vão estar ambos em campo, cada um pelo "seu" país; Granit obteve a sua primeira internacionalização "A" pela Suíça, ainda com 19 anos, enquanto Taulant passou por todas as categorias das selecções jovens, mas em 2014 optou por representar o país dos seus pais. E isto não é tudo...


...pois além de Granit Xhaqa, há mais 6 (seis) jogadores de etnia albanesa nos 23 escolhidos por Vladimir Petkovic, técnico bósnio-croata (fascinante) da Suíça, a saber, os médios Valon Behrami, Dennis Zakaria, Blerim Dzemaili e a grande estrela da equipa para além do já referido Granit, Xherdan Shaqiri, que alinha nos ingleses do Stoke City, depois de passagens pelo Bayern de Munique e Inter de Milão, e os avançados Shani Tarashaj e Admir Mehmedi. Temos portanto um total de 13 jogadores nas duas selecções que poderiam alinhar por qualquer uma delas. Amanhã em Lens é possível que se oiça falar mais albanês do que...ah, esqueci-me, não existe um idioma "suíço" (não, o romanche não conta, pois é uma espécie de mirandês lá do sítio). Até porque os helvéticos terão a selecção mais multicultural do torneio, e de longe; temos jogadores de ascendência congolesa, outros turca, camaronesa, chilena, marfinense, e até a lusofonia está representada pelo médio Gélson Fernandes, nascido na cidade da Praia, Cabo Verde, de onde emigrou com os pais para Sion, tinha apenas 5 anos. Ah pois, e há lá uns suíços e coiso, mas dá que pensar: como seria a selecção da Suíça sem a seu multi-culturalismo?


Hmm...possivelmente. Alguém duvida?


1 comentário:

Anónimo disse...

A suiça tem a seleçao menos nacional dentre as que disputam o campeonato Europeu das nações .