Jurei que não comentava até escutar na íntegra a entrevista de José Pereira Coutinho aos microfones da Rádio Macau, transmitida este Sábado (que pode ouvir aqui), e onde o deputado e presidente da ATFPM "partiu a loiça toda". E agora vou ser sincero (aliás, como sempre, para desgosto de quem considera isso "despeitoso"): não esperava grande coisa, especialmente quando logo na primeira pergunta feita pelo jornalista Gilberto Lopes sobre a sua opinião quanto ao desempenho do Chefe do Executivo, Coutinho responde "Positivo, mas Não Satisfaz". Vamos lá ver, não sei se o leitor frequentou o mesmo sistema de ensino que eu, mas pelo menos no meu "Não Satisfaz" era uma nota negativa. Por isso é que não...satisfaz. Não se fica satisfeito, enfim, é como ir a um banquete e sair de lá dizendo "Comi que nem uma besta, mas estou cá com uma fome...". Julguei que íamos ter mais uma sessão de rendilhados, de meias-palavras, e tudo o mais que normalmente se assiste quando se quer dizer o que pensa ao mesmo tempo que se tem amor ao pilim que cai na conta no dia 16 de cada mês. Mas com Coutinho parece não existir esse problema, e depois de "aquecer as turbinas", foi por ali fora, com a frontalidade com que já nos habituou. Falou bem umas vezes, mais ou menos neste ou naquele aspecto, assim-assim aqui e ali, patati, patatá... Bom, vamos ver isto ponto por ponto.
Em relação ao desempenho dos secretários, que analisou caso a caso, pode-se dizer que Gilberto Lopes foi buscar primeiro o fruto mais apetecido: a área da Administração e Justiça. Tempos ouve em que bastava mencionar esta pasta para Coutinho entrar em ebulição - "O que pensa da decisão da secretária para a Adm..." - "Má! Péssima! Devia ter vergonha!". Ficou célebre a animosidade entre o deputado e Florinda Chan, com esta a corresponder, rejeitando a via da diplomacia para responder, diga-se em abono da verdade. Fosse aquilo uma telenovela e o público ainda pensava que "se amavam muito". Mas parece que afinal não, e com a saída de Florinda, chegou Sónia Chan, que segundo Coutinho "não terá resolvido ainda" os problemas que persistem na sua área. Ora bem, aqui falo com conhecimento de causa, e deixem-me que vos diga o seguinte: se há que mata, há logo a seguir muitos que se dispõem a esfolar. O deputado diz que continua a "receber queixas de funcionários" no seu gabinete - não entendi se o de deputado, da ATFPM, ou se os dois são a mesma coisa.
Uff...podia cometer aqui um rol de inconfidências, mas para quê enumerar aquilo que toda a gente sabe? Aposto que as queixas que o deputado atende prendem-se mais com questões do foro pessoal, e não relacionadas com o funcionamento do serviço propriamente dito, e partem sobretudo de camaradas a quem a vida anda a correr menos bem, caso contrário não lhe batiam à porta. O problema até podia ser do sistema de incentivos, mas e depois, se há aqueles que ainda piam, mas depois de obter um "excelente" na classificação transformam-se em patos mudos? Se for preciso até se afastam daqueles que barafustam, não vá ficar ele prejudicado, que é tão "trabalhadeiro", e já agora porque não tornar-se delator por encomenda? Afinal é em nome "do bom funcionamento do serviço", que sem ele nem a porta abria às nove da manhã. E depois só perpetuar este bailarico, dar boa nota sempre aos mesmos e a outros não, que assim temos bufos que se os deixarem ficam ali até aos 80 anos, e outros "inúteis" que fazem contagem decrescente para irem à vida. Tudo depende portanto do que cada um tem que aturar, e o estômago que tem para engolir um ou outro ocasional sapinho. E pensa que a culpa é das chefias, ou apenas delas? Chefias há uma ou duas, e não são omniscientes nem omnipresentes. Há fdps em toda a parte, e com os funcionários não é muito diferente, e os restantes problemas orbitam todos à volta do mesmo. Estamos conversados, e quanto às leis e aos tribunais, bah.
De resto, o secretário para a Economia e Finanças "não merece nota 5", enquanto Wong Sio Chak, detentor da pasta da Segurança, "faz um trabalho positivo MAS", e este "mas" tem a ver com o apoio da China nesta área, onde "não se brinca". Ora claro, lá está: pouco importa que as coisas estejam bem ou mal feitas, que isso depois logo se vê - interessa é que andem todos "na linha". Depois elege Raimundo do Rosário como "o melhor", e diz que "motivou os funcionários das Obras Públicas", que de facto bem precisavam. Não posso comentar, e não me resta confiar em Coutinho quando tece loas ao secretário quanto à sua competência. Ele conhece-o, aparentemente bem, lá deve saber do que fala. O mesmo não se pode dizer de Alexis Tam, mas aqui parece que o problema de Coutinho tem ainda a ver com outra das suas velhas "rivalidades": o director dos Serviços de Saúde. Pelo menos na avaliação que faz de Alexis Tam, só o ouvi falar dessa pasta. O que diz também é que "está mal assessorado", que é o que diz também do Chefe do Executivo. Ah, e falando então do nosso CE, que tem estado no centro de tanta polémica, e tão recentemente quanto o último chequezito de 100 milhões que voou para o lado de lá?
De Chui Sai On o deputado diz "ser óptima pessoa, de grande coração", mas "sem perfil para ser CE". Hmm, sabem que imagem me faz isto lembrar? Recordam-se da série "Duarte & Cia.", aquela produção modesta da RTP que ganhou estatuto de culto? Numa das séries o personagem de Lúcifer, um mafioso "à portuguesa" interpretado por Guilherme Filipe, tinha um sobrinho de quem queria fazer "gangster", mas este preferia seguir a carreira de dançarino. É isto mais ou menos que o nosso CE dá a entender, quem tem "dado o corpo às balas", quando podia muito bem ser outro a fazê-lo, especialmente em matérias em que, muito sinceramente, se tem colocado "a jeito". E por isso, refere Coutinho, "os democratas aproveitam-se", e é o mote para falar da Assembleia Legislativa, onde "os mesmos de sempre" fazem barulho, e os outros "andam lá por interesse". Achei piada à referência que faz a Fong Chi Keong, que refere por "canhão Fong". Mais à frente na entrevista volta a falar da AL, vaticinando que o actual presidente da mesma, Ho Iat Seng, será "o próximo Chefe do Executivo". Será? Bem, este é um dos nomes que se adiantam quando chega a hora de se especular sobre quem se sentará em Santa Sancha a seguir, e com Ho Chio Meng fora da corrida para um cargo que ninguém mais quer, bem, que outra resposta daria Coutinho a Gilberto Lopes quando este lhe colocou a questão? A razão que leva Coutinho a pensar desta forma é que me surpreende: "Ho Iat Seng parece uma máquina, deixa toda a gente falar". Eu responderia "porque não há mais ninguém". Ninguém...com perfil?!? Não, ninguém ninguém. Ponto.
Mas em cima da mesa esteve ainda a revisão da Lei Eleitoral, e foi aqui que o "vulcão Coutinho" entrou em erupção. Para ele "devia ser apenas alterada no que toca ao número de mandatos eleitos pela via directa", e que "foi criado um artigo dedicado especialmente a si" - a ele, portanto. Ficou-se aqui pelas meias-intenções, pois caso o meu caro desconheça, não foram só os malandrecos dos seus colegas de hemiciclo que ficaram incomodados com a sua candidatura à Assembleia da República Portuguesa. Do lado de cá também causou "espécie" aos zelosos "partideiros" da praxe, e não deve ter havido um único que não tenha quase arrancado os cabelos com esta sua audácia. No entanto Coutinho mantém-se firme, garantindo que se o quisessem impedir de se candidatar à AR, "tinham que alterar a Lei Básica" - sacrilégio. Mas ainda a esse respeito, e depois de ter deixado pistas quanto a um eventual sucessor seu, com Rita Santos a aparecer "à cabeça", Coutinho deixa saber um pouco do seu "eu" apolítico, e fala da sra. sua mãe, "que tem 91 anos e vive na sua casa", e lamenta o pouco tempo que tem. Pois é meu caro, gostei de o ouvir falar, esteve muito audaz, como é do seu timbre, e bem sei que correr por gosto não cansa. Mas veja lá isso então, se vale mesmo a pena correr assim tanto para não sair do mesmo lugar, ou para lhe "tirarem o tapete" quando estiver prestes a cortar a meta. Felicidades é o que eu mais lhe desejo, e apesar de nunca ter votado em si (nada de pessoal, é só porque prefiro votar no "outro") fico cada vez mais convencido de que o lugar que deixar um dia terá que ser ocupado por um outro com um grande par...ticularmente...alguém particularmente especial e dedicado como o meu caro. Continue a ser quem é.
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