Esta manhã detive-me a ver a revista de imprensa do Jornal das 24 da RTPi. Como Joaquim Fidalgo devia estar a aparar a barba e João Gobern a bater-se com um leitão à Bairrada, convidaram um Filipe qualquer-coisa de que nunca ouvi falar para comentar as primeiras páginas da imprensa em português. Fiquei de boca aberta.
Primeiro o confronto entre dois candidatos à Câmara Municipal de Alcochete nas festas do Barrete Verde em Alcochete. O candidato do PSD travou-se de razões com o candidato da CDU, e a contenda acabou com o primeiro no hospital com seis pontos na cabeça. Filipe começou bem ao mandar uma piadinha que as festas deviam mudar o nome para "Capacete Verde". Boa. Depois disse que "é comum ver este tipo de situações acontecer nos parlamentos da Coreia e do Japão, mas Portugal
é um país civilizado". A Coreia e o Japão são o quê? O terceiro mundo? Primeiro o comentador deve ter confundido o parlamento japonês com o de Taiwan, onde muitas vezes os deputados resolvem as diferenças à sapatada. Mas isso não interessa. O que dizer então de dois autarcas que se degladiam numa festa onde se celebram os bois? Já sei o que se pode dizer: olé!
Depois passou para a condenação de Aung San Suu Kyi. Tudo bem, todos concordamos que é revoltante, que o regime birmanês é mau como as cobras, e que Suu Kyi é uma pessoa às direitas, uma paladina da democracia e tudo mais. Só que para o comentador da imprensa, a comunidade internacional está-se nas tintas, pois a Birmânia
é um país pequeno. Pois é, é mesmo pequeno. Maior que a França e com 55 milhões de habitantes. Tão diminuto que não se consegue ver no mapa.
A RTP merece comentadores que saibam do que falam e que não digam disparates. A Ásia é o maior continente do mundo, o mais populoso e onde se encontram duas das três maiores economias do mundo, e merece respeito, ou que pelo menos se conheça um pouco a fundo o que aqui se passa. Se para os portugueses este continente continua a ser assim tão "engraçado", miserável e depleto de recursos, nada como dar aqui um pulinho e inteirar-se da situação
in loco. A arrogância da supremacia europeia não nos fica nada bem, até porque de superiores não temos nada. Com comentadores deste calibre, a "silly season" passa de apenas "silly" para "completely stupid".
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