Tipo, coisas novas, duh!

Segui com alguma atenção o programa "Só Visto" da RTPi, transmitido no Domingo à noite, e a convidada era uma tal de Filomena Cautela, protagonista do programa de humor "Cinco para a meia-noite", do Canal 2, uma espécie de Sarah Silverman portuguesa.

A Filomena é assim uma rapariga que, pouco dotada de beleza, resolveu fazer humor em vez de amor. Pela entrevista deu para entender que é um exemplo de "sucesso", uma verdadeira "self-made woman", que do alto dos seus 25 anos, usa expressões como "mainstream" e "whatever".

Fez uma referência ao preconceito que ainda existe em Portugal com as mulheres no humor, por causa do "feminino" (isso para ela não deve ser problema) e tudo mais. Mas porque é que as mulheres precisam de ser pouco femininas, ou outra coisa qualquer que não ela própria, quando fazem humor? Uma mulher não pode ser engraçada sem ser bêbeda, gorda, loira ou ordinária?

Fico um pouco baralhado com a qualidade dos humoristas que temos hoje. Eu próprio cresci com uma geração de humoristas que seguiam a escola dos "Monty Python" ou do "Yes, Minister", e hoje há uma nova geração de humoristas que cresceu a ver "Seinfeld" ou "Friends". Também não era grande adepto do tipo de humor que os meus pais ou os meus avós gostavam, que era bastante conservador, mas isso não quer dizer que tivesse menos qualidade. Como não somos um povo por natureza alegre, rimos com o pouco que ainda vai dando para rir, dependendo da época.

Não vou dizer que hoje é pior e que no meu tempo é que era bom, nada disso, mas qualquer dia vou a Portugal ou vejo a RTPi e já não percebo o que se diz. O sentido de humor da juventude de hoje resume-se em deixar uma frase com meio-sentido no ar e deixar-nos adivinhar o resto, ou dizer os maiores disparates com um ar muito sério e ficar à espera que a gente ache graça, "a la" Bruno Nogueira?

E aquelas expressões ridículas que inventaram como "def" para se referirem a um deficiente, "duh" com as mãos a passar à frente da cara e a fazer uma careta para dizer que alguém é lento de raciocínio, e aquela do "tipo". Que sentido faz esta frase: "O pai do Jorge é o sr. Antunes, que é, 'tipo', engenheiro". Tipo? Que raio, ou é engenheiro ou não é. Se os meus filhos me vêm com essa, digo-lhes que esta semana a mesada é, "tipo", nenhuma.

Quanto ao "Cinco para a meia-noite" é um programa que goza de enorme popularidade em Portugal. O programa, apresentado também por um tal de Nílton, que também escreve, esteve no centro de uma polémica há algum tempo, quando um sketch fez referências pouco condecorosas à sexualidade da actriz Eunice Muñoz, o que é assaz desagradável.

É verdade que o humor em Portugal ainda sofre de algum contrangimento causado por várias décadas de fascismo e censura, e que existem muros por derrubar. Mas ir directamente à intimidade de uma senhora de 80 anos que toda a gente ama e respeita, é querer construir a casa pelo telhado. E agora se não se importam, vou, "tipo", dormir. Boa noite, defs!