Disney HK: elefante branco?

O futuro da Disney de Hong Kong está em perigo. O parque temático aberto em Setembro de 2005 numa joint-venture entre a Disney e o Governo de Hong Kong não está a produzir os resultados esperados. O objectivo era atrair o vasto mercado chinês, mas alguns visitantes queixam-se de que é "demasiado pequeno" para merecer uma segunda visita. O parque de Hong Kong é o mais pequeno da "franchise" Disney. Os fãs da Disney na região ainda preferem o Japão para matar saudades do Mickey e do Pateta. A Disney HK anunciou ontem que decidiu suspender os planos de alargamento do parque, e num curto prazo isso pode significar o fim de pelo menos 30 empregos. Isto só no departamento dos "criativos".

O que há com a Disney assim de tão fascinante? Confesso que não sei, nunca visitei, nem em Orlando, nem em Paris, nem em lado nenhum. Quando era puto era fã do Astérix, do Spirou e do Lucky Luke, e esses nunca mereceram um parque temático. Há algo de pérfido nos personagens da Disney: um pato sem calças, um rato com voz fina, um cão que fala (Pateta) e outro que ladra (Pluto). As adaptações da Disney para o cinema (Branca de Neve, Corcunda de Notre-Dame, etc, etc, etc.) parecem-me demasiado elaboradas, e publicitadas ad nauseum como que para deixar o mais cuidadoso dos cinéfilos sem escolha. É quase obrigado a ver os filmes.

Nunca acreditei no Pai Natal, mas juro que quando tinha 4 ou 5 anos, pensava que os bonecos que andavam pelos parques da Disney eram mesmo o Mickey & cia. Foi uma desilusão quando descobri que eram apenas uns coitados mal pagos enfiados num fato que muito provavelmente lhes fazia comichão, e onde morriam de calor. Não é o tipo de cenário que uma criança imaginativa e fantasista gosta de imaginar. Queria deixar claro que não acredito em qualquer das palermices que foram contadas em forma de lenda urbana ao longo dos anos: que Walt Disney era pedófilo, satanista ou nazi, ou que os filmes guardavam mensagens subliminares. E muito menos que a cabeça do autor da bonecada (que fumava desalmadamente e morreu de cancro do pulmão, curiosamente) está preservada criogenicamente.

Os miúdos estão mais espertos hoje em dia, e dão muito mais importância à animação em si do que propriamente a uma boa história ou a um clássico. Os meus filhos por exemplo preferem muito mais o trabalho grande rival DreamWorks (Shrek, Madagascar, Kung Fu Panda). A Disney parou, sentou-se à sombra dos louros que conquistou na segunda metade do século passado, e começou a perder a ambição de voltar a liderar o mercado. Tem-se antes virado para americanices absurdas como Hannah Montana, High School Musical e ouros sub-produtos do Canal Disney. O último triunfo no departamento da animação foi Lion King, e já se passaram 15 anos. Ratatouille, Finding Nemo, Cars ou WALL-E são sucessos recentes, mas com a mãozinha da nova associada Pixar.

Se a Disney se precisa de re-inventar, não sei, mas não vai ser à custa dos parques temáticos. São caros, desinteressantes, e no caso de Hong Kong não sei se o mercado chinês se identifica com a História e os personagens da companhia. Curiosamente os meus filhos nunca me pediram para visitar a Disney (a minha filha queria visitar quando viu a inauguração na TV, mas não passou de um curto deslumbramento). Aqui em casa ainda preferimos o Ocean Park, que mesmo assim é mais em conta, e menos mercantilista. E aquela foquinha do OP consegue ser tão ou mais simpática que qualquer personagem da Disney.