quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os sons dos 80: AC/DC


Os AC/DC foram formados em 1973 em Sydney, na Austrália, pelos irmãos Angus e Malcolm Young, respectivamente "lead guitar" e "rhythm guitar", e os únicos elementos que se têm mantido em todos os alinhamentos durante os mais de 40 anos de carreira da banda. Filhos de imigrantes escoceses, os Young têm marcado o ritmo da longevidade dos AC/DC, com destaque para Angus, considerado um dos melhores guitarristas a andar à face da terra, e ainda com o condão de ser um autêntico "one man show" - uma referência para qualquer aspirante a guitarrista. Dave Evans, na voz, Mark Evans, na guitarra-baixo, e Colin Burguess na bateria compunham o resto da formação inicial do grupo. Entretanto Burguess daria lugar a Peter Clack, e meses depois a Phil Rudd, enquanto Evans, que os restantes elementos da banda consideravam "demasiado semelhante a Gary Glitter", seria substituído por Bon Scott, que já havia pertencido a algumas bandas como os Fraternity ou os The Valentines, e seria com este alinhamento que gravavam em 1975 o album de estreia, "T.N.T.", que seria nº 1 no top australiano. A versão internacional do disco teria o nome de "High Voltage", e estabeleciam os AC/DC como um nome de referência do "hard-rock" mundial. A simbiose entre o carismático Scott e o irreverente Young duraria até 19 de Fevereiro de 1980, quando o primeiro morreu acidentalmente de hipotermia, depois de uma noite muita fria em Londres, regada com muito álcool. A parceria Scott/Young deu origem a cinco álbums de originais e mais um ao vivo, sendo o último registo, "Highway to Hell", considerado um dos maiores clássicos da história do rock'n'roll.


Para o lugar do malogrado Scott a escolha recaíu sobre Brian Johnson, recrutado à banda de "hard-rock" britânica Geordie. Entretanto em 1977 a posição de baixista foi ocupada por Cliff Williams, dando-se a saída de Evans, pois a banda queria melhorar no departamento de "back-vocals" e o último "não sabia cantar". E foi com Johnson na voz, os irmãos Young na guitarra, Williams no baixo e Phil Rudd na bateria que os AC/DC entravam em estúdio na Primavera de 1980 para gravar "Back in Black", o primeiro disco da era pós-Scott. O álbum e o próprio título do mesmo foram dedicados ao malogrado cantor, mas Scott já tinha gravado alguns temas, incluíndo próprio "Back in Black". O tema tem uma "intro" de guitarra que é uma das mais fáceis de reconhecer para os fãs do "rock", com Angus a esmerar-se na creatividade - o video no YouTube tem mais de 25 milhões de visualizações. A presença mais física e menos "glam" de Brian Johnson, bem como a sua voz mais áspera, para não falar daquele curioso bone de ardina não fazia esquecer Scott, mas mereceu a aceitação dos fãs.


E a aceitação foi tal que o disco tornou-se o segundo mais vendido de toda a história, apenas atrás de "Thriller" de Michael Jackson. Foi nº 1 no Reino Unido e na Austrália, quase por inerência, e apesar de não ter passado do nº 4 na Billboard norte-americana, manteve-se 131 semanas no top-200, e vendeu a bonita soma de 22 milhões de cópias - quase metade do total de 50 milhões vendidas em todo o mundo. Os AC/DC gravaram "Back in Black" num estúdio em Breda, na Holanda, e aproveitaram para gravar seis vídeos de suporte, nenhum deles sem qualquer temática ou produção especiais. Seis anos mais tarde o tema "You Shook Me All Night Long" foi recuperado para a colectânea "Who Made Who", e foi então feito este "clip" especial.


"Back in Black" é sem dúvida um dos marcos da história da música moderna em geral e do " hard rock" em particular. Ouve-se muito bem do princípio ao fim, começando pelo tema que dá o nome ao album, passando por "Shoot to Thrill", "Have a Drink on Me", "Giving the Dog a Bone", o pesadíssimo "Hell's Bells" e terminando em beleza, com esta linda mensagem para todos os que gostam de "rock'n'roll", convenientemente intituldo "Rock'n'Roll Ain't Noise Polution", que ainda por cima foi o single dos cinco do saíram do disco que melhor desempenho teve nos "tops", atingindo o nº 15 no top do Reino Unido.

Em finais de 1981 sai o sucessor de "Back in Black", sugestivamente intitulado "For Those Abot to Rock We Salute You", que Angus Young retirou de um livro que estava a ler sobre gladiadores romanos, que quando entravam para a arena saudavam o imperador com a frase em latim Ave Imperator, morituri te salutant (Salvé, imperador, que prestes a morrer vos saudamos). O disco, que foi gravado num pequeno estúdio nos arredores de Paris, ficou muito aquém do anterior em termos de vendas, mas valeu ao grupo a chegada a nº 1 da Billboard pela primeira vez. Curiosamente na Austrália natal dos AC/DC, não foi além do nº 3. Alguns temas interessantes, como este homónimo do álbum, além de "Let's Get it Up", que foi o outro single além desse, "Evil Walks", "Breaking the Rules" ou "Night of the Long Knives".


Em 1983 sai "Flick of the Switch", que foi nº 3 na Austrália, nº 4 no Reino Unido e nº 15 na Billboard. O baterista Phil Rudd deixaria os AC/DC depois das gravações, devido a problemas com drogas e desentendimentos diversos com os restantes elementos da banda. Depois da sua saída foram feitas mais de 700 audições para um substituto, quer nos Estados Unidos, quer no Reino Unido, e a escolha recaíu sobre Mark Wright, que viria também mais tarde a fazer parte dos Dio. E foi já com Wright nas percussões que os AC/DC lançaram em 1985 "Fly on the Wall", nº 7 no Reino Unido e nº 32 da Billboard dos Estados Unidos, onde mesmo assim ultrapassou a marca do milhão de cópias vendidas. Dos três singles deste ultimo, destaque para "Danger", que mais parece o "jingle" de uma campanha de prevenção qualquer.


No ano seguinte saía "Who Made Who", que seria a banda sonora original do filme "Maximum Overdrive", inspirado num romance de Stephen King. O disco, que reuniu alguns temas de albums anteriores e dois instrumentais, foi nº 4 na Austrália, nº 11 no Reino Unido e nº 33 da Billboard. Entre a selecção de canções foi incluído o tema "Ride On", o único da era Bon Scott, retirado do LP "Dirty Deeds Done Dirt Cheap". O único tema original foi "Who Made Who", cuja video ficou a realização a cargo de David Mallet, que no seu currículo contava com a realização dos clips de "Radio GaGa" e "I Want to Break Free", dos Queen, "White Wedding" de Billy Idol, ou "Dancing in the Street", o dueto entre Mick Jagger e David Bowie. Os figurantes que aparecem vestidos com a bóina de Brian Johnson e a imitar o estilo de Angus Young na guitarra são jovens fãs selecionados através de um concurso de rádio. Um dia feliz para estes miúdos, que tiveram a oportunidade de estar junto dos seus ídolos.


Em 1988 sai "Blow Up Your Video", o último registo com Mark Wright na bateria, e o começo de uma fase do grupo que os levaria ao mega-estrelato. Na minha humilde opinião, este nem é sequer um dos melhores registos dos AC/DC, mas os números dizem o contrário, com o nº 2 no top do Reino Unido e da Austrália, e o nº 13 da Billboard. O single "Heatseeker" foi nº 12 na tabela de singles britânica, e permaneceria como single a ter o melhor desempenho nesse particular até à reedição de "Highway to Hell", em 2013. David Mallet voltaria a ficar a cargo da realização.


Em 1990, e já com o galês Chris Slade (ex-Manfredd Mann's Earth Band e ex-Asia) na bateria, sai o álbum "Razor's Edge", que tornariam os AC/DC uma banda de referência, cativando o grande público com temas como este "Thunderstruck". Depois disso foi somar e seguir: "Big Gun", tema da banda sonora do filme "Last Action Hero", o duplo ao vivo "Live", de 1992, mas apenas mais três trabalhos de originais: "Ballbreaker", que marcaria o regresso de Phil Rudd às percussões, "Stiff Upper Lip", e "Black Ice", o mais recente, datado de 2008. Os AC/DC, que tiveram a honra de ver baptizada uma das principais artérias de Sydney com o seu nome, são uma das maiores bandas da actualidade ao vivo, enchendo estádios um pouco por esse mundo fora. E já são mais de 40 anos de história.

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