"Filhos da Madrugada" foi um disco gravado em 1994 por vários músicos e bandas portuguesas para assinalar o 20º aniversário da Revolução dos Cravos, e que servia ao mesmo tempo para homenagear o cantor Zeca Afonso, sendo todos os temas contidos nesse álbum da sua autoria. Como é sabido, o despertar do "rock" português deu-se em 1980, com "Ar de Rock", de Rui Veloso, a dar o toque de alvorada a muitos actos adormecidos num país ainda encalhado na música popular e no nacional-cançonetismo. A maturidade, se se pode dizer que chegou, deu-se algures em meados dos anos 90, ou até um pouco mais tarde. Então o que se andou a fazer em matérial de música portuguesa nos anos 80, depois do "rock" ter chegado para ficar? Não dá para falar de tudo, mas aqui ficam umas luzes. Esperem que gostem, ou que pelo menos digam "epá olha só do que este gajo se foi lembrar!".
Boa noite, sou a Manuela Moura Guedes. E de facto foi assim: a "Manela", uma moça multi-talentosa nascida ali para o Cadaval em 1955 (vejam só) e licenciada em Direito, andou meio indecisa sobre o que fazer com tanto potencial, que no início dos anos 80 pensou em ser cantora. Lançou o primeiro single em 1981, e o primeiro (e único) album, "Alibi", em 1982, com os GNR a ficarem a cargo da instrumentalização. O seu tema mais conhecido era sem dúvida este "Foram Cardos Foram Prosas", com letra de Miguel Esteves Cardoso e música de Ricardo Camacho, dos Sétima Legião - tudo gente do mais queque que há. O tema viria mais tarde a ser interpretado pelos Ritual Tejo, com mais sucesso, e depois ainda pelos Seda. Manuela optaria pela carreira de jornalista e locutora de televisão, e em 1995 seria mesmo eleito deputada à Assembleia da República pelo CDS/PP.
E por falar em GNR, este grupo de rapazes do Porto seria um dos três sobreviventes do "boom" do rock nacional, juntamente com os Xutos & Pontapés e os UHF. Em 1985 gravam o album "Os Homens Não Se Querem Bonitos", que continha o clássico "Dunas", que viria apenas anos mais tarde a tornar-se num grande êxito, graças à versão ao vivo do duplo "In Vivo", gravada no Coliseu dos Recreios em 1990. Soubessem eles que ia ser tão ouvida, e certamente fariam um video menos..."gay"? É ver para crer.
Helena Maria de Jesus Águas é uma celebridade desde que veio ao mundo, e tudo porque quando isto aconteceu, em 1956, o seu pai era "apenas" o melhor jogador português desse tempo, o avançado do Benfica e da selecção nacional, José Águas. Com o nome artístico de Lena D'Água e com os cabelos muito, muito compridos, formou em finais dos anos 70 os Salada de Fruta, que se popularizaram com "Olha o Robô" (uma piroseira). Já a solo obteve sucesso com o single "Sempre que o amor me quiser", e gravaria depois alguns temas inéditos do seu amigo António Variações, falecido em 1984. Em 1986 grava o álbum "Terra Prometida", que contém ste single "Dou-te um Doce", gravado para o programa Countdown Europe. No vídeo aparece o seu irmão Rui Águas, que tal como o pai foi também futebolista, avançado, jogador do Benfica e internacional.
Durante o tal "boom" do rock nacional surgiram vários grupos que desapareciam tão ou mais rapidamente como apareciam, mas com o passar dos anos os gostos foram ficando mais selectivos, e esse fenómeno já não se verificaria tanto. Uma das excepções foram talvez estes Radar Kadafi, que no verão de 86 puseram o país a cantarolar este "40º à sombra", e depois mais nada digno de registo viria da sua parte. Reparem na cachopa que aparece ao 1:02 do vídeo, e depois mais algumas vezes, e ficam a pensar o mesmo que eu: "Radar quem?"
Os Rádio Macau, que têm um nome que nos faz lembrar qualquer coisa, agora não sei bem o quê, foram um dos grupos mais populares dos anos 80, graças a temas como "A Vida Num Só Dia", "O Elevador da Gloria", "Amanhã é sempre longe demais" ou este "O Anzol". A banda de Xana e Flak, que se separou em 1993 depois dos dois terem andado ao estalo, era a resposta portuguesa para grupos como os Cure, Siouxsie and the Banshees ou The Smiths, tocando um género de "rock" alternativo, assim dentro do género...
Por incrível que pareça, aquele gajo que é agora presidente do Boavista, João Loureiro, foi alguém com que em tempos se dava para simpatizar (ou não). Nos anos 80 o filho do major andava mais entretido a cantar, e a sua banda, os BAN, gozou de algum sucesso, especialmente com este tema, "Irreal Social", do seu primeiro trabalho, "Surrealizar". Seguiu-se "Mundo de Aventuras", também bem recebido, e a seguir acabaram-se os BAN e o rapaz entrou no negócio de família. E aqui entra a música de "O Padrinho".
Apareçeram ainda nos anos 80 alguns números meio "esquisitos", como foram os casos dos Pop Dell'Arte, de João Peste, ou estes Mler Ife Dada, que desde a saída de Pedro D'Orey em 1985 tinham como vocalist Anabela Duarte. O tema mais conhecido era este "Zuvi Zeva Novi", que significa...bom, o que é que significa esta merda? E Mler Ife Dada. Deixem para lá...
Este foi um grupo que só gravou um álbum, em 1989, e foi pena. O único LP dos Essa Entente, que era homónimo, é um dos melhores discos de sempre da música portuguesa, e além deste "Dança Nua", aqui num clip gravado para o programa "Pop Off", continha outros temas como "Sou Um Estranho Sem Ti", "Pets-de-Loup", ou o arrepiante "Colibri". Os Essa Entente juntariam-se novamente em 1994 para gravar o tema "Senhor Arcanjo" no disco de homenagem a Zeca Afonso, e não mais gravariam juntos. Outra vez, foi mesmo pena.
1 comentário:
Alguém sabe a razão de dar o nome Rádio Macau à banda? Eles cresceram em Macau?
Enviar um comentário