Macau é, como todos sabemos, uma cidade de contrastes. Em alguns casos os contrastes são de tal ordem que alguns conceitos e ideas feitas contradizem-se por completo, e há casos em que o errado "se justifica", ou que para o correcto "não havia necessidade". Isto aplica-se sobretudo ao ridículo dos "folhetos pornográficos", uma forma de publicidade a serviços de sexo ao domicílio que é distribuída abertamente nas zonas da cidade frequentadas por jogadores e outros, turistas e não só, que procuram "o lado errado da noite". Nestes folhetos aparece a imagem de uma mulher asiática de biquini (por vezes aparecem celebridades de Hollywood ou do "show business" em geral), acompanhada de um número de telefone, e por vezes com uma mensagem em chinês onde se promete normalmente "serviço de massagem".
Ora estamos todos cansados de saber que não se tratam aqui de massagistas profissionais, especializadas em reflexologia, e quem ligar para um destes números está obviamente a requisitar uma prostituta, ou pondo diplomaticamente a questão, uma "acompanhante de luxo". Como estes serviços são privados, e controlados por uma rede obscura de proxentismo, não têm honras de publicidade nos principais jornais do território, como no caso do jornal Ou Mun, por exemplo, que faz publicidade a saunas e clubes nocturnos,
exibindo exactamente as mesmas imagens, mas neste caso os anúncios são tratados simplesmente como "publicidade paga". Quem é surpreendido pelas autoridades a distribuir estes panfletos, é imediatamente acusado de "distribuição de material pornográfico". Aparentemente é tudo uma questão de pertencer ou não à nomenclatura, ao poder instituído.
Chamar às imagens contidas naqueles panfletos "pornografia" é de uma ligeireza tal que se torna difícil encontrar um paralelo em qualquer outro estado de direito no planeta. Talvez possamos fazer comparações com os países islâmicos mais radicais, onde as páginas da internet onde apareçam mulheres de cabelos compridos e usando baton são censuradas, ou no Irão dos ayatolas, onde nas revistas de moda os braços e as pernas das modelos são pintadas de preto. Quem como eu e muitos dos leitores nasceu e cresceu num país democrático, civilizado e laico, entende "pornografia" como algo que inclua pelo menos nudez frontal. E isto para os mais conservadores, pois para mim para que algo seja considerado "pornografia" terá que existir penetração parcial ou total do pénis na vagina (ou na boca, ou ânus, dependendo da "modalidade"). Uma miúda de biquini com umas letras onde se lê "liga-me", acompanhada de um número de telefone, mal chega a ser considerado "erótico", quanto mais pornográfico.
De acordo com a legislação local, "são considerados pornográficos ou obscenos os objectos ou meios (…) que contenham palavras, descrições ou imagens que ultrajem ou ofendam o pudor público ou a moral pública". Muito bem. Não sei como anda por aqui a "moral pública", ou até que limite esta se "estica" antes que se ofenda, mas falando por mim, não me ofende a imagem de uma tipa de biquini, mesmo que esteja a lançar um olhar lânguido, com dois dedinhos da mão a fazerem de garfo e a língua a atravessá-los. Pornografia, para mim, meus amigos, é foda. Literalmente. E nestes folhetos mal se vê coname ou pintelheira, quanto mais acção propriamente dita. E por "obsceno" entendo que basta dizer uma caralhada qualquer, ou fazer um gesto com um dedo. Obscenas são ainda os preconceitos de certa gente, a quem não incomoda que a prostituição ande por aí pelas ruas, em todo o seu esplendor, mas desde que não se publicite. O melhor mesmo é ir lá ver do que se trata, o factor surpresa, é ou não é? Seus...pornógrafos!
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