segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um terreno na China


É triste a forma como se tratam os mais velhos, os mais fracos e os mais infelizes em Macau. O Governo prepara-se para disponibilizar entre 30 e 50 milhões de patacas para um terreno na província de Guangdong onde se vai construir uma espécie de campo de concentração para idosos e deficientes. A intenção do Governo é bastante boa, uma vez que faltam cada vez mais em Macau lugares tranquilos para disfrutar da terceira idade, ou comodidades para deficientes, e o projecto agora apresentado pelo IAS insere-se no desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas, a proximidade cada vez maior com a província de Guangdong, e tudo mais. O IAS anunciou ainda que os técnicos serão locais, do mais qualificado que há, e que vai garantir que ninguém fica a perder.

Tudo bem. O pecado aqui é a forma doentia com que a população, ou pelo menos parte dela, lida com a questão dos cidadãos que requerem cuidados especiais. Ninguém quer viver ao lado dos velhos, dos deficientes ou dos toxicodependentes. A questão do centro provisório de tratamento de toxicodependentes em S. Lázaro, que foi mal recebido pelos habitantes do bairro, é outro exemplo de como ninguém quer saber destes problemas, desde que não estejam a acontecer no seu ‘quintal’. Como frisou muito bem o presidente do IAS, Ip Peng Kin, “os toxicodependentes não são criminosos”, e precisam de um lugar onde possam ser tratados. O que está aqui em causa, como esteve também no caso do lar de idosos nos Holland Garden em Coloane, é o valor do metro quadrado. Existe uma preocupação quase subliminar em que os bens imobiliários estejam rodeados de paz, verdura e sossego, e ninguém quer lá ante-câmeras da morte (asilos) ou “os drogaditos” à porta de casa.

O mais irónico é que as pessoas às vezes têm o azar (ou a sorte, depende do ponto de vista) de mudar. Para tal basta saber quanto precisar de dar atenção a um idoso doente, ou ter um deficiente ou um toxicodependente na família. Aí sabemos quanto dói ser escorraçado, indesejado e tratado como um marginal, nesta sociedade tão perfeitinha, de gente tão bonita que nunca olha para baixo e não quer olhar para o lado. É que enquanto nos sentimos úteis, válidos e acarinhados, nunca vamos perceber quanto dói ser inútil, inválido e considerado “um estorvo” para os outros.

Eu não me importaria de ter um lar de idosos ou um centro de reabilitação de toxicodependentes perto de onde eu moro, desde que não fosse dentro da minha casa, como é óbvio. Mas epá, olhem, ganharam, razão têm vocês em querer um bairro limpinho e sem vizinhos deprimentes. Em breve podem mandar os vossos cidadãos de segunda lá para um terreno qualquer na China. Estão contentes? E quem sabe um dia acabam lá também. Mas é pertinho, mesmo aqui ao lado, e ainda dizem que vai ser bestial. E duvidam?

19 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem Leocardo
gostei

Pedro Coimbra disse...

Se tivermos sorte, chegaremos à terceira idade.
Será que também vamos ser considerados um estorvo, vizinhos incómodos e indesejados?
A propósito dos toxicodependentes e dos deficientes não sei se posso utlizar a palavra provação.
Sei que são pessoas, seres humanos, que necessitam de auxílio e de cuidados especiais.
Esta solução de os varrer para longe da beleza dos néons é abjecta, revolta-me, dá-me vómitos.
A conversa da harmonia, quando a máscara cai, descamba nestes dislates que revoltam quem tem um pouco de sensibilidade.
Neste caso, e noutros semelhantes, não consigo ser racional, frio, objectivo.
O coração berra e a razão tem que o ouvir e que o deixar falar.

Anónimo disse...

Idosos e deficientes mentais muito bem, mas toxicodependentes e' outra coisa, os primeiros nao teem culpa de serem, o terceiro e' porque quer ser.

Anónimo disse...

ora refaz la' esta noticia que esta' uma merda.
Os deficientes e idosos nao tem nada a ver com os fdp dos drogados ok?!
ajudar o primeiro grupo ninguem estara' contra, o problema resulta de muitos factores dos quais as proprias pessoas nao tem culpa e portanto precisam de ser ajudados, agora os drogados?>? tu deves estar a brincar, puta que os pariu, a opcao e' deles que quiseram , ninguem os obrigou, e so' dao chatices o todos e a tudo que os rodeiam, e nao me venham dizer que nao sabias e tal... que aquilo criava dependencia... esses gajos deveriam ir bem pra longe com os chulos dos traficantes e la' ficarem...porque sao casos perdidos.

va' Leocardo muda la' isso que eu sei, que tu es da mesmissima opiniao. Tas so' a mandar amendoins pra um certo grupo de falsos moralistas pseudo-intelectuais

Anónimo disse...

Este artigo é mesmo ridiculo,se fosse aqui em Portugal ainda vá lá,os velhos aqui em Portugal são muito mal tratados mas agora em Macau,China,os velhos são mal tratados???Se há coisa que os chineses Sempre souberam respeitar são precisamente os VELHOS,porque para a cultura chinesa os velhos são aqueles que tem muito experiencia e ensinam muita coisas aos jovens,e por isso os velhos são muito respeitados pelos chineses,alias basta dizer que muitos velhotes vivem com a familia ,filhos casados até.Os pais da sua mulher chinesa oh sr Leocardo são mal tratados?

Anónimo disse...

Este anónimo está mesmo em Portugal.
Que visão romântica a que guarda do oriente.

Anónimo disse...

Concordo com os anonimos de 13:46 e 22:25.

Leocardo disse...

Anónimos das 13:46 e 22:25, isso pode ser até verdade, e há mesmo quem vá mais longe e peça "pena de morte" para os toxicodependentes, que "se enforquem para dar o exemplo" e tudo mais. Mas somos assim todos tão radiciais até o azar nos bater à porta e um dia termos um familiar ou um amigo próximo com um problema semelhante.

Aí pessoas como estes anónimos viram-nos a cara, fecham-nos a porta e cospem-nos em cima, e depois ficamos agarrados à cabeça a perguntar "Porquê?!?!" e a lamentarmo-nos que as "instituições não funcionam", e que "não são respeitados os direitos destes seres humanos", etc.

O pior é que pessoas como os anónimos das 13:46 e 22:25 acham que faltam veterinários, e que os cãezinhos também têm direitos - mesmo os que mordem - que são precisos asilos para os gatinhos e outras patetices. O lugar dos toxicodependentes é na jaula ou na sarjeta. Mas aqui estamos (ou pelo menos eu estou) a falar de pessoas.

Quanto ao anónimo das 23:10, é sem dúvida um romântico. Os meus sogros, que refere, têm habitação própria, várias até, e só saem de lá se quiserem. Infelizmente nem todos os velhos têm uma casa, e nem todos podem viver sozinhos, e necessitam de cuidados especiais. É demagogia pensar que os velhos chineses não têm os mesmos problemas que os velhos de outro sítio qualquer, e que os filhos chineses também não têm a sua vida e mais que fazer. Confúcio viveu há 2500 anos, meu caro.

E agora querem construir as tão necessárias habitações sociais na ilha da Montanha. Parece que além dos idosos, dos deficientes e dos toxicodependentes, também não há em Macau lugar para os pobres. Nada do que falei aqui se aplica a mim próprio ou aos meus, felizmente, mas aprendi a olhar para além da janela da minha casa.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

eu posso estar em Portugal mas já vivi em Macau há vários anos e quando vi que em Macau os velhos são sempre respeitados pelos mais jovens.Não é como aquilo que o leocardo escreveu no seu artigo.Os chineses respeitam os velhotes,não são como os portugueses que mandam logo para os asilos ou que não querem saber mais deles.

Anónimo disse...

Confesso que fiquei com a ideia que já cá esteve pela propriedade com que falou.
Aqui o respeito pelos outros, mais velhos incluídos, é um mito.
Este povo é diferente daquele que recorda.
Acha que a ideia de mandar os velhotes para o lado de lá da fronteira foi de algum português?

Leocardo disse...

Onde é que eu escrevi que em Macau os jovens não querem saber dos velhotes. O que eu disse, e é um facto, é que em Macau há asilos, e nesses asilos há idosos, como em qualquer outra parte do mundo. Negar isto é um completo desfazamento da realidade, meus senhores.

Cumprimentos.

Leocardo disse...

Na mouche, anónimo das 11:44

Anónimo disse...

Por esta ordem de ideias em todas todas as cidades do mundo não há respeito pelos velhos,visto que há asilos em todas cidades do mundo.Mas podem ter a certeza que sempre tratei bem os meus pais já velhinhos e tambem quero que me tratem bem quando eu estiver já velhinho com uma bengala.

Leocardo disse...

"Por esta ordem de ideias em todas todas as cidades do mundo não há respeito pelos velhos,visto que há asilos em todas cidades do mundo".

Não é em todas as cidades do mundo onde se compram terrenos "bem longe daqui" para pôr os velhos pois não?

Anónimo disse...

do 22;25 para o Leocardo:

eu so' disse aquilo com conhecimento de causa, na minha vida sao infelizmente ja' alguns casos de pessoas proximas toxicodependentes que me amarguraram a vida muito mais do que aquilo que eu mereco ou sequer imaginava, exactamente por isso e volto a dizer, quero e' distancia, longe dessa gente, drogados e' para acabarem com a vida que qualquer pessoas de bem e saudaveis, porque esses "caes" so' estao bem quando acabam com eles e os outros q o rodeiam, porque esses "caes drogados" sao egoistas e egocentricos e a unica coisa que pensam dos outros e' poder sacar, sacar, sacar ate' mais nao poderem e tu Leocardo, ainda nao sabes o que e' isso e ainda bem para ti e para os teus, q deus te proteja e mantenha assim, livre desses monstros

Anónimo disse...

Então não se compram terrenos,como é que se constroi asilos atrás de asilos?Aqui em Portugal o que tem aos pontapés,são ASILOS,e pagam um balurdio para os velhotes estarem lá.

Anónimo disse...

Se o discurso anti-drogados vier de alguém que vive em Portugal, compreendo-o perfeitamente. É que lá os drogados incomodam mesmo. Se aqui em Macau o governo instala parquímetros (o que é justo, perante os problemas de estacionamento que há), em Portugal são os drogados que se instalam em tudo quanto é lugar de estacionamento. E são bem mais caros do que os parquímetros, e a polícia portuguesa, habitualmente tão zelosa, deve ter ordens expressas para fechar os olhos a essa praga dos drogados-arrumadores de carros, pois não faz nada. Mas nada disto admira, porque toda a gente sabe que no Portugal de hoje o crime compensa e que só não ganha dinheiro quem trabalha honestamente. Aqui em Macau, diga-se em abono da verdade, nunca fui incomodado por drogados e, enquanto assim for, não tenho nada contra eles.

Anónimo disse...

Aqui em Portugal há muitos arrumadores de carros,quase todos são drogados,mas não vejo arrumadores em macau porque será?Aqui se não dás gorjeta ao arrumador quando voltares ao carro,ves o carro riscado ou com pneus furados!!!

Anónimo disse...

É o país que têm. Criminosos com excelente qualidade de vida e gente que trabalha a ter de sustentar esses mamões todos.