O Clone à lupa

A TDM transmite de segunda a sexta-feira no Canal Macau a telenovela "O Clone", uma produção da gigantesca rede Globo, que tem desde 2007 um acordo com a estação da Francisco Xavier Pereira. "O Clone" é de 2001, e pode parecer uma surpresa para os portugueses que estejam a ler este artigo que só agora passe em Macau, mas aqui no território não temos quatro ou cinco canais em português que passem as dúzias de novelas produzidas anualmente no Brasil.

O que dizer d'"O Clone"? É uma novela interessante, original e divertida, que conta com um elenco de peso e um enredo que se divide entre o Rio de Janeiro e a belíssima cidade marroquina de Fez. "O Clone" conta com as interpretações de Murilo Benício e Giovanna Antonelli nos papéis principais, e ainda Vera Fisher, Reginaldo Faria, Daniela Escobar, Marcos Frota, Sebastião Vasconcelos, Raul Gazolla, Beth Goulart, Marcello Novaes, entre outros.

"O Clone" é basicamente uma história de amor. Lucas (Benício) conhece Jade (Antonelli), uma muçulmana nascida no Brasil, durante uma visita a Marrocos. Ambos apaixonam-se, mas Jade é prometida a Said (Dalton Vigh), um amigo próximo do seu tio Ali (Stênio Garcia), que tomou conta dela depois da morte da sua mãe. Lucas tem um irmão gémeo, Diogo, que morre num acidente de aviação. De regresso ao Brasil, Lucas apaixona-se pela namorada do irmão, Maysa (Escobar), uma mulher amargurada e cínica. Lucas nunca esqueceu Jade, e os amantes voltam a encontrar-se e a desencontrar-se anos depois, entre o Brasil e Marrocos.

Lucas é filho de Leonidas Ferraz (Reginaldo Faria), um empresário de sucesso que vive um romance tórrido e repleto de equívocos com Yvette (Vera Fisher), uma mulher luxuriosa e bastante dada a casos amorosos com homens ricos. Depois da morte de Diogo, o seu tio Albieri (Juca de Oliveira), um cientista, resolve cloná-lo, e para tal usa Deusa (Adriana Lessa), uma mulher infértil, ávida em ser mãe. A clonagem de seres humanos é o tema controverso, por assim dizer, de "O Clone". Escusado será dizer que o clone, Leo, é exactamente igual a Diogo, o que obriga Benício a representar um papel triplo, o que faz muito bem.

A interpretação de Stênio Garcia no papel de "Sidi" (um título muçulmano equivalente ao lorde inglês) Ali é provavelmente a mais bem conseguida. Ali é um homem calmo, ponderado, honesto e sensato, educado em Oxford e seguidor fiel do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. A este respeito, "O Clone" tem o mérito de desmistificar mais ou menos bem alguns preconceitos e ideias feitas em relação ao Islão, e porque não, ajudar a compreender a segunda religião mais seguida em todo o mundo. A sensual dança do véu, brilhantemente executada por Antonelli, é um dos elementos mais fortes em termos coreográficos.

"O Clone" marcou o regresso de Vera Fischer ao pequeno ecrã, depois de problemas relacionados com o abuso de alcool. Fischer, na altura com 50 anos, foi Miss Brasil em 1969, e é filha de um ex-oficial nazi que fugiu para o Brasil depois da II Guerra Mundial. Segundo a própria, o seu pai "obrigava-a a ler 'Mein Kampf', de Adolf Hitler, quando era pequena".

Um dos méritos da novela é a banda sonora (ou trilha sonora, como dizem os brasileiros), bastante exótica e diversificada. Artistas brasileiros como Zélia Duncan, Marcos Viana, Lenine e Lara Fabian, ou estrangeiros como o egípcio Amr Diab (o cantor árabe mais conhecido internacionalmente), o argelino Abdellah, Sting ou Shakira deram o seu contributo. O tema de abertura é "Sob o Sol", de Malu Ayres, que também faz uma aparição esporádica durante a novela.

"O Clone" tem 221 episódios, o que significa que só terminará lá para o final do Verão. A novela foi exibida em 26 países e recebeu vários prémios, incluíndo o conceituado prémio Contigo! para melhor novela, melhor actor e actiz secundários, melhor par romântico, melhor argumento e realização.