segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O que é um democrata?


Aí está uma boa pergunta. Cá em casa quando a mulher quer jantar for a mas a mim e aos miúdos só apetece ficar refastelado no sofá, ela lembra sempre que “aqui não é uma democracia”. Aqui nunca foi uma democracia, no fundo. A democracia é um bicho que mói, rói, atrapalha e destrói. Quantas vezes desabafamos que “a democracia não funciona” quando uma decisão qualquer não é do nosso agrado, ou porque egoísticamente achamos que “deve ser assim”, independente do que os outros pensam.

Tenho um colega com que adoro conversar, e dispenso sempre nem que sejam dez minutos por dia para descer dois andares para trocar dois dedos de conversa sobre os mais variados temas que afligem a nossa sociedade. É um senhor já de meia idade, que se socorre da lei quando lhe dá jeito, mas se não concorda, diz que a lei está “mal feita”. Fazendo uma pequena instrospecção, somos todos um pouco assim.

Em Macau a “democracia” como a conhecemos, a do estilo pluralista e Ocidental, oposta à medida chinesa, autocrática e submissa, é representada pela Associação Novo Macau Democrático (NMD), que de quatro em quatro anos vence as eleições para a Assembleia Legislativa. Vence? Portanto governa, não? Ou forma coligações de modo a levar avante as suas propostas e o seu programa. Não. E porque ganha, então? Porque sim. Em Macau e em Hong Kong os sectores ditos democratas existem para marcar a diferença em relação à grande China. Se o cidadão médio pode votar, se lhe assiste esse direito, porque não votar no sentido contrário ao poder instituído, que foi em tempos colonial, e actualmente centralizado em Pequim?

Na AL existem dois blocos: os democratas e os “outros”. Os “outros” referem-se aos democratas como se a democracia fosse uma coisa má. Como se não fossem eles próprios democratas, na acepção do termo. O que são mesmo é do “contra”. Estão ali “para chatear”. Muitas vezes chateiam mesmo, lembrando os senhores empresários de que já se encheram o suficiente e que é hora de retribuir com qualquer coisinha. O pessoal do NMD é conhecido por não apresentar qualquer proposta de lei, com o pretexto de que “não será aprovada”.

Ontem apresentaram na sede do Governo (aqui ao pé de casa) uma petição com 20 mil assinaturas. Em vez de o fazerem em resmas de folhas, como é normal nestes casos, optaram por uma espécie de papiro com 55 metros de comprimento. For show. Impressionante. Exigem um alto à contratação de trabalhadores não-residentes, querem os tais empregos que as concessionárias de jogo prometeram à malta de cá. Para não serem confundidos com a malta da extrema-direita europeia, a quem se reconhecem tiques idênticos, falam da formação dos ditos cujos não-residentes, e de como são uma forma mais barata que os tunarões do capital encontraram para poupar mais uns cobres, e que apresentam lucros de centenas de milhões e depois ainda falam de crise.

E até são capazes de ter razão. Isso dava agora pano para mangas. Não querem que os não-residentes sejam corridos ao estalo, não, mas que sejam sistematicamente substituídos, e que fiquem os mínimos indespensáveis. Quanto às acusações de xenofobia, nah, nada disso. Populismo? Talvez. Afinal quem vai por o voto nas urnas nas eleições do próximo ano não são os não-residentes, não é?

E por falar em eleições, os rapazes vão concorrer com duas listas em 2009, aparentemente. Desta forma fintam o sistema eleitoral estabelecido, que não lhes permite eleger mais de dois deputados, por muito que continuem a subir no número de votos. O que fico sem perceber é o seguinte: como sabe o seu eleitorado em que lista votar? O NMD não tem um eleitorado fixo, um segmento da população tipo, ao contrário de outras listas que ora dependem do sector do jogo, da construção, dos operários ou dos kai fong.

O eleitor do NMD é normalmente jovem, da classe media, com habilitações medias ou superiores. Quem são eles e onde se encontram? Sabe-se que existem. Quanto aos candidatos um dos leitores do blogue terá comentado que Lei Kin Yun, o contestatário que concorreu em 2005 por uma lista sem qualquer expressão poderá entrar numa das listas do NMD. Não seria uma surpresa, mas duvido que encabeçe alguma delas. Fica como “wild card”.

Os democratas são conhecidos pela sua profissional “coragem” quando é hora de bater o pé e fazer barulho. Ainda este Sábado a célebre Christina Chan, muito popular entre alguns leitores do blogue (Miss Bairro do Oriente?) provavelmente com saudades de se atirar para o chão e ser detida pelas autoridades, foi protestar à porta do hipódromo de Sha Tin onde decorrem as provas do hipismo dos JO. O célebre “Long Hair”, também do território vizinho, ficou conhecido pelo seu discurso inflamado e pelos berros de vivas à tal democracia quando tomou posse no LEGCO em 2004.

Este “long hair” é um personagem curioso. Quer dizer, se é anti-Pequim é de direita, uma vez que o regime é socialista, e portanto de esquerda. Mas usa normalmente a estampa de Che Guevara, herói revolucionário socialista. O próprio NMD é de direita. Ou não? Se a maioria dos deputados na AL pratica políticas liberais de direita? Se o NMD é de esquerda estará, portanto, em sintonia com o regime socialista? É tudo muito confuso. Agora vou parar, dói-me a cabeça.

11 comentários:

Anónimo disse...

Leonardo,
Já ninguém liga boi a este blog?

Anónimo disse...

Este blog está-se a transformar num mero painel para o Leocardo exercitar os seus dotes de lambe-China e lambe-Hu. E também para destilar ódios incrompreensíveis, o último dos quais é em relação á Tailândia.
E ainda por cima o rapaz tem mau feitio quando discordam dele.
Já apanhou os tiques da mãe-pátria.

Já me vai faltando a pachorra para gastar o meu latim aqui.

Isto já foi um blog inteligente, mas agora...

Leocardo disse...

o último anónimo: não precisa de vir mais aqui, quem o obriga? O pior é que sei que vem...

Leocardo disse...

Anónimo das 3:03: se ninguém comenta deve ser porque me dão razão, e tal. Quanto ao não ligar boi ao blogue, não sei, a média de visitas cifra-se m mais de 200 diárias e perto de 50% são de Macau. E isto em Agosto, mês de férias. Mas como não ganho um avo por visita, é-me indiferente.

Cumprimentos

Anónimo disse...

é pena que o nosso vitinho voltasse a meter um cometário, garanto-vos que os comentários vão pelo menos triplicar...será que ele também está preparar para o início do campeonato?

Anónimo disse...

Gajo manso com a mulher mas com muito maus feitio para os outros... Não foges à regra Leonel?!

Anónimo disse...

Ai venho, venho:)

Chatear os cornos a gajos como você é uma coisa que me dá gozo.
Numa terra de gente mais papista que o papa, o Leocardo é mais sínico que os sínicos.

Não se livra de mim tão facilmente, a não ser que utilize a fundo os seus conhecimentos adquiridos na mãe-pátria e me apague as mensagens.

Cumprimentos

Leocardo disse...

Tudo bem, só que eu estava preocupado consigo. É que não gosto que venha aqui para ficar mal-disposto.

E pode escrever o que quiser aqui, dentro dos limites do razoável. Sou um democrata na acepção do termo, e um grande adepto da primeira emenda da constituição americana, que diz que qualquer palerma tem o direito de escrever os disparates que quiser. E para que não se sinta ofendido, isto serve tanto para si, como para mim.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Já lhe disse que não fico mal disposto. Isto dá-me gozo.

Você é que fica mal disposto quando discordam consigo.
Coisa muito estranha em alguem que se diz democrata.
O seu conceito de democracia deve ser o de democracia popular. Ou de democracia musculada.

Qualquer coisa menos o de verdadeira democracia.

Não admira que você fosse sempre tão brando quando comentava aquilo que o Vitório escrevia.
Provavelmente concordava com 90% daquilo que ele dizia.

Enfim, duas faces da mesma moeda...

Leocardo disse...

contraditório disse:

"Já me vai faltando a pachorra para gastar o meu latim aqui."

contraditório disse:

"Já lhe disse que não fico mal disposto. Isto dá-me gozo."

'Contraditório' é um nome que lhe fica a matar, sem dúvida.

Quanto ao seu último comentário, sobre o Vitório e não sei quê, não percebi.

Anónimo disse...

Meu caro,

Se estivesse realmente mal disposto não diria uma coisa tão inóqua como " já me vai faltando a pachorra", mas sim coisas piores como alguns anónimos lhe dizem.

E quanto ao Vitório, tanto ele como você são fãs de sistemas politicos "musculados".
Ele de um sistema salazarento e você do sistema chinês. Ou até do singaporeano.

Pelo menos é isso que dá a entender pelos seus escritos.

Ou estou enganado?