quinta-feira, 6 de março de 2008

My Carmona


"Quando o governador Almeida e Costa se afastou para deixar o campo aberto ao recém eleito presidente Mário Soares, iniciou-se em Macau um período de "caça às bruxas", sendo estas aqueles que, como eu, representavam o chamado "almeidismo". O jornal surgiu assim como um elemento aglutinador do sector referido e um instrumento de defesa, pessoal e política."

"Os jornais não foram um negócio, mas apenas instrumentos políticos, como disse. O único dinheiro que ganhei foi a vendê-los e só serviu para repor as perdas. Os meus adversários políticos - os representantes do "soarismo" de tão triste memória no Território - mandavam emissários disfarçados para os comprar, na suposição que me compravam também a mim. Saiu-lhes caro e permitiram-me suportar os custos. Assim que vendia um, abria outro. Até que, cansados, mudaram de método: tentaram assassinar-me fisicamente, felizmente também sem êxito."

"A última vez que estive em Macau foi em 1996 e as diferenças são notórias. Tenho que confessar, por muito que me custe, que Macau está melhor, sem portugueses, do que estava enquanto lá pontificámos."

Extracto da entrevista de Carmona e Silva ao Ponto Final da última Terça-Feira. Veja aqui a resposta do director do JTM, José Rocha Dinis, ao advogado que viveu em Macau durante mais de dez anos.

Se me perguntarem, não sei se Macau está melhor ou não sem os portugueses, mas de uma coisa tenho a certeza: está sem portugueses.

5 comentários:

Si disse...

Olá Leonardo,
Estive em Macau em 1999, alguns meses antes de retornar para maos chinesas. Já nessa altura me pareceu que nao havia muitos portugueses por aí. Mas já ouvi alguns amigos dizerem que "Macau é que está a dar!". Se calhar o cenário vai mudar!
Sílvia

Anónimo disse...

Não tive (não tenho) pachorra para ler o Rocha Diniz de alto a baixo: fui apenas ao artigo dar uma vista de olhos na diagonal, para confirmar o que adivinhava e aproveitei para ver o ar derretido (na foto) com que o escreveu. Vejamos.

O 'almeidisno' foi um período negro escusado, mesmo sob o pretexto do «salto em frente», e Carmona e Silva não serviu para clarear a realidade.

Os jornais não foram um negócio. Eles foram - e continuariam a ser - muitos negócios. Apenas uns mais 'jornais', mais jornalismo, mais independentes e mais sérios do que outros.

Com Soares em Belém e os seus sucessivos governadores, houve uma 'caça às bruxas' em Macau, sim. Escusadamente: sempre defendi que bater num defunto é chover no molhado.

Digamos que, enterrado o 'almeidismo', se seguiu um pós-'almeidismo' primário ou (melhor ainda) um estranho 'neoalmeidismo', do tipo em que se esfrega as mãos e se diz: chegou a nossa vez! Foi um fartar. Sem sentido, porque a 'vilanagem' nunca se farta.

Em termos muito gerais, para não perder muito tempo com isto, sempre achei que a grande diferença entre Carmona e Silva e Rocha Diniz reside no facto de o primeiro ter sido 'almeidista' e o segundo 'neoalmeidista' (ou um pós-'almeidista' com os tiques históricos do 'almeidismo').

Uma semelhança inevitável, porém, encontro nos dois: tivessem eles trocado os nomes, ou os papéis que assumiram, que sentir-se-iam igualmente realizados, só que nos períodos inversos. E o curto mundo de Macau teria sentido a mesma diferença. Ou seja: nenhuma...

Anónimo disse...

Concordo com a maioria das frases de J.C. mas gostaria de dizer o seguinte:
Rocha Diniz não foi um neo-almeidista nem um pós-almeidista. Ele foi um ALMEIDISTA. A primeira coisa que Rocha Diniz e o seu amigo de interesses João Fernandes fizeram assim que chegaram a Macau foi pedir uma audiência ao secretário-adjunto para a Comunicação Social, Roque Martins (tenho foto) a fim de lhe pedirem dinheiro para os seus jornais. Roque Martins respondeu-lhes que os seus jornais tinham acabado de ser criados por patrões muito ricos e que os jornais se estavam a colocar numa posição anti-governador Almeida e Costa. Responderam que não. Que os jornais seriam independentes e que os patrões dos mesmos não iriam interferir porque eles eram profissionais com ética, blá, blá. Aguardaram um mês pelos subsídios chorudos que pediram a Roque Martins e nesse período os seus jornais até teceram elogios a decisões esporádicas do governador (está em arquivo na Biblioteca de Macau). Passado um mês e depois de terem tido a resposta de que não seria dado qualquer apoio financeiro aos seus jornais ou a eles, os jornais Tribuna e JN começaram a cruzada anti-almeidista. Posta esta explicação pertinente para desmascarar a demagogia, a aldrabice e o oportunismo de Rocha Diniz diga-se em abono da verdade que Macau está pior com portugueses como Rocha Diniz, que nem sequer é capaz de defender no "seu" jornal os interesses dos portugueses na RAEM. Limita-se a defender o Chefe do Executivo e as políticas de Pequim. Rocha Diniz é dos tais chulos que abundam na imprensa situacionista que nem sequer publica uma notícia sobre o sofrimento dos jornalistas presos na China... e já deve ter lugar cativo nos Jogos Olímpicos.

C disse...

Alguns comentários são tão previsíveis, sempre os mesmos e a "malhar" nos nossos governantes, se estão assim tão mal e tão incomodados, já deveriam e há muito terem mudado de nacionalidade ou na altura, que tivessem estaleca e conhecimentos para assumir tais cargos. Recordo-me das palavras de um popular chinês no autocarro "Os portugueses já não lhes bastam terem perdido Macau e convidados a porem-se a andar daqui (Macau), e os poucos que ainda cá restam, matam-se uns aos outros ... "Um Cháng Hei" ou seja "pouco unidos" ou "não se fazem vingar o seu orgulho português" - fracos.

Após o 25/A. não eram os Governadores primeiro sondados e depois nomeados pelo Presidente da República? E o PR não era eleito democraticamente? E então essa democraticidade toda... saudades do antigamente, não é?

Saudações,

Anónimo disse...

Vitório Rosário Cardoso devia querer dizer algo que me parece ter ficado mal esclarecido. Defeito meu, sem dúvida, mas aproveito para lhe sublinhar três coisas.

1. É muitas vezes saudável discordar (malhar?) de quem está no poder. O poder, aliás, é efémero, graças à rotatividade democrática. É normal nunca estarmos todos de acordo, mas também é normal a tentativa de encontrar consensos, porque acaba por haver muito mais matérias a unir-nos do que algumas a separar-nos. Não mudamos de nacionalidade (disparate!) por discordarmos hoje do poder, sabendo que amanhã o poder roda e talvez se aproxime do que temos como mais acertado.

2. Para o caso, o exemplo chinês é infeliz, obviamente. A nossa postura é democrática, quer de governantes para governados, quer de governados para governantes. Não há qualquer fraqueza na existência de diferentes sensibilidades. Pelo contrário, uma das forças da democracia é a capacidade de reconhecer que há alternativas. Fracos são os poderes musculados, que se mantêm pela força.

3. A eleição democrática do Presidente da República e a sondagem para nomear consensualmente os sucessivos governadores de Macau era meio caminho para a escolha acertada. Mas não garantia (como não garantiu) mais do que isso, porque do cargo podia não se revelar como aquilo que era desejável. Por isso, alguns governadores foram mesmo substituídos antes do previsto e não veio daí algum mal ao mundo.

Se o Vitório Rosário Cardoso pensar bem, há-de concluir o mesmo: as vantagens da democracia não são pôr-nos todos de acordo, mas sim permitir-nos defender pontos de vista diferentes, na expectativa de que a rotação do poder possa gerar aperfeiçoamentos. Em suma: se não tivermos nada a dizer, é melhor atentarmos a quem tem algo a acrescentar ao que já sabemos. E isso raramente se encontra no autocarro...