A maioria deve-se lembrar certamente do antigo edifício do Tribunal Judicial de Base (TJB), ali na Av. da Praia Grande. É um edifício digno de um tribunal: alto, cinzentão, portas altas de madeira escura, escadarias, salas amplas, chão de azulejo, paredes de mármore, tal como um Tribunal deve ser. Esse edifício está agora em obras, e vai ser no futuro a Biblioteca Municipal. Para biblioteca também não está mal.
Mas passaram-se anos antes que alguém resolvesse mexer um dedo. O TJB mudou "temporariamente" para o Macau Square, aqui na imagem, e ainda lá está. Um centro comercial, imagine-se. Isso mesmo, neste centro comercial onde estão lojas, cafés e não sei que mais funciona um tribunal, uma casa de justiça. Macau deve ser provavelmente o único país ou território no mundo onde a primeira instância funciona num centro comercial. Se por acaso estou enganado e agora isto é "moda", então a situação é pior do que eu pensava.
Muitos dos leitores têm acompanhado pela televisão o julgamento dos envolvidos no processo Ao Man Long. É comum ver os advogados a entrar no Macau Square, pasta na mão, e esperar pelo elevador. Isso mesmo, esperam por um elevador, juntamente com outros cidadãos que nem têm nada a ver com isso e muitos até tapam a cara para não serem reconhecidos. Muitas vezes o elevador está cheio, e têm que esperar pelo próximo. Sinceramente qual o interesse em ter um orgão judicial desta importância a funcionar nestes moldes?
Estive lá esta semana como testemunha num processo que nada tem a ver com o referido caso do ex-secretário. Uma confusão. Passa-se do juízo para as salas de audiência, muitas vezes com testemunhas de acusação e defesa espremidas dentro do mesmo elevador. As salas não diferem muito daquelas do antigo tribunal, e o protocolo mantem-se. Mas sabem uma coisa? Não se vê nem a tal estátua da justiça em parte nenhuma. Aquela ceguinha.
2 comentários:
Concordo consigo, penso que as instalações do tribunal não têm a dignidade que a justiça merece.
Como em quase todos os países, a nossa justiça romana é representada por uma deusa grega.
Aproveito para dizer que a Témis, a deusa da Justiça na Grécia Antiga, há muito que não é representada de venda nos olhos, embora muita gente ainda creia que sim.
Durante séculos, a venda simbolizava a natureza da Justiça, que devia ser aplicada sem olhar a quem. Mais recentemente, foi entendido que a Justiça não pode ignorar o mundo e os condicionalismos dos homens que julga, antes devendo ver bem a realidade para melhor decidir.
Já agora, acrescento que a Témis, na sua representação, costuma ostentar pelo menos dois dos quatro símbolos seguintes: o livro ou tábua das leis, a vara da Justiça, a espada da Justiça e a balança do justo equilíbrio.
Enviar um comentário