É com apreensão que leio hoje nos jornais que são cada vez mais os cidadãos que recorrem a meios ilícitos de modo a obter certificados académicos falsos para concorrer a postos de trabalho em Macau. Poupem-me aos detalhes de se a Universidade onde os diplomas foram obtidos funciona desta ou daquela forma. Se os alunos não 1) assistiram às aulas e 2) fizeram os repectivos exames então não vale, e cabe às autoridades de Macau verificar, antes de mais nada, se a tal Universidade existe (por vezes nem existe…). Se a questão passa pela competência/inteligência do aluno ou alunos em causa, este não terá dificuldade em submeter-se a um par de anitos de aulas e a respectiva avaliação.
E se por acaso alguns destes pseudo-diplomados obtiveram colocação ou progrediram nas suas carreiras, isso terá sido devido a algum laxismo dos responsáveis das empresas que permitiram que isto acontecesse, e é natural que os restantes candidatos a esses mesmos postos/promoções se sintam prejudicados e venham dar um murro na mesa. No fundo trata-se de obter “um papel”, partindo do princípio que todos têm mais ou menos a mesma capacidade para desempenhar funções que não exigam abrir caixas toráxicas ou operar reatores nucleares. A triste realidade é que em Macau ainda se promove o nepotismo e a preguiça. Ainda se “vai lá” com um empurrão de mão amiga, ou amiga da amiga.
Ainda me lembro dos gloriosos tempos em que as cartas de condução podiam ser obtidas nas Filipinas a troco de uma mão cheia de patacas. Isto apesar de não estar certo, até não tinha assim tanta importância, desde que o fulano soubesse pelo menos conduzir. Além disso era necessário proceder ao exame de condução em Macau para que a carta fosse reconhecida. A “carta Filipina” servia apenas para escapar ao enfado das aulas e dos meses que todo o processo demorava. Diz-se também que naquele arquipélago os piratas da falsificação eram capazes de decalcar qualquer diploma que fosse, de qualquer universidade. Não existia papel, selo, assinatura ou lacre que não fossem capazes de reproduzir de forma quase imaculada.
Para um território com meio milhão de habitantes e pouco mais de 20 km2 Macau está bem servido de instituições de ensino diurno e nocturno. Senão vejamos, temos a UMAC, o Instituto Politécnico, a Univ. de Ciência e Tecnologia, a escola das FSM para as policias, o Instituto de Formação Turística de onde sai o contigente que preenche os lugares da cada vez mais exigente indústria hoteleira, e até a Universidade Aberta que promove o ensino à distância para os alunos que por alguma razão não possam frequenter as aulas. Com a honrosa excepção de médicos, dentistas, veterinários, farmacêuticos e outros químicos, nem há necessidade de ir estudar lá fora.
Se por acaso alguns pais acham bem que os seus educandos adquiram alguma experiência de vida e conheçam o mundo, sempre os podem inscrever numa Universidade estrangeira, cuja maioria não emite diplomas por toma lá aquela palha. Respeito, mas contudo não compreendo esta decisão. À excepção dos exemplos que referi anteriormente, qual o propósito de frequentar uma universidade estrangeira, que em muitos casos nunca se ouviu falar (não é Harvard, Yale ou Oxford) para mais tarde se integrar no Mercado de trabalho de Macau? Se o propósito não é emigrar, deve-se tratar de algum tipo de preconceito quanto à qualidade do ensino em Macau, que é até na maioria dos casos ministrado por docentes não-residentes de elevadíssimo calibre. Entre alguém que estudou Gestão na UMAC ou na Universidade de Somewheresville (nome fictício), prefiro o primeiro, sempre tem o
inside track tão necessário.
São as exigências do mundo moderno e globalizado. Antigamente tinhamos doutores de dois tipos: os médicos, e aqueles que, tendo frequentado uma Universidade (o que estava ao alcance de poucos), sabiam de tudo! Assim, dizem, se iniciou esta mania de chamar a toda a gente “sôtor”. Hoje em dia em é tudo mais fácil e a frequência de um estabelecimento de ensino superior depende na maioria dos casos da vontade do aluno nem se percebe porque se continua a recorrer a estes subterfúgios. É o vil metal que fala mais alto. E não fosse Macau a meca do jogo, há batota.
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