Sabe quais são os sete pecados mortais? Isso mesmo, são a inveja, ira, gula, luxúria, orgulho, preguiça e avareza. De cometer alguns destes na vida não nos livramos. Esse da luxúria, por exemplo, é giro, não? E a preguiça? É bastante relativo, quem não sente preguiça plo menos uma vez por dia? E a gula, de deixar tantas vezes água na boca? Enfim. Ora bem, se por acaso não conhecia os sete pecados ou por vezes se esquece de um ou dois deles, agora tem mais quatro para se lembrar, os pecados sociais: a poluição ambiental, a manipulação genética, o tráfico de droga e a desigualdade social, divulgou ontem o Vaticano.
O primeiro diz-nos respeito a todos. A partir de agora, poluir é oficialmente pecado. É porreiro que o Vaticano se junte à malta e cante aquele clássico do Joel Branco, "Uma árvore é um amigo", ou que faça o incauto cidadão que atira um papel para o chão e leva multa se sentir um pecador, ainda por cima. Em todo o caso este novel pecado deve ser feito à medida para os senhores da indústria, que estando-se nas tintas para os anteriores sete, talvez se sintam tocados por este. Vai ser vê-los agora de olhos cheios de lágrimas enquanto observam descargas de matadouros ou de fábricas de celulose nos pobres rios e murmurar entre dentes "perdão". Será?
Essa da manipulação genética não está ao alcance de qualquer um. Uma dona de casa que tenha comido dois babás cheios de creme e olhado com despeito para as cashemiras novas da vizinha, pode ser acusada de gula e inveja, mas é improvável que lá entre as maizenas e as
tupperware (em português
taparuére) cometa, mesmo que acidentalmente, um bocadinho de manipulação genética. Não, nem que lhe caia um cabelo na massa do bolo. Este deve ser um pecado destinado a que se construam capelinhas lá nos laboratórios
yankee onde se trucidam embriões para fins científicos.
O tráfico de droga, que antes era um caso de polícia, passa a ser também pecado. Numa tentativa de demover algum traficante (colombiano? brasileiro?) menos preocupado com a polícia mas que seja um fervoroso católico e temeroso a Deus. A questão da "desigualdade social" é mais melindrosa e abstracta. Será que se destina a qualquer um que, saíndo do banco sorridente com as cifras da sua caderneta bancária, se deva sentir culpado pelos miseráveis que procuram a sua próxima refeição nas latas do lixo? Ou apenas os bancários e industriais maus como as cobras que exploram sem misericórdia a classe operária de forma a conseguir os seus ávidos intentos?
Fica-lhes bem que lá no Vaticano se sentem e discutam estas coisas. Afinal já se passou um bom bocado desde a publicação dos últimos sete pecados, e era uma lista que urgia ser actualizada. Mas será que ficam por aqui? E que tal considerar também pecados: consumo de produtos transgénicos e
fast food, especulação imobiliária, corrupção (como é que se foram esquecer desta???) ou condução sob o efeito de bebidas alcoólicas. É mesmo um mundo fodido, este em que vivemos.
1 comentário:
Caro Leocardo,
Sobre o tráfico de droga, ou melhor sobre a condenação à morte de traficantes de droga, achei particularmente interessante a visão dos monges budistas do Reino da Tailândia representada num documentário da BBC "The real Bangkok Hilton". Como é que eles os bonzos defendem a pena de morte nestes casos, se matar é "pecado"? Através da comparação com as "cruzadas" dos Reis do Sião na luta contra os reinos vizinhos, em que tinham de matar os inimigos para defender a Pátria, garantir a segurança e independência do seu povo, ora a morte dos traficantes equipara-se à morte do inimigo da Pátria. Um ponto de vista muito próprio mais de uma filosofia de vida do que de uma religião.
Não confundir Pecados Capitais com os Pecados Sociais. Há tanto e tanto registado no Envangelho, já o leu todo? Eu não, mas os princípios estão lá todos, é só uma questão de dedicarmos um pouco de tempo ao assunto. O problema do mundo de hoje é que as pessoas estão um pouco moucas, ou têm "preguiça" de pensar e/ou estudar porque a papa está quase toda feita e disponível com muita facilidade, e sobre o surgimento dos pecados sociais, certamente que a Santa Sé quis apenas ser mais explícita, do tipo "qual a cor do cavalo branco do napoleão" ao seu rebanho. Logo, não se disse nada de novo, tudo tão antigo, como o verbo de Deus aos homens.
Saudações,
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