segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O último dos leninianos



Estava eu no outro dia na praia em Pattaya, alheado e indiferente aos males do mundo (penso que é uma condição a que os especialistas dão o nome de "Férias"), e numa das duas consultas diárias ao Facebook para verificar o correio deparo com uma cadeia de comentários bastante extensa a uma entrada de...quem mais senão...quem podia ser...?



E como em qualquer policial clássico que se preze, "the butler did it" - o culpado é o mordomo: Carlos Morais José, sempre com um acepipe curto, grosso, seco e frio pronto a servir, o anti-guru sempre disposto a nos recordar que somos escumalha seguidista, e apesar da indignação que isso possa provocar, sabemos muito bem que ele tem razão. Assim sendo, e para mais conseguindo resumir o tema a que dedica em texto em apenas meia dúzia de linhas: levou um "like" em stereo:



Aí está, como sabem o Luís Crespo é o meu "alter-ego", o meu Dr. Jekyll, e também quis dizer de sua justiça. E o mais fascinante é que sim, eu estava exactamente na Tailândia, e não consigo pensar noutra razão para lá estar senão o facto de procurar conforto à medida da minha bolsa num país que me possa oferecer esse prazer à custa da miséria e da opressão do seu povo. E acrescento depois disso: "so f***ing what?", esta é uma predisposição inata da espécie humana - nunca nos sentimos realmente bem sem ter a certeza que há alguém muito pior que nós.

A entrada do CMJ, também conhecido por "Man in Black", chegou aos 62 comentários, incluíndo os dele próprio, que conseguem em alguns casos ser ainda melhores que o texto inicial. O mais interessante é que as reacções mais indignadas da oposição chegam de Portugal, e em alguns casos de pessoas que nunca estiveram na China e pouco ou nada sabem do país a não ser que se trata de uma ditadura, e posto isto "toca a malhar neles" - sempre a uma distância segura, claro, e de preferência que outros o façam que eles dão o sempre imprescindível "apoio moral". E a motivação não podia ser melhor: um movimento inócuo, contraproducente, assente no princípio da arruaça e que se prepara para passar à história sem que tenha produzido seja o que for, não mexendo uma única palha da cabana totalitarista que prometia incendiar. "Ohhh...acabou a festa...butes prá minha casa apanhar uma moca e ver uns filmes, malta, mudamos o mundo noutro dia".

Carlos Morais José responde aos comentários com a frieza e a precisão de um "sniper", com a discreta eficácia de um ninja, implacável e decidido como um "kamikaze" do Inferno, levando tudo pela frente, indiferente ao apelo de viúvas, orfãos e membros da ANIMA, com a diferença de que sai vivo e incolúme do mar de chamas de que deixou o rasto e de onde do chão nem mais uma erva, mesmo da mais ruim, alguma vez brotará. Na vítima deixa o ar horrorizado, próprio de quem acabou de sofrer uma morte horrível e inédita, mas paradoxalmente dos lábios parece esboçar-se um último sorriso, como de quem cedeu ao charme vampiresco desta metamorfose rara de Lúcifer -  e voltaria a fazê-lo sem pensar duas vezes. Os argumentos são muito "old school", rebuscados dos movimentos "hippie", um "flower power" com algum "flower" mas pouco "power", e onde se lê "don't step on the flowers" o "dark knight" irrompe com a sua Harley, atravessando a cerca como se fosse papelão, fazerndo três ou quatro travagens bruscas que iam levantando bem alto quantidades copiosas de terra misturada com flores. No rosto o ar banal, nada impressionado, como de quem faz isto porque tem que ser feito e é ele quem o tem que fazer, mais ninguém, mais nada. No canto da boca o "pintor" acabado de enrolar, meramente decorativo, pois da sua função já tira todo o prazer e obtém a toda a "high" que precisa.

Das poucas vezes que cometi o sacrilégio de me degladiar de capa-e-espada com este Zorro da contra-argumentação, posso-me orgulhar de um ou outro empate técnico, mas apenas em combates com uma forte probabilidade de empate técnico, e isto dando-lhe sempre a última palavra. Nos outros combates em que sei à partida não ter argumentos para contrariar o adversário, faço como já referi aqui no outro dia: imagino que sou um simples operário da Lisnave e jogador-amador da equipa da empresa e estou a jogar contra o Real Madrid. Na fim perdemos por 9-0, e trocamos de camisola com os galácticos. Outros pensam que podem sair dali com uma aventura épica com moral lamechas, do tipo "a união faz a força", investe tudo na primeira jogada e surpreende com um golo no minuto inicial. Ferido no orgulho, o adversário coloca os óculos de aviador, enfia-se no bombardeiro e responde com quinze golos...só na primeira parte. Na etapa complementar o astuto carrasco testa a presa, simulando uma cãibra ou fingindo estar a atar a chuteira, e caso ousem fazer um segundo golo, segue-se mais um enxerto de bola-na-rede, com sorte apenas mais quinze, mas muito possivelmente uns redondos vinte, e no fim ele ainda ri na vossa cara. Digam lá se não é melhor levar apenas nove "secos" e ainda ficar com a camisola da estrela? O segredo é simples, e podem aprender observando as galinhas enquanto estão a ser degoladas: quanto menos espernearem, mais rápido e menos doloroso se torna.

O "Flash" do toma-lá-que-já-almoçaste deixou na edição de segunda-feira do seu oráculo estas notas, mas isso é um aperitivo, salsichas "cocktail" para meninos com dentição provisória. Para os verdadeiros "connaisseurs", o homem que nos consegue convencer que Estaline e Mao eram arcanjos enviados de Deus à Terra e os canalhas americanos plantaram milhões de cadáveres nos seus jardins (é só ler a propaganda norte-coreana, seus básicos, está lá tudo explicado!). A versão mais "hardcore", o torrão de Alicante original, está ali no Facebook propriamente dito. E é só para homens e mulheres de dentes (e barba, para os homens e quiçá algumas mulheres) rijos.

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