O Club Cubic, um espaço de entretenimento nocturno situado no City of Dreams no COTAI, na ilha da Taipa, Macau, e onde nunca pus os pés, está a ser criticado devido à festa de Halloween que vai realizar esta sexta-feira sob o tema "School Massacre". A entrada é livre para as senhoras e/ou meninas, enquanto os cavalheiros e os chungosos terão que dispensar 250 patacas, e tudo para uma noite onde se assinala o início do tríduo de Allhallowtide. "Assinala o quê? Lá está o Leocardo outra vez armado em intelectual" - estará agora a pensar (?) o embrutecido leitor para quem chamar alguém de "intelectual" é pior do que dizer mal da mãe. Se fossem guardar as (raras) vezes em que "pensam" para ir aprender qualquer coisinha de vez em quando, percebiam que nada acontece por acaso, e que o tal "Halloween", ou "Noite das bruxas", em português, não é "uma festa qualquer" que acontece "porque sim" ou porque "apeteceu a uns gajos" fazer. É um tríduo (período de três dias) onde se comemoram os mortos e os mártires nas religiões cristãs ocidentais, e culmina no Dia de Todos os Santos. Outros tríduos incluem o Pentescotes, as Rogações e a Páscoa. Já ouviram falar da Páscoa? Ai foi? Parabéns, olha que amores, tomem lá um doce. Coelhinho e ovos de chocolate ou a morte e ressurreição de Cristo? As duas coisas, claro. Desculpem estar a confundir essas cabecinhas pequeninas mas essa explicação fica para a altura apropriada, quando eu falar nisso pela enésima vez.
Este Halloween é uma festividade com origens milenares e pagãs, e começou a ser comemorada entre os antigos celtas, que acreditavam na visita dos espíritos por altura do fim das colheitas e em vésperas do Inverno, o que explicando detalhadamente daria para fazer quase um ensaio. Mas muito resumidamente esta tradição baseia-se na crença de que fazendo troça das almas penadas, imitando-as ou recriando um ambiente semelhante ao seu (o dos infernos, etc.) estas ficariam baralhadas e davam meia-volta de regresso ao outro mundo - um pouco semelhante ao "mês dos espíritos" no calendário chinês. A tradição foi exportada pelos pioneiros europeus para o novo continente, e terá chegado à América logo a bordo do "Mayflower". Os americanos, que são conhecidos pelo seu lado muito "spectacular, oh yeah", pegaram na tradição e deram-lhe uma nova roupagem, ao estilo "hollywoodesco", e transformaram o Halloween em mais uma máquina de fazer dinheiro. E nem precisaram de inventar nada, pois até os "trick-or-treats", onde os mascarados vão bater à porta de desconhecidos pedindo-lhes doces ou outras goluseimas ou caso contrário partem-lhes as janelas ou enforcam-lhes o gato, é inspirado num costume das terras altas da Escócia chamado "guisling", onde os adultos davam aos mais novos doces, e em troca estes faziam orações em seu nome ou em nome dos seus falecidos. Sendo esta uma tradição cristã de confissão anglicana, não tinha grande impacto nos países de maioria católica, mas começou a espalhar-se primeiro no México e Brasil, depois até à Europa continental e finalmente à Ásia (não sei como estamos de Halloween em África).
A festa da próxima sexta-feira do Cubic chegou ao
New York Daily, que na sua edição do Domingo fala da "indignação" causada pelo vídeo que anunciava o evento (entretanto retirado do YouTube) onde se fazia referência a certos filmes de terror onde normalmente o cenário é a escola e os alunos são metodicamente cortados às postas por um misterioso mascarado que blá, blá, blá, o resto é tão previsível que até mete dó, e na vida real não daria para entender como é que mesmo sabendo que existe um homicida maníaco a esfolar crianças numa escola, não se evacua o seu perímetro, encerrando-a e suspendendo todas as actividades enquanto as autoridades não descobrem o responsável? Aquilo que mais chocou alguns foi o facto das imagens "fazerem lembrar" (não sei, não vi o vídeo) alguns recentes episódios ocorridos nos Estados Unidos e na China, o que revela "insensibilidade" e "falta de respeito" por porte dos seus autores. Ora bem, concordo, têm o meu apoio. Pela mesma lógico EXIJO que não se comemore mais o Dia de S. Valentim, em memória das vítimas do massacre de Chicago em 1929, e façam o favor de suspender o Natal já este ano, por respeito aos mais de 400 mortos nos incidentes da República Democrática do Congo em 2008. Vamos lá a ser justos; ou comem ou todos ou não há nada para ninguém. Pois é, estou a ser cínico, mas não é este exactamente o mesmo critério que está aqui implícito?
A questão aqui não é tanto que se comemore o Halloween, que é uma celebração - e agora deixemos de lado o seu significado ou origem - que não nos diz nada. O problema é a ignorância e o seguidismo desta juventude, que vai facilmente atrás de qualquer coisa onde haja festa, bebida e se proporcione um ambiente de deboche e luxúria. Para mim não tem importância que um maluco qualquer escolha determinada data para satisfazer os seus intentos criminosos, porque como diz muito bem o povo "por morrer uma andorinha não acaba a Primavera", e tanto pode ser aquele dia como outro qualquer. O que deviamos mesmo pedir era mais responsabilidade a Cubics e afins na hora de realizar os seus propósitos (lucrativos, e coisas como o Halloween são um bom pretexto), e que tenham em conta o que pensam os consumidores do mercado onde estão inseridos. Quanto aos jovens que participam destas festas, o Halloween é apenas um tema como outro qualquer para ilustrar a paródia, mas tentem lá saber qualquer coisinha sobre o seu significado, e depois analisem perante aquilo que vocês são, no que acreditam (se acreditam em alguma coisa...), acham certo ou errado, e não se esqueçam no outro Sábado há outra vez farra, seja Halloween ou outra coisa qualquer. Não se preocupem que não estou aqui a insinuar que só por irem à festa têm que cumprir a totalidade dos rituais do tríduo e no Domingo são obrigados a ir pôr flores aos antepassados no cemitério. Nada disso. Sejam é um bocadinho mais conscientes, senão qualquer dia ainda vos vejo a marchar numa parada nazi "porque há animação e gajas boas (ou gajos giros, depende)". Sejam vivos, agora que se comemoram os mortos.
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