Os anos 80 foram férteis em escândalos, rixas, acusações disto e daquilo, partindo de artistas para outros artistas, dos artistas para os fãs, e dos fãs para os artistas: tudo o que de melhor a indústria discográfica tem para oferecer. Sem querer elaborar uma lista demasiado extensiva, aqui ficam alguns dos "casos" da década da música por excelência que deixaram muita gente a corar de vergonha. São as "broncas" dos anos 80.
E nada como uma acusação de plágio para abrir as hostilidades, se bem que esta pecou por (muito) tardia. Em 1980 os australianos Men at Work lançavam no mercado da ilha-continente o single "Keypunch Operator", que era também o seu primeiro single. No lado B estava o tema "Down Under", que se viria a tornar um caso de sucesso, e teria honras de segundo single aquando do lançamento do álbum "Business as Usual", no ano seguinte - o single de apresentação seria "Who Can It Be", que era também a primeira faixa do LP. Nos dois anos que se seguiram, "Down Under" chegaria a nº 1 em vários países, incluíndo o Reino Unido e a Billboard dos Estados Unidos, país onde vendeu dois milhões do total de 15 milhões vendidas no mundo inteiro. O tema, escrito e composto pelo vocalista da banda Colin Hay e pelo guitarrista Ron Strykert tornou-se quase como um segundo hino da Austrália, gravado em vários línguas por diversos artistas de variados países dos cinco continentes, e parecia destinado a ser um caso de sucesso para passar de geração em geração. A bronca deu-se em 2008, quando no concurso "Spicks and Specks", do canal de televisão australiano ABC-TV, surgiu a pergunta: "que canção infantil está contida no tema 'Down Under'". Um dos concorrentes respondeu acertadamente em "Kookaburra", um tema da autoria de Marion Sinclair, uma professora de música que em 1932 escreveu a melodia onde o solo de flauta de "Down Under" se inspira com quase 100% de fidelidade. Sinclair faleceria em 1988, e os direitos de "Kookaburra" foram transferidos para a companhia discográfica Larrikin, que depois de uma batalha judicial muito mal vista pela opinião pública australiana, acabou por se contentar com 5% das regalias obtidas pelo tema dos Men at Work.
Esta não foi bem uma bronca, ou sequer um escândalo, mas deixou muito boa gente sem perceber do que se tratava exactamente. Em 1984 surge o documentário "This is Spinal Tap", do realizador Rob Reiner, sobre uma banda de "rock" fictícia, inspirada nas mega-bandas dos anos 70 e 80, como os casos dos Deep Purple, The Who ou Led Zeppelin. A forma realista como o documentário é feito, incluíndo até depoimentos de figuras reais do mundo do rock'n'roll, levou os mais distraídos a correr às lojas de discos procurar os álbums dos Spinal Tap, que seriam "dezassete, em vinte anos de carreira". Para baralhar ainda mais as coisas, existia mesmo um disco com a banda sonora original do filme, com temas originais escritos e compostos por Rob Reiner e pelos três actores que supostamente compunham a banda: Christopher Guest, Michale McKean e Harry Shearer.
Os prémios MIDEM (acrónimo para "Marché international du disque et de l'édition musicale" - mercado internacional do disco e das produções musicais) são entregues em Cannes, na França, desde 1967. Numa tentativa de dar um "elan" internacional ao certame, a organização realizou em 1986 um pequeno concurso para o qual foram convidadas algumas bandas de destaque em meados da década de 80. O grupo vencedor desse mini-festival foram os Matt Bianco, com o tema "More Than I Can Beatr", mas durante a entrega do troféu, o vocalista da banda vencedora, Mark Reilly, é atacado por um element dos Fine Young Cannibals, outra banda concorrente, que lhe despeja um pacote de iogurte na cabeça. Reilly reagiu mal, e tentou agredir o provocador, mas seria impedido pelos apresentadores da gala, que serenaram de imediato os ânimos exaltados. E isto foi o que de mais interessante aconteceu na história dos prémios MIDEM.
Este só não foi um escândalo maior atendendo à época em que ocorreu, pois tivesse sido vinte, ou até dez anos mais tarde e teria certamente outras consequências. Corria o ano de 1986 quando Mandy Smith, uma modelo de apenas 16 anos, ambicionava a tornar-se estrela "pop", "apadrinhada" por Bill Wyman, na altura baixista dos Rolling Stones. Aqui "apadrinhada" é mesmo força de expressão, pois od dois mantinham uma relação amorosa desde 1983, quando Smith tinha apenas 13 anos, e Wyman 47. A cantora confessou numa entrevista que a relação de ambos se consomou quando ela tinha 14 anos, e os dois acabariam por casar em 1989, para se divorciarem dois anos depois. Smith causou controvérsia na altura por ter sido despromovida de convidada de um "show" televisão para mero membro da audiência, por ser considerada "um mau exemplo para as adolescentes". Depois de uma curta e discrete carreira na televisão, é actualmente crítica e consultora de moda.
E finalmente, para acabar a década em beleza, os Milli Vanilli, um grupo cujo nome é sinónimo de escândalo. O projecto iniciado em Munique no ano de 1988 pelo produtor discográfico Frank Farain, que também tinha estado por detrás do sucesso dos Boney M., consistia de um duo formado por Fab Morvan and Rob Pilatus, ambos dançarinos e modelos, o primeiro francês de origem guadalupenha, e o segundo Americano de ascendência alemã, que se juntaram para formar os Milli Vanilli, e "cantar". E digo cantar entre aspas porque não era bem isso que eles faziam, pois além da sua presence em palco, que encantava os fãs, as vozes eram dos cantores Jordie Rocco e Charles Shaw, que tinham uma aparência, digamos, "menos comercial". O grupo venceu o Grammy para "melhor novo artista" em 1989, muito graças ao álbum "Girl You Know It's True", que foi nº 1 da Billboard. O prémio seria retirado depois de uma investigação do jornalista Chuck Phillips, do L.A. Times, que dsscobriu que as vozes que se escutavam nas canções não eram de Morvan e Pilatus - foi a única vez que um Grammy foi revogado. O duo regressou com o nome de Rob & Fab, desta vez a cantar a sério, enquanto Rocco e Shaw formaram em 1990 os The Real Milli Vanilli, que só durariam dois anos.
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