1) As autoridades policiais de Macau desmantelaram um alegado grupo que se dedicava a tráfico humano, um palavrão feio, uma coisa de que nenhum país ou território se orgulha de se ver envolvido. A polícia encontrou num hotel do centro da cidade - sabem qual é, aquele que fica mesmo localizado numa zona
central, e penso que não é preciso dizer mais nada - trinta e oito mulheres e dois homens, todos naturais da Tanzânia, que alegadamente se dedicavam ao negócio da prostituição. O centro das operações é na cidade chinesa de Cantão, e as mulheres africanas encontravam-se na RAEM a tartar do visto. Uma delas diz ter sido convidada a trabalhar num entreposto comercial na China, e depois de emigrar do seu país de origem foi "obrigada a prostituir-se" assim que chegou ao seu novo destino. Imagino o que será isto de "ser obrigada a prostituir-se" - será que o cliente não se importa que esteja no quarto outro gajo a encostar uma navalha ao pescoço da moça? As restantes mulheres africanas dizem nunca ter ouvido falar de prostituição alguma, e só cá estavam para renovar os vistos, pois claro, e já agora aproveitaram para conhecer a cidade do santo nome de Deus - quem circula pela zona da Rua dos Mercadores, observa por vezes estas mulheres a irem comprar bebidas e "snacks" nos supermercados ali perto, especialmente ao fim do dia. Sempre pensei que isto de "tráfico humano" implicava mulheres acorrentadas no fundo dos galeões, como se fossem mercadoria, e forçadas a habitar um cubículo onde tinham relações com 40 ou 50 homens por dia, e tudo o que comiam era uma asa de galinha cozida e uma tigela de arroz por dia. Se isto que a polícia encontrou é um exemplo de "tráfico humano", vou ali ao 7-11 e já venho.
2) Ontem foi tolerância de ponto, devido ao feriado domingueiro do "Chun Ming", ou "culto dos antepassados", dedicado basicamente à limpeza dos túmulos dos defuntos pelos seus familiares - um feriado lucrativo para a indústria dos panos, baldes de plásticos e produtos de limpeza. Estava eu em casa a "chupá consumiçam", como se diz em bom "patuá", e pelas três da tarde recebo a chamada de uma amiga, uma trabalhadora não-residente (TNR) de nacionalidade indonésia, que me pedia auxílio. Acontece que a moçita saíu de casa toda pimpona, olvidando os documentos, e foi supreenida por uma rusga policial de rotina perto do Pagode do Bazar, ali ao fim da Rua de 5 de Outubro. Sendo eu o seu conhecido mais à mão, pediu-me que fosse ter ao ponto crítico, e que de seguida fosse à sua casa buscar-lhe a mala. Supostamente a rapariga tinha um encontro marcado com um marmanjão qualquer, e em nome da moda uptou por um vestido sem bolsos, e por isso sem lugar para guardar pelo menos o "blue card" - mas lá do telemóvel não se esqueceu ela, e em boa hora, pois assim pode contactar-me e pedir-me socorro. Lá chegado dou com a pobre rapariga acercada de três agentes, um deles uma mulher com farda militar, e mesmo antes que ela me pudesse passar as chaves para a mão, notei a arrogância de um dos policias, um jovem com uniforme da PSP, que a olhou com cara de poucos amigos, indicador em riste, e disse com um ar autoritário "fai-ti, uh?" . Encarei-o durante alguns segundos e fiz-lhe o gesto universal de quem recomenda "bolinha baixa". que tivesse calma, que ninguém ia fugir ou começar ali aos tiros. Por coincidência sei onde a minha amiga mora, a cinco minutos a pé daquele local, e depois de me dizer o andar, fiz-me ao caminho, e antes que houvesse tempo para uma pena de pato pousar, lá estava eu com a mala. O tal agente não se contentou nem com a validade dos documentos, nem com a prontidão com que resolve a embaraçosa situação, e continuou a comportar-se como um "mete nojo", em linguagem técnica. Fiz-lhe uma cara feia, com lábio superior levantado "à Billy Idol", e abanei a cabeça em sinal de repovação - e o que mais podia eu fazer? Fosse comigo, apresentava queixa dele, com toda a certeza. É preciso recordar a alguns elementos das nossas forças de segurança que estão ali a lidar com pessoas, e não com animais, e se ali havia alguma besta, era certamente o sr. agente. Residentes ou TNR's, e mesmo cidadãos em situação ilegal, o que nem era sequer o caso, têm direito a um tratamento minimamente humano, a serem respeitados. Vamos lá a ver se mudamos essa atitude, porque isto de ter o rei na barriga pode ser equiparado a canabalismo, e isso sim, é crime.
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