sábado, 17 de agosto de 2013

Vara comprida


A atleta russa Yelena Isinbayeva, bicampeã olímpica do salto à vara, esteve no centro de uma polémica quando na quinta-feira proferiu afirmações consideradas preconceituasas contra os homossexuais - talvez porque estes não têm uma "vara" que lhe sirva. À margem dos mundiais de atletismo que se realizavam em Moscovo, Asinbayeva disse que "sempre aprendeu que um homem deve estar com uma mulher, e uma mulher com um homem", e disse concordar com a controversa lei que proíbe "publicidade a actos sexuais e manifestações de homossexualidade" na Rússia. A lei, aprovada em Junho último, causou a indignação da comunidade internacional entre os defensores do politicamente correcto, e o protesto de grupos "gay" na Rússia. Mas se era democracia que queriam, é democracia que têm: 76% dos russos concordam com a lei, contra apenas 17% que estão contra. Asinbayeva não está, portanto, sozinha, mas ontem explicou melhor as suas afirmações do dia anterior: "O que eu queria dizer é que devemos respeitar as leis de cada país, e neste caso a do país organizador deste evento", referindo-se à ameaça de boicote por parte de alguns países ao Jogos Olímpicos de Inverno que se realizam no próximo ano em Sochi.

Asinbayeve disse o que disse, e não entendo porque sentiu necessidade de voltar atrás. Se é homófoba ou simplesmente não simpatiza com homossexuais, isso é lá consigo, e outros seus colegas da delegação russa têm feito comentários no mesmo sentido. Aleksey Fedorov, atleta do triplo-salto, disse ontem que a lei em questão "têm em conta a História e as tradições do país". De facto a Rússia discriminalizou a homossexualidade em 1993, mas existe ainda uma grande dose de preconceito contra a comunidade "gay". Aceito que os russos não queiram alinhar na festarola do lobby, um dos mais influentes em países ocidentais e democráticos, mas não posso concordar com esta lei. Não conheço o seu conteúdo na integridade, ou as penas a aplicar a quem não cumpra, mas penso que terá qualquer coisa a ver com a protecção dos menores, para que não sejam educados no sentido de que a homossexualiade é algo "normal". Mas o problema é o seguinte: o que se entende por "comportamentos homossexuais" e "publicidade gay"? Isto pode ser qualquer coisa, desde uma camisola com folhados a umas botas de tacão mais alto, um penteado mais extravagante ou um brinco na orelha, a até o gosto literário ou musical de cada um. É perigoso e promove o ódio, bem como é passível de interpretações diversas. Os russos que se cuidem com a vara comprida da justiça.

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