Faltam poucos dias para o arranque da campanha eleitoral para a Assembleia Legislativa, e já há muito que os motores começaram a aquecer. Algumas listas não perdem tempo e levam a cabo acções de campanha à margem da lei, que nestas coisas da política cumprir a lei é para os nabos. Os paladinos da legalidade que não se cansam de apelar a eleições “limpas e transparentes” vão assistindo ao lixo e aos ratos a acumularem-se em cima dos tapetes persas do salão e baile, e assobiam para o lado. O maior protagonista tem sido, infelizmente, o presidente da Comissão Eleitoral para a Assembleia Legislativa (CEAL), o juíz Ip Son Sang, que tem sido tão desastrado que faz o seu antecessor Vasco Fong brilhar como mil sóis no topo do Monte Olimpo, onde moram os deuses.
A trapalhada mais recente foi proibir a colocação de cartazes e realizar acções de campanha no Largo do Senado, a maior praça de Macau e tradicionalmente um centro de activismo politico: foi ali que os patriotas acenaram com o livro vermelho de Mao durante os acontecimentos do “1,2,3”, foi ali que a população saíu à rua aquando do massacre de Tiananmen, foi ali que se colocou um ecrã gigante de onde foi transmitida em directo a transferência de soberania de Macau, e é ali – ou era – que arrancava todos os anos a campanha, à meia-noite do seu arranque. A razão é fútil, e tem a ver com os turistas, e é por ali que passam, e há mesmo muitos turistas, e sabe-se lá se ainda cai um cartaz em cima da cabecinha de um deles e ai Jesus que grande sarilho. Os turistas não votam mas são eles quem dita onde se pode ou não realizar a campanha eleitoral. Os curvadinhos do poder até batem palmas, como se pode constatar neste texto, e vão mesmo ao ponto de afirmar que “os residentes até evitam passar por ali”. O progresso dá-se a uma velocidade tão vertiginosa em Macau, que nem eu dei pelo dia em que o Largo do Senado mudou para o outro lado das Portas do Cerco.
Quanto aos verdadeiros motivos, podemos especular, procurar motivos que não os da “segurança” alegados pela CEAL. Considerando que a maior parte dos turistas que chegam à RAEM chegam da China continental, e inevitavelmente fazem compras naquela área, imaginem um diálogo entre um deles e um residente:
- O que querem dizer estes cartazes?
- São as listas que concorrem às eleições no dia 15.
- Tantas? Certamente que são autorizadas pelo governo central…
- Não. Algumas são pró-Pequim, mas há algumas do sector da pró-democracia.
- O quê? Mas certamente que as listas tradicionais ganham…
- Ninguém “ganha” exactamente, mas o campo pró-democrata costuma ser o mais votado.
- Pelos chineses???
- Pelos chineses, sim, os de Macau.
- E podem escolher???
Isto sem dúvida que pode constituir um choque para os nossos endinheirados visitantes, que ainda por cima podem voltar lá para cima e contar o que viram. Portanto o melhor é varrer este “lixo” para debaixo do tapete e mandá-lo lá para o Tap Seac ou algo assim, onde não passam os preciosos turistas – nem quase ninguém, para esse efeito. Não acredito que a China tenha encomendado o sermão, case esta teoria se confirme, mas nem precisa. Macau continua a provar que é o “bom aluno”, e mesmo quando o professor não consegue dar o livro inteiro durante o ano lectivo, ele acaba os exercícios. Lindo menino.
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