Quando ouvi este “Heart of Glass” pela primeira vez, pensei ter percebido mal a primeira estrofe: “Once I had a love/And he was a gas”. “A gas”? Um gás? Chamar a alguém um “gás” não sugere uma conotação muito positiva, ainda mais tratando-se da pessoa amada. Devia ser outra coisa, mas as letras impressas no LP em vinil “Parallel Lines”, onde o tema aparecia como penúltima faixa do lado B, confirmavam: era mesmo “gas”. Foi apenas muitos anos mais tarde que descobri que esta era uma expressão muito na voga nos anos 70, e dizer que algo era um “gas” equivale a dizer em português que “é o máximo”. Tive um amor/e era o máximo. Parece-me bem. Os Blondie apareceram em 1974 em Nova Iorque, e o seu apogeu poucos anos mais tarde coincidiu com o movimento “punk”, o que os levou a ser confundidos com o género. Muito menos irreverentes que os Sex Pistols e com uma mensagem menos politizada que os Clash, levaram então as etiquetas de “dance-rock”, “pós-punk” ou “new-wave”. Eram um pouco de tudo isso, e de “punk” também, porque não? Eram os Blondie, com o seu som inconfundível, e a voz da não menos inconfundível Debbie Harry. Prova disso é que “Heart of Glass”, um dos seus maiores êxitos, é ainda um tema que vai resistindo aos tempos, e desde 1979 vai passando de boca em boca, de geração em geração. Os Blondie terminaram em 1982, voltaram a juntar-se em 1997 e agora fala-se de uma nova separação. Pouco sei do trabalho mais recente da banda, mas dá para perceber que Debbie Harry continua em grande forma apesar dos seus 68 anos. Pode já ter entrado na terceira idade – e ninguém diria – mas continua a ser um “gas”.
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