O tabagismo voltou a ser debatido ontem na Assembleia Legislativa, nomeadamente a controversa proibição do fumo nos casinos, esse jardim florido frequentado por famílias respeitáveis e corredores de fundo. Esta discussão é completamente fútil, e quem está convencido que faz alguma diferença a quem frequenta um estabelecimento de jogos de fortuna ou azar que se fume ou não, está a ser teimoso. Já repararam bem na aparência dos indivíduos que frequentam os casinos e casas de apostas? Os seus modos, os palavrões que saem da sua boca, o estado em que deixam os lavabos? Só podem estar a brincar.
De entre os deputados do hemiciclo, até é possível que haja quem esteja genuinamente preocupado com a saúde dos cidadãos, queira poupar os não-fumadores que frequentam os casinos ao fumo passivo, ou simplesmente ache que a indústria do jogo não devia ser excepção quando todos os outros espaços proíbem na totalidade o fumo. E depois há alguma hipocrisia. A deputada Angela Leong, por exemplo, diz-se a favor da proibição na totalidade do fumo nos casinos e apresenta a espaços algumas propostas. Sendo a sra. deputada uma empresária do ramo do jogo, sabe perfeitamente que uma medida deste tipo lhe traria mais prejuízos que benefícios, e custa acreditar que a apoie. Se dá a entender que sim, é porque tem consciência que dificilmente se concretizará.
Mas como vem sendo hábito nestas discussões mais acaloradas que convidam à opinião mais extravagante, a estrela foi Fong Chi Keong, o deputado eleito pela via indirecta dos interesses empresariais. O sr. deputado defende que o tabagismo “não reduz a esperança média de vida”, que isso não passam de disparates para assustar os fumadores, e ilustrou com o exemplo do camarada Deng Xiaoping, que “fumou toda a vida e viveu até aos 90 anos”. Fong foi ainda mais longe, usando ele próprio como exemplo: “fumo desde jovem e tenho os pulmões limpos!”, aniquilando de uma vez as conclusões de anos de pesquisa e avultados investimentos na investigação da relação entre o tabagismo e a morte prematura. Não conheço o sr. Fong Chi Keong e muito menos tive o prazer de me encontrar com Deng Xiaoping, mas posso falar do meu pai, que pereceu aos 51 anos vítima do hábito que o sr. deputado tanto estima e defende com unhas e dentes. Mas também que parvoíce a minha, o meu pai trabalhava que nem um mouro, enquanto o empresário Fong nasceu rico, nunca pregou um prego na vida e recorre aos melhores especialistas que o dinheiro pode comprar quando é acometido de uma simples gripe.
Tenho um colega chinês que domina perfeitamente o portaguês que comparou Fong Chi Keong a um “professor”, pela forma como apresenta as suas teorias mais descabidas. Eu ia mais longe: é um poeta, um filósofo e um santo. É como se o Padre António Vieira tivesse voltado dos mortos, mas com o cérebro devorado pelos vermes. Eu nem levo o sr. deputado a mal, que ele faz o que pode, e só está ali para tratar da vidinha dele e o resto são tretas. Ele gosta de fumar e até hoje ainda não morreu, portanto aquilo não pode fazer mal a ninguém. Que parvoíce. Se gostasse de bestialidade, pornografia com animais, até dizia que as vaquinhas sentiam prazer e atingiam o orgasmo. Não se deixem enganar por aquela carinha de tanso, que ele está ali para nos orientar no bom sentido, para que não sejamos enganados por esses tipos que dizem que o tabaco faz mal e não sei quê. Uma vez que não concorre às eleições de 15 de Setembro, nem pela via directa nem pela indirecta, que seja nomeado pelo Chefe do Executivo para mais um mandato, onde nos vai generosamente transmitir os seus vastos conhecimentos durante mais quatro anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário