Entre os nossos reflexos involuntários mais comuns do dia-a-dia, bocejar é sem dúvida um dos mais agradáveis. Pode ser que o acto de bocejar se deva ao sono, a uma noite mal dormida, mas se o cansaço pode ser prejudicial às restantes funções motoras, bocejar alivia algum do stress da situação. É como abanar o tanque com o combustível quase no fim, par aver se ainda chegamos à meta. Quando alguém boceja, quase sempre outro o imita, e diz-se mesmo que é contagioso. Dessa complexa ciência que é a psicologia, existem mil e uma razões que explicam o porquê de algumas dos nossos reflexos ou reacções mais curiosas. Muitos se lembrarão certamente de um anúncio televisivo dos anos 80, da loção Quitoso, um produto para combater os piolhos, e que nos levava a coçar a cabeça. Este é um exemplo de um reflexo induzido por sugestão, mas no caso do bocejo, trata-se de empatia. Isso mesmo, quando alguém boceja sentimos a necessidade de transmitir a essa pessoa a ideia de que o deu cansaço é uma situação normal, e bocejamos também para que ela não se sinta diminuída pela seu estado de vulnerabilidade, e fazemo-lo mesmo que não tenhamos sono ou nos sintamos cansados.
Se isto é já por si um facto fascinante, mais interessante se torna graças a um estudo realizado por cientistas japoneses, que demonstra que os cães partilham com os humanos essa empatia. Os cientistas reuniram 25 cães e alguns dos seus donos, bem como outras pessoas estranhas aos animais. Os humanos bocejavam, ou fingiam que bocejavam, e após alguma confusão inicial (o que estou eu a fazer aqui, e o que querem estes tipos?), os cães retribuíam bocejando também. O mais curioso é que os amigos de quatro patas respondiam com mais entusiasmo aos bocejos genuínos, e tinham uma reacção mais passiva aos bocejos fingidos. As batidas cardíacas dos cães eram medidas durante a experiência, e registavam uma alteração significativa perante a mímica dos humanos, indicando ansiedade em reagir, em transmitir também algum sentimento correspondente. Pode não ser um estudo muito útil para o bem da humanidade, e basicamente só prova que os bocejos são contagiosos, mesmo entre espécies distintas. Mas também sugere que se existe uma ligação entre cães e homens num mecanismo específico como a empatia, podendo existir outras que nos aproximam em termos emocionais. Se os cães pudessem falar, certamente que diriam ao humano que lhes provocou o bocejo: “Sabias que isso pega-se, pá?”
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