1) A última vaga de contos do vigário continua a fazer-me pensar que uma boa parte da população de Macau vive muito perto das nuvens. São uns ingénuozinhos. Uma senhora terá assinado um documento em que se comprometia a pagar juros altíssimos por um empréstimo de um milhão de patacas que diz ter assinado “sob o efeito de drogas”. Tudo começou quando aceitou financiar um projecto milionário na China continental, e viria depois a descobrir que foi ludibriada, e fez queixa à polícia. As autoridades suspeitam que outras pessoas tenham caído em truques semelhantes, mas têm “vergonha” de denunciar. Noutro caso, já hoje, um indivíduo penhorou relógios falsos, obtendo qualquer coisa como 120 mil patacas. Na zona norte da cidade e na Taipa sucedem-se os casos de pequena fraude, com indivíduos a convencer cidadãos a emprestar-lhes dinheiro, a pedir dinheiro para voltar a casa “porque perderam tudo no jogo”, enfim, um pouco de tudo. Os cidadãos de Macau continuam muito crentes, e de vez em quando lá aparece um caso de uma idosa que foi ao banco levantar todas as economias porque acreditou no “milagre da multiplicação” das notas, e acaba com um saco de laranjas. Haja polícia para todos estes gatunos, mas haja ainda mais educação para que as vítimas não sejam tão...parvinhas.
2) O presidente Hu Jintao vai iniciar amanhã uma visita a Portugal, a primeira de um chefe de estado chinês em 11 anos. Excelente notícia para nós em Macau, que será certamente um dos assuntos em cima da mesa do bacalhau com
chau min, e excelente notícia para os portugueses, que têm quem lhes compre mais dívida. Como disse muito bem o meu colega Arnaldo Gonçalves, esta visita prova que não há qualquer ressentimento entre a China e os ex-colonizadores, e eu acrescento que a China gosta dos portugueses, acha-nos interessantes (talvez porque inofensivos...), divertidos, bonitinhos, e não se importa de ser a primeira a ajudar quando há crise. Como o dinheiro chinês chega a Lisboa a grande velocidade, era gentil que os habituais paladinos dos direitos humanos e da democracia que nada fazem por esses valores a não ser barafustar se abstivessem das habituais demonstrações de ignorância com que nos brindam cada vez que os visita uma alta individualidade chinesa. A crise toca mesmo a todos, e era interessante que os portugueses, especialmente alguns opinadores em grande jornais, reflectissem antes de criticar quem lhes dá a mão. Fica bem falar mal da China, porque é um estado musculado, aperta nas liberdades e nos direitos mais básicos, mas olha quem vem aí ajudar com os bolsos cheios de dinheiro. E quanto aos outros que gostam de mandar bocas aqui para Macau sem nunca ter cá estado, olha, não cuspam no prato onde comem. Nós aqui estamos muito bem e nem precisamos de esmolas.
3) Tem feito um tempo bastante merdoso em Macau nos últimos dias, e ontem chegou a chover, pasme-se, torrencialmente. Em pleno Novembro! Deve ser a tal de “November Rain”. Tem feito frio, o que como os leitores sabem, é algo que me agrada. Mas sem a presença do rei Sol, não tem piada nenhuma. A chuvinha que ainda persiste a esta hora estragou a inauguração do Festival de Gastronomia, realizado nas imediações da Torre de Macau. Prometo ir lá um dia destes, mas muito provavelmente depois de uma semana, para deixar as coisas assentarem primeiro (e além disso tenho imensa Internet TV para ver).
10 comentários:
" Como o dinheiro chinês chega a Lisboa a grande velocidade, era gentil que os habituais paladinos dos direitos humanos e da democracia que nada fazem por esses valores a não ser barafustar se abstivessem das habituais demonstrações de ignorância com que nos brindam cada vez que os visita uma alta individualidade chinesa."
Não sei se estou a perceber - Acha que deve ficar tudo quietinho e caladinho, não exprimir divergências, bajular os dignatários chineses para eles não se aborrecerem e largarem a massa?
Se o interpretei mal, peço desculpa.
Se é esta a ideia, só um comentário - que disparate!
Numa altura em que em Portugal se passa fome e se abre um processo nacional de falência, atitudes anti-China fazem todo o sentido... fazem...
Pobres e mal agradecidos.
AA
Não sei o que são direitos humanos,apenas sei que se Portugal tivesse pena de Morte não haveria tantos crimes e corrupção e Portugal seria 1 país muito mais evoluído.Democracia e liberdade não é fazer o que bem apetecem,as pessoas ainda não sabem o que é democracia.
Ora aí está, o efeito desejado.
Caro Pedro: compreendo muito bem o que sente, e não, não interpretou nada mal. Eu estaria do seu lado em circunstâncias normais, mas acho que não fica nada bem andar com a mão direita a pedir, e com o braço esquerdo levantado no ar em protesto.
Permita-me uma comparação quiçá absurda: a Coreia do Norte muitas vezes recusa ajuda alimentar do Sul porque não quer fazer concessões (muitas vezes pífias), e prefere deixar o seu povo a morrer de fome.
Vir em ajuda de Portugal num momento de crise económica não faz da China um país bom, ou perfeito, mas o mínimo que se pedia era que se respeitasse o visitante que não vem passear nem ostentar-se: vem ajudar.
Em todo o caso respeito a sua opinião, que no entanto é diferente da minha.
Cumprimentos.
Os chineses quando ajudam alguém,não ajudam por ajudar,ajudam porque sabem que é bom para as duas partes.Os chineses não são burros.
Vendemo-nos por uns tostões é ó Leocas.... seu palhaço sem espinha!!!
Ouvi hoje na RDP que tem havido problemas de interpretação ou tradução à mesa das negociações. Portugal, actualmente, não dá uma para a caixa. Nem para ser ajudado serve.
epa, como é possível q haja problemas de traduçao nas negociacoes?? os gjos do governo nao tinham q tar minimamente preparados pra receber a malta chinesa?? sao mesmo uns incompetentes... só gostam de desenrascarem, o que causam uma má figura aos chineses, que gostam que tudo fique bem organizado... e akela em que o guarda de honra caiu do seu cavalo... é mesmo de lamentar a (falta de) organização portuguesa à vinda do presidente chinês em portugal...
"Os chineses quando ajudam alguém,não ajudam por ajudar,ajudam porque sabem que é bom para as duas partes.Os chineses não são burros."
Pois é. Os chineses, os portugueses, os americanos, os... os... os... Não há almoços grátis. Nestas questões de política internacional não há gestos altruistas... Há algum país que "ajude" sem contrapartidas?
Isto ainda vai dar barraca porque o Trócaste e o Teixeira dos Bancos ainda vão tentar cobrar impostos aos governantes chineses por terem entrado em Portugal.
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