Harry Potter and the prisoner of Makauzkaban

Como o leitor mais atento deve ter reparado, ontem voltei a não actualizar o Bairro do Oriente, o que se deve àquilo que convencionei chamar "febre de sexta-feira à tarde", em que sou acometido de grandes doses de preguiça e letargia depois de mais uma dura semana de trabalho, família e blogue combinados diariamente em doses que pouco tempo deixam para fazer coisas como descansar ou dormir.

Posto isto, queria comentar sobre o caso que mereceu destaque nos três diários de língua portuguesa do território. O presidente da Associação do Novo Macau Democrático (ANMD), Jason Chao, diz que foi "marcado na área" pela polícia durante o último fim-de-semana, quando passou pelo território o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao. Isto parece estranho quando se olha para Jason Chao, um indivíduo assim com ar de Harry Potter chinês, que inspira mais peninha que medo. Contudo trata-se de um indivíduo inteligente, educado, e presidente daquela associação que ganha sempre as eleições semi-democráticas que se realizam para a Assembleia Legislativa. Depois de Ng Kwok Cheong, Au Kam San e Paul Chan Wai Chi, Jason Chao é o quarto mosqueteiro.

Sempre disse que a visita de Wen Jiabao foi o acontecimento da semana passada, e não o tal Fórum da Cooperação etc, etc. que a imprensa chinesa praticamente ignorou. A preparação e a segurança eram as prioridades principais para a visita de Wen Jiabao, e não para o Fórum etc, etc, repito. Assim, a polícia resolveu vigiar de perto alguém que pudesse dizer qualquer coisa desagradável ao primeiro-ministro chinês. Não sei se seria um bom momento para andar a dizer coisas desagradáveis a alguém da importância de Wen Jiabao, num momento tão sensível de crise como este, em que a China se dispõe a ajudar economias falidas, e vá lá, sejamos pelo menos um pouco práticos. A mim não me apetece andar a chatear alguém que me anda a sustentar sobre coisas comos direitos humanos e dissidentes, e não sei mais o quê, se essa também é parte do dinheiro que tenho no bolso.

Do que muita gente às vezes se esquece é que existe uma grande franja da população de Macau que é chinesa, ama a pátria (isto sempre me soou mal, "amar"), e apoia incondicionalmente o governo e as suas políticas, isso tudo. Ora naquela que seria a primeira visita de Wen Jiabao ao território, teria de se encontrar com os seus pares, e não com os seus contestatários e afins. Dado que a visita de Wen Jiabao coincidiu com o tal Fórum etc, relegado para segundo plano, não era um visita política directa, como se o primeiro-ministro dissesse: "Vou aí de propósito a Macau". Não, oficialmente veio para o tal fórum. Se Jason Chao acha mal que os contactos que Wen Jiabao teve em Macau foram "coreografados", eu digo que foram os acertados. Foram as tais pessoas de que falo acime neste parágrafo.

Portanto mais ou menos explicado porque é que importava ver o que é que o Jason Chao andava a fazer, se bem que não concordo que se ande a vigiar quem quer que seja sem qualquer tipo de suspeita formada. E foi aí, na forma, que a polícia terá agido mal. Não se chega ao pé do tipo na rua e diz-se "é tarde, vai para casa". Isso é tão desumano que até um colega meu bastante conservador diz que no lugar do Jason Chao filmava tudo e colocava no YouTube e nos fóruns. Jason Chao diz que cooperou com as autoridades, e "deu-lhes a sua agenda de fim-de-semana", e que depois da saída de Wen Jiabao pela fronteira da Ilha da Montanha, a polícia "evaporou-se". Agora pode voltar tudo ao normal. Ah sim, a PSP desmente tudo, o costume. Este caso nem animou assim tanto o aborrecido fim-de-semana do Grande Prémio de Macau.