A questão da habitação social e dos bairros antigos e degradados deixa-me a pensar. A pensar sobretudo que hoje em Macau existem duas cidades dentro de uma só. Primeiro a cidade do luxo, da ostentação, das
neon-lights dos casinos e da obesidade causada pelas grandes comezainas e o uso ostensivo do automóvel. Do outro lado a cidade de pessoas que vivem em casas baixas, cinzentas, vestem-se mal e andam pelas ruas e pelos autocarros com bebés enrolados às costas.
Assistimos nos dias que correm a um verdadeiro desligar destas duas realidades. No primeiro mundo vemos uma sede desenfreada de inaugurar, de criar, de investir, de enriquecer ainda mais e a todo o custo. Do outro lado vemos a degradação, o envelhecimento, o abandono. Uma cena digna de Dickens, mas com uma grande diferença: aqui os pobres e os velhos ficam à espera que o governo resolva os seus problemas, e na verdade até vai resolvendo. Ou pelo menos tenta.
Basta apanhar um autocarro do Fai Chi Kei até à Barra para conhecer uma cidade fabulosa que me faz lembrar a faixa industrial do Barreiro nos anos 80. Dentro do autocarro vemos caras cansadas, borradas, jovens em uniformes da escola (sim, até ao Sábado), velhotas com sacos, gente a falar alto no telemóvel.
Daqui da janela de casa posso ver a Casa do Mandarim, a Barra, e pelo meio as casas com telhados de zinco enferrujados. Tão enferrujados como os aprestos marítimos que se encontram ali nas Pontes-Cais do Patane, não longe do hotel/casino/museu Michael Jackson, a Ponte 16, um empreendimento que francamente destoa, rodeado de hotéis outrora famosos e agora condenados.
Nem vale a pena falar das barracas na Ilha Verde ou naqueles blocos de cimento onde milhares de pessoas vivem como formigas na Areia Preta, que para ilustrar um ponto não é preciso exagerar. Um mundo de diferenças de todo o progresso e desenvolvimento que vemos na Praia Grande, no Hotel Lisboa, no NAPE ou no COTAI. Será de propósito ou é “mesmo assim”?
3 comentários:
Na Areia Preta já nem toda a gente vive como formigas. Quem vive nos novos arranha-céus como o "La Cité" ou o "La Baíe du Noble", vive muito mais confortavelmente do que a maior parte das pessoas que vivem no centro da cidade.
Alguém já viu imagens aéreas de Macau? Parece uma favala.
Qualquer sociedade tem ricos e tem pobres. Nao descobriu a polvora.
Enviar um comentário