terça-feira, 23 de março de 2010

Rua Macau


No outro dia li uma notícia sobre a tal lei em Portugal que depois não permite que se dêem nomes de ruas a pessoas ainda vivas. Estranho, porque será que nunca ninguém tinha pensado nisto? Já sei, se calhar porque é estúpido. Faz-me lembrar um episódio dos Simpsons em que mudam o nome da Dalai Lama Express Way para Michael Jackson Express Way, porque o cantor alegadamente tinha passado por lá.

Sei que na Amareleja a actriz Eunice Muñoz têm uma rua com o seu nome, e há muito tempo em Lisboa há uma Rua Actor Taborda, dedicada ao mito da luta-livre dos anos 50, Tarzan Taborda, que morreu muitos anos depois. Não sei se há uma Rua Nicolau Breyner em Serpa, ou uma Rua Paulo Futre no Montijo, mas não faltarão já ideias para ruas com os nomes de José Mourinho em Setúbal, de Pedro Pauleta nos Açores, e de Cristiano Ronaldo na Madeira. Acho que Eusébio da Silva Ferreira já merecia uma rua com o nome dele. Desconheço se Amália Rodrigues já tem uma rua com o nome dela (José Afonso e Ary dos Santos têm muitas), mas merecia ter tido ainda em vida. Com a típica amnésia nacional, mais rapidamente dão um nome de rua a Mariza.

Em Macau temos três personalidades vivas – umas melhores que outras – com nomes de ruas catitas. Assim temos aqui perto de casa a Avenida Doutor Stanley Ho, que é sobretudo um troço de estrada. Temos depois a pomposa Avenida Doutor Mário Soares, onde fica sem mais nem menos o edifício-sede do Banco da China em Macau. Depois lá em Coloane, meio escondido, temos o Largo General Ramalho Eanes, que foi tropa aqui em Macau. Dos que não estão vivos mas deram um contributo recente ao território, estão representados o Dr. Carlos d’Assumpção, com alameda e jardim, e Adé dos Santos Ferreira, com um passeio. Não faltam ainda os nomes de ilustres figuras macaenses, como Pedro José Lobo e Pedro Nolasco da Silva. Não faltam reis, presidentes, navegadores, poetas e outras figuras da História de Portugal: Infante D. Henrique, Afonso de Albuquerque, Sacadura Cabral, Jorge Álvares, que tem rua, estátua e fundação. Curiosamente fiquei a saber graças a uma excelente reportagem de João Guedes no JTM que o tal Francisco H. Fernandes (o H. é de Hermenegildo) que tem uma rua ali no NAPE era um jornalista de Macau, o que é sempre refrescante.

Macau deve ser a cidade do mundo com mais nomes de padres em ruas. Alguns obscuros (Padre António), outros mais bem identificados (Padre Eugénio Taverna), outros espectaculares (Rotunda São João Bosco). Mas o que dizer quando o nome das sete freguesias de Macau são tirados das igrejas respectivas: Sé, Santo António, São Lourenço, São Lázaro, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Carmo e S. Francisco Xavier? Já era tempo para se dar um nome de rua ao Padre Manuel Teixeira, que viveu 60 anos no território e foi o que mais próximo tivemos de um investigador-historiador. E porque não do Padre Francisco Fernandes, que ficou em Macau até ao fim da sua vida?

Penso que ainda não existe uma Rua Deng Xiaopeng, mas penso que devia existir, como figura incontornável da história de Macau e Hong Kong. Depois o que não falta por aí são personalidades, que de uma forma ou outra, se destacaram na vida social e económica de Macau, que mereciam ser agraciados com tal distinção. Ruas com nomes como Erva, Porco, Caracol, Beco Escuro, Escadas do Quebra-Costas ou Travessa da Chupa podiam ser muito bem substituídas por alguns dos nomes que fizeram Macau. Também não percebi bem a ideia de começar a disparar com nomes cosmopolitas para as ruas novas do NAPE e da Taipa: Berlim, Paris, Roma, Bruxelas, Madrid, Cidade de Sintra (que não é uma cidade), Aveiro, Bragança, Évora. A juntar Pequim, Xangai, Nagasaki e Malaca, temos aqui meia volta ao mundo. Uma cidade que quer ter história devia estar orgulhosa dos que a construíram. Dar nomes de ruas a personalidades é uma forma de preservar essa história. E depois para mim pouco importa estar vivo ou morto. Interessa é que o mereça.

12 comentários:

Anónimo disse...

"pouco importa estar vivo ou morto. Interessa é que o mereça."

Aí é que está o problema.

Então imagine que era atribuido um nome de rua a uma personalidade (ainda viva) qualquer, em homenagem por exemplo ao seu percurso político ou ao contributo para a sociedade ou ao talento artístico, ou qualquer coisa parecida.

E imagine que uns anos depois, o homenageado fosse apanhado envolvido numa rede de pedofilia? ou num enorme esquema de corrupção? ou assassinasse alguém e depois ainda por cima fugisse à justiça?

Já imaginou a enorme risasa que seria? E depois mudavam o nome da rua outra vez? com os enormes transtornos e custos que tal causaria?

Eu creio que é uma das razões pelas quais os nomes de rua têm de ser dados apenas a pessoas já mortas, tal como acontece no processo de canonização. Para ter certeza que a pessoa realmente mereçe tal honra (embora claro que também podem surgir novas provas depois de morta, mas é mais raro).

Outra razão será certamente para evitar esquemas do tipo compra de nomes ou pagamento de dinheiros sujos em troca de nomes de ruas.

Depois de já ter tudo, haverá coisa mais apetecível para alguns milionários lá da terra do que ver o seu nome dado a uma rua ou avenida?

Leocardo disse...

?!?! Essa é a justificação para a tal lei ou quê?

Anónimo disse...

Que dessem nomes de personalidades às tais ruas de Aveiro, Braga, Sintra, Pequim e não sei que mais, estou de acordo. Já discordo quando se trata de nomes típicos como Rua da Erva, Escada do Quebra-Costas, Travessa das Bruxas, Travessa dos Ladrões ou Azinhaga dos Piratas, para além de outras com nomes ainda melhores de que agora não me lembro. Nesses nomes está, certamente, muita da história de Macau, que também se faz dessas pequenas coisas como nomes de ruas.

Anónimo disse...

Alto lá! Ó Leocardo, não misture o velho actor Taborda com o Tarzan Taborda; vá lá à enciclopédia...
E em Macau, no rol dos mortos, ficaram no tinteiro o Almeida Ribeiro e o Coronel Mesquita? De resto, um belo post.

Anónimo disse...

Mas onde que fica esta travessa de chupa?ponto de referencia?

Leocardo disse...

A Travessa da Chupa fica uns 200 metros frente do Templo de A-Má, quem vai na direcção da Praia Grande. O nome em chinês significa "Terceira travessa do templo de a-má".

Cumprimentos

Anónimo disse...

Amigo Leocardo,
O nojo que o comentário anterior me faz até me deu vontade de não escrever, mas isso era fazer concessões a gente indigna.
A rua Actor Taborda fica em Lisboa no Bairro dos actores, perto do Areeiro, onde na toponímia figuram os maiores nomes da Cena Portuguesa antes do advento em força do Cinema. Nomes com a grande Ângela Pinto, Rosa Damasceno (esta perto do antigo cinema Império), que foi amante do rei D. Luís, e os actores Vale e Taborda, que tão populares eram que apenas pelos seus apelidos eram conhecidos.
Outra coisa: os chineses acham ridículo pôr nomes de pessoas a ruas e nisso estou 100% de acordo com eles. Estou a lembrar-me de amigos chineses dizerem a rir que em Maputo havia uma rua com o nome do Mao. Não estou, por isso, a imaginar em Macau uma rua com o nome do Deng.
Raul (de Pequim)
P.S.
O amigo Leocardo devia apagar o comentário anterior para não haver "misturas".

Anónimo disse...

Como não estou a ver nenhum comentário que possa causar indignação, suponho que o Leocardo já o apagou.

Gostava mais quando aparecia no lugar do comentário apagado o aviso "Comentário eliminado pelo administrador", ou qualquer coisa assim. É que, sem aparecer absolutamente nada, às vezes até parece que alguém está a ter um ataque de esquizofrenia ou outra coisa pior.

Leocardo disse...

Não apaguei nenhum comentário neste post, e não sei a que comentário o leitor Raul se refere.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Eu não estou louco nem tive visões e estou seguro que antes de mim havia um comentário nojento contra o Leocardo. Como apareceu e desapareceu, não sei, mas que estava lá, estava.
Raul

Anónimo disse...

Oh Raul porque estás tão indignado?Quase que aposto que és tu o tipo que enviou o comentário nojento ao Leocardo,e se o Leocardo apagou o comentário nojento acho MUITO BEM.Aqui é para comentar e não para insultar e provocar.Há tipos cobardes que passam a vida online a insultar e a provocar e outros.São uns frustados e cobardes.Ou tem é falta de sexo.

Anónimo disse...

Raúl de Pequim? O leitor careca de bigodinho que dava aulas na UM?