sábado, 27 de março de 2010

Os blogues dos outros


Comentei aqui, em post anterior, as notícias alarmantes de práticas pedófilas por padres católicos, considerando-as actos ignóbeis que merecem a repulsa e a denúncia da sociedade e da estrutura da Igreja Católica. Tive o cuidado de resguardar-me de generalizações, considerando que os actos de alguns não podem manchar todos os outros; mas não pude deixar de constatar que este é um problema antigo que tem estado cometido a um estatuto de pacto de silêncio. Trata-se pelo conhecimento que tivemos do fenómeno (por exemplo pelo caso Casa Pia) de um problema que lança natural perturbação (e alarme) nos não-crentes e na sociedade, em geral. Percebo-o, como material explosivo, capaz de dar munições aos partidários de um ateismo viral e opositores do regresso do divino, ao plano social e no debate das ideias. Falei e falo como laico e como deista, condição a que me reconduzo, tolerando quem, por um lado, se assume como crente da religião católica e os que, por outro lado, não perseguem qualquer crença. Costumo dizer, muitas vezes, que estudo numa Universidade Católica porque houve um Concílio Vaticano II e um Papa que reverenciei e reverencio chamado João Paulo II. Isso não faz de mim um crente, já que como escreveu um pastor protestante, em 1723, me (apenas) revejo na religião na qual todos os homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias. As palavras de Bento XVI ditadas pelos acontecimentos da Irlanda são oportunas e sentidas; atento o melindre da situação elas são uma afirmação corajosa que a Igreja Apostólica Romana está atenta ao problema, mas elas dificilmente poderão ser levadas à prática, se a hierarquia, aos diversos níveis, não interiorizar esta orientação. Nada justifica que os prelados sejam, nesta matéria, tratados de forma diferente dos homens comuns e com uma condescendência perante um crime que nos repugna a todos nós, homens de Bem, bons e leais.

Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Num dos inúmeros - e farisaicos - actos de contrição de Tiger Woods, ouvi-o dizer que passou por uma fase de "descontrolo tresloucado" e que tal foi "horrível", dizendo-se "profundamente arrependido" (sic). Ao deparar-me com uma fotografia de Cristina Del Basso (deparei-me com mais que uma, em bom rigor, mas as outras não posso postar neste blogue familiar), uma das suas amantes - fazendo fé nos mentideros -, questiono-me se o estado de loucura já lhe terá passado e se era mesmo doidice o que o movia. Que foi "horrível" e que está "profundamente arrependido", não tenho dúvida nenhuma: foi apanhado de calças na mão - passe a expressão - e, lá diz o povo, roubar qualquer um consegue, não ser apanhado é uma arte.

VICI, MACA(U)quices

Hoje de manhã fui dar uma corrida para fazer um pouco de exercício. Ao fim de 3 minutos desisti pois o ar está tão poluído que custa imenso a respirar. Deve ser a isto que chamam qualidade de vida…

El Comandante, Hotel Macau

Não é contra nada nem contra ninguém, não é nem bandeira de um partido nem de uma ideologia: é um símbolo nacional e nela se revêem todos os Portugueses. Hoje, após 100 anos de ausência, voltou triunfante e abraçou Lisboa. Não houve vandalização ou ultraje à bandeira do regime em vigor, não houve provocação nem se violou lei alguma. Subiu e parou a meia haste, como se pedisse aos Portugueses um momento de recolhimento e meditação e lhes lembrasse o difícil transe de luta pela sobrevivência em que esta comunidade se debate. Foi um apelo à unidade e à reconciliação nacional.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Entre 15 de Outubro de 1910 e 19 de Junho de 1911, a bandeira nacional foi alvo de acérrima contenda entre os republicanos, a chamada “Polémica das Bandeiras”. Para os revolucionários, por forma a marcar a mudança de regime, urgia mudar o mais importante símbolo nacional. Então estiveram em confronto a facção moderada representada por Guerra Junqueiro, que defendia a manutenção das cores azul e branca, e a facção radical liderada por Teófilo Braga, que defendia a adopção das cores “verde-rubra” da bandeira do Partido Republicano como nova bandeira nacional. Sobre a escolha triunfante é conhecida a opinião do poeta republicano que afirmou sem rodeios ser “uma bandeira de pretos”.

João Távora, Corta-Fitas

O ministro das Finanças deve ter andado a aprender magia. Como se sabe, Teixeira dos Santos disse ter-se enganado no défice do ano passado, que ele garantia em plena campanha eleitoral ser o antes previsto e que passou a ser outro muito superior depois das eleições legislativas. Um erro monstruoso que só foi alterado semanas mais tarde, em tempo conveniente para o PS. Agora, ao falar do PEC e de 2013, Teixeira dos Santos declara que não quer apenas aproximar o défice dos três por cento, nem sequer chegar ao objectivo desejável dos três por cento certos. Não. O que o ministro das Finanças declara é que o défice em 2013 será de 2,8 por cento. É obra. Em curto tempo, comete erros grosseiros; mas, a três anos de distância, é de uma precisão impensável. Se não é alguma bola de cristal que recebeu por conta do IRS de um vidente, então o mágico é ele. O que significa coisa nenhuma, porque já ninguém acredita em mágicos.

João Carvalho, Delito de Opinião

Os efeitos mais nocivos da reforma da educação do Governo foram a desautorização dos professores e a violência escolar. Os professores, os auxiliares e os alunos sentem na pele essa política quando são agredidos verbal e até fisicamente.» [DN]
Parecer:
O mínimo que se pode dizer deste artigo de opinião de Paulo Pinto de Albuquerque é que ou o autor esteve muitos anos no estrangeiro, o tem um grave problema de memória ou não hesita em partir de premissas erradas para expor opiniões que só são sustentáveis nessas falsas premissas. Qualquer pessoa deste país sabe que a perda de autoridade dos professores deste país tem décadas.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Arquive-se e sugira-se a Paulo Pinto de Albuquerque que seja mais rigoroso na forma como analisa a realidade ou que tome umas pastilhas para a memória.»


Jumento, O Jumento

Jesualdo Ferreira gostaria de ser cómico. mandar umas piadas e a malta bater palmas. Não tem jeito nenhum. Terá que procurar outra profissão além daquela em que se dedica a apresentar desculpas pelas derrotas vergonhosas do FC Porto. Com o Hulk e Sapunaru em campo já o FC Porti jogava mal e nunca conseguiu estar à frente do Braga e Benfica. As desculpas de mau pagador são ridículas. Agora com a redução de pena para os dois jogadores agressores de pessoas que encontram pela frente, o ultrapassado Ferreira veio logo tentar revoltar os adeptos do FC Porto contra tudo e todos, excepto contra ele tal como já estava a acontecer depois daquela miserável exibição no estádio do Algarve onde comeu com três secos sem espinhas. Levem o homem para a pesca, caça, passeios no Douro, costura, passagens de modelos, teatro do La Féria, massagens na Tailândia ou qualquer actividade lúdica onde o homem não diga mais asneiras e se possa distrair e gozar os milhões que tem. A bem do FC Porto...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Um estudo mostra que 43% de portugueses sofreram de perturbações mentais ao longo da vida. Uns sofrem de depressão, outros de mania das grandezas, outros do sindroma do mentiroso outros ainda atingiram o ponto de loucura de se verem como os heróis deste país. Infelizmente os cargos públicos estão cheios deles.

Kaos, WeHaveKaosInTheGarden

Num país que compra e lê poucos jornais, um “jornal de letras, artes e ideias” resistir 30 anos é em si absolutamente extraordinário. Ter a capacidade de continuar a renovar-se, é ainda mais extraordinário. E ganhar uma nova vida, é a cereja em cima do bolo. O JL que ontem chegou às bancas ganhou uma nova vida – um design rejuvenescido, elegante, atraente na sua clássica discrição, actual sem se armar em moderninho. Desde a fórmula gráfica original – com aquele modelo de capa notável que João Segurado criou, com as chamadas em passadeira seguida e o desenho de Abel Manta a encher a página... – que não via o JL com tão bom aspecto. A fonte “glosa”, criada por Dino de Santos, é um encontro feliz entre tradição e contemporaneidade, e cai que nem uma luva no inspirado projecto gráfico de Vasco Ferreira. É um jornal que respira e dá vontade. É claro que continua a ser o jornal de uma “certa” cultura, muito oficiosa e previsível, e que lhe faltam mais Josés Luís Peixotos na sua lista de colaboradores (falta-lhe, nomeadamente, a frescura com que, no mundo dos blogues, se olha a literatura e as artes em geral...). Mas os defeitos do JL não ofuscam a sua maior qualidade – que é a resistência, a persistência, e a forma feliz como foi absorvido sem ser asfixiado dentro do universo comercial do grupo Impresa. José Carlos de Vasconcelos é o obreiro dessa obra. Aos 45 anos, voltei a comprar o JL. Tinha 15 quando o conheci.

Pedro Rolo Duarte, Pedro Rolo Duarte

Excelsos e magníficos deputados sociais-democratas e bloquistas,
É por todos sobejamente conhecida a vossa imarcescível paixão pela Verdade, uns, e pureza ideológica imaculada, outros. Tanto que juraram erradicar da política a mentira e os mentirosos, obedecendo ao clamor do Povo. Convosco a Grei irá moralizar-se, corrigir-se, arrepender-se, converter-se e santificar-se. Só então, num ambiente político higienizado, Vossas Excelências tratarão dos assuntos correntes. Por agora, que se desinfecte a casa e perfume o ar. Finalmente! Vimos, pois, os signatários, rogar igual empenho na descoberta da verdade, e castigo dos mentirosos, no caso Izmailov. Recordemos os factos:
- O jogador é emprestado ao Sporting em Julho de 2007, sendo imediatamente considerado um grande talento.
- No jogo de estreia, marcou o (enorme) golo da vitória sobre o Porto, dando ao clube a Supertaça. Jogou lesionado.
- No final da época, foi comprado pelo Sporting.
- As lesões foram alternando com as grandes exibições, assistências, golos.
- Na última lesão, que o parou durante 7 meses, ofereceu-se para deixar de ser pago por não estar a jogar há muito tempo.
- Quando voltou a jogar, logo ganhou a titularidade, sendo unanimemente reconhecida a sua influência na recuperação da equipa.
- Em Fevereiro, recusou ser vendido ao Lokomotiv, mesmo na condição de ir ganhar mais.
- Em Fevereiro, Costinha entra no Sporting para director desportivo.
- Em Fevereiro, perguntaram a Carvalhal se a vitória sobre o Everton se devia à entrada de Costinha no departamento de futebol. Costinha tinha entrado há 24 horas – se é que já tinha entrado.
- Em Março, Costinha discute com Izmailov, queima-o publicamente e diz que ele nunca mais voltará a jogar no Sporting.
Posto isto, só a santa aliança entre o PSD e o BE poderá esclarecer estas notícias de arrebimbomalho. Estamos certos de que uma comissão de inquérito, ou duas, seguramente não mais do que três, será o suficiente para apurar quem é que mentiu a quem, e quem é que não disse a verdade a quem, e quem é que não fez uma coisa mas fez a outra e vice-versa. De caminho, os excelsos e magníficos deputados poderão também inquirir acerca de um plano secreto de José Eduardo Bettencourt para acabar de vez com o futebol em Alvalade. Os indícios são avassaladores.


Valupi, Aspirina B

O New York Times traz hoje um novo artigo sobre a protecção e indulgência de Ratzinger para com sacerdotes responsáveis por crimes de abuso sexual de menores. Em 1980, um certo padre Hullerman foi acusado, na diocese de Essen, de forçar um menor a ter relações sexuais com ele. Deve dizer-se, em abono da verdade, que a diocese o suspendeu das suas funções. Mas houve uma diocese que o aceitou: a de Munique, onde o arcebispo era o próprio Ratzinger. E que fez Ratinzger? Não colaborou com as autoridades judiciais (como recomenda agora) nem considerou o perigo que o padre representaria para as crianças da sua diocese. Pelo contrário, aceitou que o padre se mudasse para a sua diocese (ou seja, reabilitou-o), e até permitiu que ensinasse «Religião e Moral» numa escola pública. Em 1986, o padre foi condenado por um tribunal civil por um crime de abuso sexual de menor. A semana passada, Ratzinger escreveu um texto a afirmar-se «escandalizado» com os abusos sexuais clericais na Irlanda, e convidando ao «arrependimento». Não explicou se ele próprio está arrependido. Como já se vai dizendo, é a altura de perguntar «o que é necessário para um Papa se demitir»?

Ricardo Alves, Diário Ateísta

Mudam-se os tempos ou Descubra as diferenças
Abril74
"Se isto não é povo, onde é que está o povo?"
Março10
"Se isto não é polvo, onde é que está o polvo"


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

1 comentário:

Anónimo disse...

"Um estudo mostra que 43% de portugueses sofreram de perturbações mentais ao longo da vida".

Isto explica muita coisa. Prova-se, por via deste estudo, que essas perturbações mentais se manifestam invariavelmente no momento de ir votar.