Que boa era a comida do refeitório lá da escola. Ainda me lembro como se fosse ontem. Começava com a sopa, sempre de vegetais, servida numa malga de metal. Depois sempre um prato de carne ou peixe, acompanhado dos costumeiros vegetais, batatas fritas ou arroz. Como sou boa boca, comia lá todos os dias que tinha aulas à tarde. Fosse peixe cozido ou iscas, os pratos sempre menos populares, ou galinha assada ou bitoque, os dias em que era mais difícil obter a senha, que se comprava sempre de véspera na secretaria da escola. Uma vez tivemos uma semana africana, em que todos os dias nos davam a provar as delícias dos PALOP, confecionadas por naturais desses países.
Alguns colegas mais malandrecos guardavam o dinheiro do almoço para gastar em cigarros, que fumavam às escondidas dos pais, ou para jogar bilhar ou matraquilhos num café ali perto. Alguns optavam por comer no bar da escola, umas muito pouco nutritivas tostas ou pão com chouriço acompanhadas de Sumol. Perfeitamente escusado, coisas de meninos bem. Ficavam mal alimentados e pagavam mais, pois um dos tais almoços na cantina ficava pelos 110 escudos naquele tempo. Uma ninharia. É triste saber que cada vez menos jovens comem no refeitório da escola em Portugal. Não sabem o que perdem. Talvez tenha qualquer coisa a ver com ostentação ou afirmação, ou algum preconceito de que quem come no refeitório tem que ser necessariamente um pobrezinho.
Não sei como é a comida na cantina da EPM, mas a julgar pela quantidade de alunos que vão a casa, ao Caravela ou a um dos três restaurantes McDonald’s a cem metros da escola (Rua do Campo, Av. Almeida Ribeiro, Largo de Senado) não deve ser grande coisa. Já cheguei mesmo a ouvir algumas críticas de pais e dos próprios alunos, alguns dos quais mesmo depois de comer o almoço da escola comem outra porcaria qualquer cá fora para encher a barriga. As crianças estão a crescer e em alguns casos comem como gente grande, verdadeiras debulhadoras. Os meus filhos têm a sorte de poder almoçar em casa, o que é sempre mais seguro, mas não hesitaria em lhes dar o dinheiro para almoçar na escola caso tivesse a certeza que era uma refeição de qualidade.
Mas era realmente importante que assim fosse. Ao almoçar no refeitório as crianças podiam manter-se todo o dia entre os quatro muros da escola, era menos incómodo para pais e empregadas, e muito mais económico. Aprendiam também regras importantes do convívio, maneiras à mesa, enfim, como viver em comunidade. E era também importante que gostassem, já agora. O miúdos não são esquisitos, e tivessem um pratinho de sopa, um bife num dia, uma costeleta no outro e um peixinho à sexta-feira (porque não?), acompanhados pelos restantes elementos da tal roda dos alimentos, podia ser que não se aburguesassem (e engordassem...) tanto e deixassem a porcaria dos hamburguers. É um investimento a ter em conta.
1 comentário:
Quando era pequena também comia sempre na cantina, embora fosse mais esquisita que o Leocardo. Mas quando andei no liceu realmente perdi esse hábito. Será que a comida não vale mesmo nada?
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