domingo, 10 de agosto de 2008

Fujam! É a múmia!


Queria agora aqui deixar um conselho ao estimado leitor, de modo a economizar 40 patacas num bilhete de cinema e perder quase duas preciosas horas do seu tempo: não vão ver “A Múmia: o túmulo do imperador Dragão”. Este filme não é mais do que um insulto à inteligência, uma porcaria mal escrita, mal filmada, mal representada, e que nem os efeitos especiais conseguem salvar. Os primeiros dois filmes da franchise Múmia eram até bastante interessantes, contavam uma história que o mais informado dos cinéfilos conseguia engolir sem qualquer dificuldade, mas esta, é para esquecer.

Os filmes da Múmia descansavam muito sossegadinhos no seu túmulo desde 2001, o porquê deste súbito despertar deve ter alguma coisa a ver com o facto da China “estar na moda”, e este ano realizarem-se no país do meio as olimpíadas. Rob Cohen, que já tinha realizado outras porcarias como “Dragonheart” ou “Daylight”, voltou a chamar Brendan Fraser para o papel de Rick O’ Connell, o arqueólogo aventureiro dos primeiros dois filmes. Fraser, cujo último sucesso de bilheteira foi em 2004 com “Crash”, devia estar a precisar desesperadamente do dinheiro. Deve ter imensas contas para pagar, e esta gente não vive com 20 mil patacas por mês, não senhor. Quem não caíu na esparrela foi Rachel Weisz, que interpretou o papel de Evelyn O’Connell, a mulher do explorador nos dois primeiros filmes. Foi sunstituída por Maria Bello, uma mulher irritante, com um à vontade e um sotaque “very british”, que deve estar arrependida por se ter metido nesta aventura para qual não tem jeitinho nenhum. O casal agora tem um filho crescidinho, interpretado pelo australiano Luke Ford (que tem na realidade 28 anos mas no filme tem apenas 18...), com jeito para a arqueologia e para o engate, que dá com o túmulo do tal imperador. John Hannah faz o papel de palhaço, Jonathan Carnahan, irmão de Evellyn e agora proprietário de um clube nocturno em Xangai pós-guerra.

Depois há o contigente chinês: Jet Li no papel de Han, o imperador malvado, Michelle Yeoh no papel de Zi Yuan, a bruxa imortal que traíu Han, Russell Wong no papel de general Ming Guo, amante da bruxa, e Isabella Leong no papel de Lin, filha de ambos. Começo sinceramente a perder a esperança que um dia os actores chineses tenham papéis de pessoas normais nas produções Hollywoodescas. Ora são vilões com super-poderes, entre os quais se encontram “dominar o mundo”, e Deus nos livre disso, ou heróis peritos em artes marciais, ou lacaios vestidos em trajes ridículos, ou belezas orientais, submissas ao herói ocidental e que lhe oferecem “alguma resistência” devido à sua “honra”, mas que acabam inevitavelmente nos braços do magano.

Quanto ao argumento do filme, é o básico “vilão-adormecido-até-uns-parvos-o-chatearem-e-despertarem-um-grande-mal”, e os diálogos são do piorzinho que já se viu. Por exemplo, quando o personagem de Luke Ford demonstra o seu interesse por Lin, esta responde-lhe “a nossa relação é impossível; vou viver para sempre e não aguentava ver-te morrer”. Ora toma. Os personagens chineses falam mandarim corrente, isto apesar de terem todos mais de dois mil anos. E imaginem uma cena em que em plenos Himalaias, Lin chama a combate três yeti. Para quem não sabe, o yeti é mais conhecido por “abominável homem das neves”. Abominável é mesmo este filme. Fujam dele como se fosse a própria múmia.

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