Continua a ser “cada tiro, cada melro” para o Partido Comunista Português, cada vez mais atordoado, confuso, sem liderança e sem rumo. São por demais sabidas as posições do PCP quanto à actualidade internacional, posições essas dignas de um homem que, praticamente afogado, faz planos para depois de chegar à praia. As braçadas mais vigorosas são dadas todos os anos por esta altura, em vésperas da realização da Festa do Avante, um festival em que se ouve música e se consomem drogas à revelia das autoridades. Quando do discurso de encerramento proferido por Jerónimo de Sousa (assim como foi com Carlos Carvalhas e antes dele com Álvaro Cunhal) a malta já está com uma moca tão grande que não sabe distinguir o secretário-geral do PCP do Pato Donald ou da Abelha Maia.
A queda do PC – ou pelo menos o fim da sua razão de ser – deu-se com a queda do muro de Berlim, e consequentemente com a desagregação da falida União Soviética. Não sem antes estrebuchar mais um pouco; os comunistas portugueses apoiaram o golpe de estado de 19 de Agosto de 1991, dado pelo efémero Comité de Emergência do PCUS. Sem alma-mater, o PCP foi subsistindo à custa da sua linha dura, e adivinhava-se que seria uma questão de tempo até a demografia tratar dos eleitores comunistas. Hoje continuam teimosamente a deter quase 10% do eleitorado português, sobrevivendo até ao aparecimento do Bloco de Esquerda, uma alternativa socialista virada para a juventude.
No entretanto o PCP abraçou o regime chinês, depois de anos de costas voltadas, esteve do lado de Milosevic, de regimes como Cuba, Laos, ou pior que isso, da Coreia do Norte. Os americanos continuam a ser o ódio de estimação e expressões de cariz revolucionário como “imperialismo” ou “luta de classes” continuam a fazer parte do seu léxico. Continuam a tratar-se por “camaradas”. A viragem (tímida e falhada) da Albânia ao capitalismo partiu-lhes o coração, e mais recentemente estiveram do lado das FARC aquando da tão publicitada libertação dos reféns. Um grupo terrorista sanguinário alimentado pelo tráfico de cocaína. Será que a força das convicções não os impede de ver mais longe?
O meu primo Gabriel fez o ensino primário em Alpiarça, em pleno PREC. A professora, uma entusiasta do PCP, incluía na disciplina de trabalhos manuais temáticas comunistas. As criancinhas passavam horas a desenhar foices e martelos, e a fazer colagens de homenzinhos barbudos. Lá na terra existia até há cerca de 20 anos uma "Associação de Amizade com os Povos Socialistas", decorada com matrioskas, posters de Marx, Engels e Lenine, e até um busto de Stalin, pai dos povos, onde os velhos bebiam bagaço e jogavam cartas. Os piqueniques do partido até tinham piada, sardinhadas e bifanas, muito tintol e música do nosso Zeca à mistura. O ano passado perguntei ao meu tio Augusto (pai do Gabriel) se ainda era comunista. Respondeu-me: "Bem, olha, fomos enganados. Fomos todos enganados".
4 comentários:
É algo cómico ler as críticas do Leocardo ao PC português e aos regimes comunistas, em contraposição á defesa do regime chinês, ou pelo menos a uma crítica muito branda de um regime que de diferente apenas tem uns toques de capitalismo na sua versão mais selvagem.
Enfim, contradições....
Se V. Exa. considera este regime chinês "comunista" na acepção do termo, então o cómico aqui não sou eu. Cumprimentos.
meu caro, nem o chines... nem os outros.
mas todos tem o nome de comunistas. e os mesmos tiques.
Independentemente das supostas contradições do dono (Avé ó propriedade privada) do blog, o post é, quanto a mim, interessante, correcto e actual, caracteristicas que devem ser valorizadas. O PCP é, inegavelmente, e como todos os partidos (ainda) alimentados pelo estalinismo, anacrónico e reacionário. Não obstante, é de reter o facto de ainda convencer (?) 10% do eleitorado português. Bom, mas também elegemos o Isaltino, o Ferreira Torres e, não fora o Salazar ter desandado para o país das caçadas eternas, não sei mesmo...
J Santos
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