sexta-feira, 9 de maio de 2008

Os dias loucos do Hotel Mundial


Sempre que chega um fim-de-semana prolongado como este que agora se aproxima, não me consigo deixar de lembrar das loucas noites da discoteca Mundial, na ala nova do hotel com o mesmo nome, sito na Rua António Basto, ali perto do Jardim de Lou Lim Ieoc. Quem como eu chegou a Macau no início da década de 90 deve-se lembrar muito bem, tem muitas histórias para contar, e certamente boas recordações.

O Mundial foi o herdeiro legítimo do Mikado e do Mermaid, outras populares discotecas do território, nos anos 80. Foi a moda antes da chegada de discotecas de outro calibre que apareceram no final dos anos 90, com a impenetrável música techno e trance, e onde, ao contrário do Mundial, não eram locais aprazíveis para um serão em família ou com os amigos. A música era puramente de disco, com slow time por volta das duas e meia e Hits from the 60’s para os mais resistentes, que ficavam até às 4, hora que o local fechava.

A noite começava inevitavalmente no também já extinto Talker Pub, na Avenida Sidónio Pais. No Talker tomava-se um ou dois copos, como que para aquecer os motores, um “abre-olhos”, e davam-se dois dedos de conversa sobre a semana que então findava. Por volta da uma da manhã, quando a pista já estava “quente”, chegava-se ao Mundial. O preço nas Sextas, Sábados e Feriados, eram 100 patacas com direito a duas bebidas, se bem me lembro. Mas quem conhecia as porteiras podia entrar “só para ver se estavam lá os amigos”. Quando saía já não voltava mais, claro.

A fauna noctívaga que frequentava o Mundial era diversa. Desde as empregadas filipinas que se encontravam quase sempre em maioria, aos aniversariantes, aos indivíduos com um ar suspeito que se remetiam às mesas das traseiras para discutir “negócios” e aos nossos compatriotas, novos e velhos, em amena confraternização ou à procura de engate. O mais interessante era observar os de meia idade, que não sabendo dançar ficavam de pé junto à pista, de copo de whiskey na mão, lançando olhares fatais do alto da redonda barriga às meninas que exibiam os dotes de dançarina e às vezes a chicha.

A discoteca recebia de vez em quando a simpática visita das autoridades, que não raras vezes entravam até nos lavabos, à caça dos ilegais. Cheguei a ter de apresentar o BIR três vezes na mesma noite, tal era a dedicação dos nossos agentes para que a nossa segurança fosse garantida. As rixas eram também comuns, e o DJ tailandês, adepto de muay thai, acendia imediatamente as luzes para que os restantes foliões pudessem assistir, e porque não, uma vez que estamos em Macau, fazer as suas apostas.

Depois das 4 a romaria seguia normalmente para o restaurante tailandês Kruatheque, na Rua Henrique de Macedo, onde se podia continuar a dançar, ou petiscar, ou continuar a tentar a sorte, para quem ainda não tinha conseguido companhia para passar o resto da noite. Eu voltava para casa sempre às sete. Dava-me gosto regressar ao lar com os primeiros raios da luz do dia a romper no horizonte, os passarinhos a cantar e o cheiro a jornais. Those were the days, my friends.

13 comentários:

Anónimo disse...

meu caro leocardo, ai que saudades...
A noite de Macau nunca mais foi a mesma depois do encerramento do Mondial.
Loucas noites de sexta-feira ao som do Scatman, 2unlimited....
Aquilo era a minha segunda casa...

Leocardo disse...

Ainda bem que aqui estamos de acordo ;)

Anónimo disse...

Aquilo é que era "interpenetração" cultural :-P

Anónimo disse...

Caro Leocardo, estou em Macau há pouco tempo e embora conheça alguns locais de animação nocturna, a coisa mais parecida com uma discoteca que consegui encontrar foi o DD3. Já não há discotecas mesmo discotecas em Macau? Agradeço antecipadamente qualquer informação que me possa dar sobre o assunto. Cumprimentos.

Leocardo disse...

Não há mesmo. Daí a nostalgia, meu caro. Já agora boa estadia.

VICI disse...

Quanto ao texto, só posso dizer-lhe que quase consegui visualizar o que escreveu.

Porém, uma pequena achega para dizer que, com boa companhia, qualquer lugar é adequado à diversão.

No MP4 não se está mal, caro anónimo das 12.36.

Anónimo disse...

Alguém conheceu o Lok Un na Taipa?

Anónimo disse...

VICI: Só conhecia um bar chamado MP3. Mas, graças ao que disse, procurei na internet e acho que já descobri onde é o MP4: Hotel Royal, certo? Obrigado pela informação.

Anónimo disse...

Talker + Mondial = noite bem passada. Boas recordações tb. Foi o fim do tempo do Macau brando...

Anónimo disse...

Caro Leocardo,

Escapou-lhe uma parte substancial da atmosfera do Mondial. Era muito discreta mas existia e daí a diferença do Mondial.

Samuel

Anónimo disse...

Bons tempos... Houve concorrência ao Mondial, houve durante algum tempo o Moulin Rouge no New World Emperor que também era bom, lembram-se? Entretanto houve uma cena de tiroteio no lobby do hotel e ficou tudo assustado com a coisa.
Sobre os truques de entrada à pala no Mondial, para além do "vou ver se estão lá os meus amigos", havia o truque do carimbo (quando se saía da discoteca as meninas da entrada carimbavam a mão, aproveitavamos a tinta ainda fresca para passar o carimbo na mão original para outras mãos...) e ainda o acesso pelas escadas de incêndio... Nesses tempos era estudante do Liceu e mestre nestas manobras...

Anónimo disse...

Mas o melhor de todos os locais de diversão nocturna em Macau foi o Green Parrot no Hyatt!!!
Recordam-se?

Isabel disse...

Altas noites que passei nessa boite Mundial. Dj's pessoal. Saudades