segunda-feira, 12 de maio de 2008

O meu gordo casamento chinês


Voltei agora de um banquete de casamento chinês. Já sei, já foram a muitos também. Os colegas chineses convidam-nos, inevitavelmente, e como muitos deles são novinhos ou casam tarde, chegam a ser meia dúzia de casórios por ano, pelo menos. Estes banquetes, ao contrário do que acontece por exemplo em Portugal, não significam necessariamente que o casamento propriamente dito tenha sido nesse dia. Neste caso particular foi já no ano passado.

O que vestir? Nós ocidentais gostamos de ir bem vestidos, fato e gravata. As senhoras devem optar por um vestido discreto, sem lantejoulas ou adereços muito brilhantes. Muitas, julgando que se trata do casamento de algum Mandarim, vestem cabaia, e tornam-se o centro das atenções, o que não é muito agradável. O que nos surpreende quando lá chegados é a forma simples como alguns dos convidados estão vestidos: t-shirt, calças de ganga a às vezes até sandálias.

O que oferecer? Ao contrário dos casamentos ocidentais, nem os parentes ou amigos mais próximos oferecem electrodomésticos ou porcarias desse género. Oferece-se dinheiro. Existe alguma regra para quanto? O mínimo são 300 patacas, para os menos conhecidos. Se for um colega quinhentas patacas é o ideal. Faz-nos por vezes alguma confusão quando alguém que conhecemos, mesmo sem ser muito íntimo, não nos convida. Isto porque há quem considere um atrevimento ser convidado sem conhecer muito bem os noivos. Pensa que se trata de querer apenas receber o lai-si.

E isto porquê? Porque por muito caro que pareça um destes banquetes, normalmente organizados em salões de hotéis apropriados para o efeito, os noivos saiem a ganhar. Imagine-se um casamento com 200 convidados (perfeitamente normal) e que cada um oferece uma média de 500 patacas cada (e isto é uma estimativa muito conservadora). São sempre mais de cem mil patacas, que chegam e sobram para pagar o banquete.

A cerimónia em si é uma beleza. Quando chegam, os noivos estão num palco para receber os convidados. Tira-se uma fotografia, e é-se conduzido para a mesa. O jantar propriamente dito nunca começa antes das nove horas, e prolonga-se até quase à meia-noite. A noiva veste vários vestidos diferentes nesse dia, e antes que a comida chegue temos a oportunidade de ver um slide-show de fotografias dos noivos quando eram pequenos, o que normalmente provoca risos na sala. “Eram tão giros!”, como se já não fossem.

Este casamento tinha uma banda ao vivo durante a recepção. Uma banda filipina. Por muito respeito que os filipinos me mereçam, a música que tocaram foi angustiante. Não pela qualidade dos instrumentistas ou da cantora, mas pelo reportório. Será que não sabem outras músicas além do “How deep is your love” dos Bee Gees, do “Top of the world” dos Carpenters e outras afins? Quando tocaram o tema do filme Titanic (Celine Dion, “My heart will go on”) já estava eu mais para lá do que para cá, e cheguei por um nano-segundo a pensar que estava mesmo a bordo do barco maldito.

O jantar costuma ser composto por dez ou mais pratos, que começam sempre pelo leitão assado de olhos luminosos. Este onde fui hoje foi seguido de bolinhos de caranguejo com mousse de camarão e flocos de amêndoa, camarões e ameijôas com ervilhas, bróculos cozidos com molho de caranguejo, sopa de barbatana de tubarão, abalones com patas de pato, garoupa cozida, galinha assada, massa com gengibre e cebolinho em molho de abalone, arroz frito com galinha e camarão com molho de natas, caldo de fungo da neve com inhame, longan desidratado, sementes de nespereira e crisântemos, bolinhos chineses (na foto) e fruta.

A meio do jantar os noivos vêm brindar com os convidados, e ainda antes da fruta começam a sair alguns convidados, que têm outros planos, ou que simplesmente já ficaram fartos, e para os mais resistentes toca-se uma música chinesa, assim tipo de funeral, para mandá-los embora. À saída os noivos e os familiares juntam-se à porta e agradecem aos convivas. Se por acaso for o único kwai-lou na festa, eles sorriem-lhe de orelha a orelha, pois afinal, deu um ar "internacional" ao evento. Hajam muitos casamentos para festejar.

7 comentários:

C disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leocardo disse...

Talvez a mesma importância não seja atribuída por todos. Da minha experiência, tenho reparado que alguns colegas/amigos saiem do trabalho e vão directamente para o casamento, para chegar mais cedo e jogar mahjong, o que não lhes dá tempo para grandes apuros de imagem.

Abraço para si e feliz Dia do Buda!

Anónimo disse...

Caro Leocardo
Não sei se ultimamente tem indo (vindo) a muitos casamentos em Portugal, mas essa de dar presentes que não sejam em dinheiro já há muito que por estas bandas anda ultrapassada. Mesmo a moda de fazer uma lista num determinado local/loja para que os convidados lá vão fazer comprar a dita prenda há muito que não dou conta dela. E ultimamente (ai as minhas finanças...) até tenho sido convidada para vários casamentos. Por aqui nem 300 nem 500 patacas... Essa verba (ou o equivalente) também já é de tempos idos.
Gostei do seu relato. Tem um bom sentido observacional.

Gotícula disse...

Fantástica a sua descrição!!!Já tenho saudades desses casamentos!Agora falando de Portugal, aqui as coisas são bem mais caras sim senhora como diz a Maria! Cheguei a ir a um, que convidaram a família toda(4) e o mínimo de ´lai si´ foram 250€, ah pois, aqui a malta até treme quando recebemos um convite, pois ainda falta a mania de toda a gente ir todos pomposos né. É um luxo viver na Europa...

Anónimo disse...

o seu protectorado vitório fechou novamente a pagina, será que ele estava na Chengdu?

Anónimo disse...

Tambem tenho saudades destes casamentos.
Apesar de solteiro militante, adoro casamentos.
Desde que não seja o meu, é claro:)

cumprimentos

amigo vitorio cardoso rosario disse...

adoraria assistir o casamento do meu amigo vitório com uma das vacas que ele guarda...