segunda-feira, 5 de maio de 2008

A educação sexual nas escolas


Certo dia, quando éramos jovens adultos, eu e os meu amigos discutiamos quando e como aprendemos os factos da vida. Aqueles relacionados com os passarinhos e as abelhas, ou mais simplesmente como se fazem os bebés. Eu aprendi na biblioteca quando tinha 8 anos. Isso mesmo, na biblioteca lá da terra, na secção de biologia, descobri um livro que se debruçava de forma muito concisa e diplomática sobre o assunto. Foi uma tomada de consciência cuja reacção ainda me lembro bem hoje. Como era possível? Um óvulo, um espermatozóide, que nojo.

Durante a pré-adolescência achei esta questão ainda mais intrigante. As aulas de Ciências na escola davam umas luzes sobre o tema, do mero ponto de vista biológico. Os apologistas de que a educação sexual dos jovens cabe apenas à família, e de que o mundo está cheio de gente mal intencionada, são a principal razão pela qual os jovens sabem tão pouco e tantas vezes são vítimas dessa tal gente mal intencionada. Digam o que disserem, a maioria dos pais não aceita que o seu menino ou menina tenham curiosidades dessa natureza até aos 18 anos. E mesmo depois disso o melhor é nem tocar no assunto.

É importante que a Educação Sexual seja incluída nos currículos escolares, separada da Biologia ou das Ciências. Deve ser uma disciplina única ministrada de acordo com a idade dos alunos. É claro que os temas mais profundos devem ser deixados para os níveis superiores. Existe ainda um preconceito de que as aulas de Educação Sexual ensinam os jovens a ter relações sexuais. Mesmo naquelas enfadonhas manifestações de estudantes que vemos em Portugal através da RTPi alguns dos jovens gritam slogans do tipo “queremos Educação Sexual” como se tal fosse entendido como um sinal de rebeldia ou modernidade.

A Educação Sexual é parte do currículo na maioria dos países civilizados, e lá não se incluíem capítulos como “técnicas de engate” ou “introdução ao kamasutra”. Em Macau o caso é absolutamente exasperante. Não estou bem a par da situação em relação a todas as escolas, mas atendendo a que muitas (pelo menos as melhores) têm ligações aos salesianos, às carmelitas ou qualquer outra confissão religiosa, algumas são mesmo escolas unissexuais, e a educação sexual é um assunto tabu. Conheci uma menina que estudou no Sacred Heart que me confidenciou que aos 16 anos sabia o que era a reprodução, mas não sabia como se processava.

Que seja necessário que se generalizem os problemas da propagação do HIV, das mães adolescentes ou do número de jovens em idade escolar que praticam o aborto na China continuar a permanecer um verdadeiro enigma, para que finalmente se considere a hipótese de introduzir a educação sexual nas escolas, é um sinal de atraso. A prevenção através da educação, como refere o director dos Serviços de Saúde Lei Chin Ion, é importante, sem dúvida. Mas peca por tardia.

É uma sociedade bastante conservadora, esta. Quem fala de sexo é logo rotulado de salgado-molhado (ham sáp) ou tarado (pin tái), o casamento e a constituição de família vai ainda muitas vezes além do âmbito dos afectos, o casamento segue as normas do fong-soi e os casamentos inter-culturais são votados ao fracasso, caso não se prestem a uma série de compromissos. Por muito modernos que os jovens chineses e chinesas se afirmem ou por muito superiores que sejam a questões de cultura ou etnia, não escapam a pelo menos um torcer de nariz dos familiares.

As regras da corte em chinês implicam quase sempre que o jovem finja que a sua amada é invisível durante os primeiros tempos. Depois pode eventualmente travar conversa com ela, e quem sabe alguns meses depois convidá-la para sair, mantendo sempre claro junto da concorrência que já marcou o seu território. Se não obedece a este ritual e vai com demasiada sede ao pote é imediatamente considerado um dos adjectivos acima referidos. As meninas que se dão facilmente são mal vistas, e as que se vestem de forma mais ousada ainda são muitas vezes associadas a famílias problemáticas.

Não surpreende que a autêntica revolução dos costumes que se tem verificado nos últimos anos seja ainda um choque para muito boa gente. Um dos best-sellers entre o público feminino ultimamente é a versão traduzida para chinês do livro "(She) Guide to Sex and Loving", do sexólogo David Delvin. Nesta obra - uma espécie de "Sex for dummies" - Delvin explica conceitos como o titty cumshot (pesquisai...) ou o "colar de pérolas", ou de como efectuar correctamente o fellatio. Será este escritor norte-americano a autoridade que tem o dever de explicar o sexo à nossa juventude?

É preciso uma aposta urgente no futuro. É necessário que a educação sexual seja ensinada aos jovens sem qualquer tipo de preconceito, por professores preparados para explicar aos alunos tudo sobre a puberdade,a masturbação, o orgasmo, a homossexualidade, as posições durante o coito, que os sensibilize sobre os perigos e os consciencialize das alternativas no que toca à prevenção da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis. Matéria para fazer a disciplina viável não falta, e no princípio pode parecer um pouco estranho, ou até jocoso, mas eles habituam-se.

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