domingo, 7 de dezembro de 2008

De boas intenções...


Dois anos depois do caso Ao Man Long e suas aracnídeas ramificações, eis que estamos em mãos com mais um caso que questiona a credibilidade do bem público, ou das pessoas que lidam com ele. Edmund Ho diz que "não há outra solução" senão confiar nos detentores dos cargos públicos. Tem toda a razão. A anedota do empregado bancário que liga ao chefe dizendo que não vai trabalhar naquele dia porque não se sente muito honesto pode ser mesmo isso, uma anedota, mas com um fundo de verdade.

Quem lida com avultadas somas de dinheiro durante anos a fio tem sempre a tentação de, por muito honesto que seja, pensar como seria ludibriar o sistema e ganhar o jackpot. Isto é tanto verdade para o público como para o privado. Quanto mais se conhece o funcionamento da instituição, mais se acredita que existe uma forma infalível de cometer uma golpada, um crime perfeito. As palavras "corrupção", "peculato", "branqueamento de capitais" são próprias de quem não lida com o sistema, ou de quem não está dentro dele.

A ambição é própria da natureza humana, e quem não quer que o dia de amanhã seja melhor que o de hoje, não deve ser normal. Procuramos sempre uma casa maior, de preferência com piscina, um carro mais rápido, as roupas mais caras, os luxos que Deus nosso senhor deixa à disposição de outros mais sortudos que nós, sabe-se lá como. Ninguém se importa muito com os outros, com a ideologia, com a sociedade em geral. A não ser que tenha ele próprio algum dinheirinho no bolso "para os gastos". Aí sim, lá pensamos que afinal há outros que, coitados, nadam nesse imenso mar da miséria, e precisam de uma ajudinha cá de cima.

De boas intenções está o inferno cheio, e a competição é saudável, eis alguns dos chavões que se usam. O meu favorito é aquele que um certo empresário local usou: "numa economia de mercado alguns têm que enriquecer primeiro". Melhor ainda se for eu, não é? Mesmo em sociedades (bem perto da nossa, por sinal) onde o dinheiro não abunda, traficam-se influências, trocam-se favores, fazem-se os sacramentais arranjinhos. É o tal óleo que ajuda a máquina a funcionar mais rapidamente.

É quando se está numa posição de chefia ou de poder que a tentação é maior, especialmente em Macau onde o "culto do chefe" impera. Ninguém questiona, ninguém duvida, toda a gente obedece. Há soluções? Vale a pena arriscar? Não fosse Macau a terra dos casinos, onde se aposta a doer. Muitos podem ganhar, mas a maioria perde. Mas se ganham...ai se ganham.

1 comentário:

ANTONIO CAMBETA disse...

A árvore das Patacas, assim denominada no tempo da adminstração portuguesa, não secou.

Parece até que descobriram um novo fertilizante, que só as chefias conhece, e com ele tem aumentado, e de que maneira, a famosa árvore, que frondosa está, ao ponto até de que o Chefe do Conselho dos Consumidores, nela se vai abastecer e recomenda-se!...

Fruta apetitosa e super gostosa rsrsrs

Dizem que o crime não compensa, mas vejamos o caso do Au Man Long, daqui a pouco está cá fora a ousefruir das maçarocas colhidas!...