domingo, 4 de agosto de 2013

Os pós e contras do FIMM


O Instituto Cultural de Macau divulgou na semana passada o programa do XXVII Festival Internacional de Música (FIMM), e preferi guardar para hoje, dia em que os ingressos foram colocados à venda na rede Kong Seng, para dizer de minha justiça. Primeiro gostava de salientar a qualidade de alguns dos pontos do programa, que chegam mesmo a revelar algum esforço em dar primazia à qualidade. Sauda-se ainda o regresso dos musicais da Broadway, com a apresentação de "Miss Saigon", que não sendo um dos mais aclamados, é um dos que mais facilmente se reconhece pelo nome - esteve em exibição aqui ao lado em Hong Kong há alguns anos. Posto isto gostava de manifestar uma certa desilusão, primeiro pelo facto do Instituto Cultural não ter conseguido surpreender, trazendo qualquer coisa de sublime e imperdível. Talvez o problema seja meu, que gusto de surpresas. Depois há o lamentável facto de alguns dos espectáculos mais interessantes ficarem vedados a quem esteja realmente interessado em assistir, por culpa da forma anárquica com que se realiza a venda dos bilhetes. Por fim, "last but not least", considero que começa a haver um desinvestimento nos actos trazidos de Portugal, que nos últimos anos chegaram a levar ao território alguns artistas de renome.

Falando do que o FIMM tem de bom este ano, destaca-se a vinda da Filarmónica de Dresden, as orquestras de câmara da Lituânia e da Coreia do Sul, o Instituto de Opera Mozart, da Austria, e igualmente desse país os Pequenos Cantores de Viena, presença já habitual neste certame. O canto lírico em grande escala ficará a cargo da Opera Nacional da Letónia, que interpretará "Das Rheingold", de Wagner, e "Aida", de Verdi, que não sendo inédito no historial do FIMM, é sempre bem vinda. Inédita (pelo menos que me lembre) é a vinda da Orquestra da Gulbenkian, que se apresentará no dia 18 de Outubro no Grande Auditório do Centro Cultural. Os que preferem um som mais alternativo vão poder escutar a música jazz dos noruegueses Silje Negaard, ou os Iberian Jazz Stars e a Macau Big Band, que darão um concerto na Fortaleza do Monte, com entrada livre.

Diz-se que não há bela sem senão, e destas "belas" que referi acima, há uma que omiti intencionalmente, por ser um "senão". Não porque o acto sofre de algum defeito em termos de qualidade, antes pelo contrário, mas a impossibilidade de poder assistir dependendo apenas da vontade é dirimente de qualquer forma de entusiasmo. Falo de um dos espectáculos que mais interesse me desperta, "A alma do Canto Ortodoxo", do grupo sérvio Divna e Melódi, que terá lugar dia 29 de Outubro na Igreja de S. Domingos. Os bilhetes são gratuitos, como é habitual nos espectáculos realizados naquela catedral, mas limitados em termos de lugares. Isto leva a que os caça-ingressos madrugadores que açambarcam os melhores lugares façam esgotar num ápice os bilhetes para os concertos gratuitos, e depois os revendam. Um problema que o Instituto Cultural devia resolver, para bem dos amantes das artes. Não me importaria de pagar por um espectáculo destes, contando que pudesse assistir sem depender desta candonga que se está a cagar para a música e vê no FIMM mais uma oportunidade de ganhar uns trocos.

Finalmente a vertente lusófona do FIMM. Este ano temos os habituais concertos gratuitos ao ar livre na Fortaleza do Monte, que alé dos já referidos Iberian Jazz Stars acompanhados da Macau Big Band, traz ao território uns tais Aduf e o Quinteto Lisboa. Não entendo porque não se optou por uma banda mais conhecida, ou um acto mais ousado, do tipo "pop" ou "rock". Penso que seria um ingrediente que traria ao festival um outro sabor, e cativaria um público mais jovem. Não existe qualquer directiva que obrigue o FIMM a ser 100% erudito, ou que estabeleça a informalidade do evento, onde não cabem guitarras eléctricas ou baterias. Se por acaso os senhores do Instituto Cultural ignoram esse facto, deixem que vos diga que a comunidade portuguesa em Macau não é inteiramente composta por doutores e velhotes. A malta gostava de poder pelo menos uma chance de "abanar o capacete", e dar ao FIMM um pouco mais de sal.

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