segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Diversificação precisa-se


Já alguém viu como é um casino de Macau, por dentro? Muito diferente dos casinos em outras partes do mundo. Nunca estiva em Las Vegas, mas o que me dá a entender pelo que vejo na TV, falta-nos aqui muito do glamour, do entretenimento. Falta-nos o Tom Jones e a Cher. São uma autêntica máquina de fazer dinheiro, onde o bom gosto não impera e o ambiente chega a ser por vezes confrangedor. Daí que seja preciso um estômago de ferro para fazer esta vida, trabalhar num casino, contribuir para a desgraça de centenas de famílias enquano se enchem os cofres do erário público.

Em 1999 a actual Sociedade de Jogos de Macau, ex-STDM, era a segunda maior empregadora do território, atrás da própria administração. Passados dez anos, com a liberalização do sector do jogo, calcula-se que o número de cidadãos empregados na indústria tenha mais que quintuplicado. Foi uma abertura de oportunidades de emprego nunca vista, muito bem recebida entre a população em geral. Chegam a estar famílias inteiras empregadas nos casinos: pais, mães, filhos, irmãos e primos. O fim seria uma autêntica tragédia; para onde ia trabalhar depois esta gente toda?

Ameaças a esta estabilidade não faltam. Ora porque se fala da legalização do jogo em Taiwan e na Coreia, ora porque Sheldon Adelson se prepara para investir em Singapura, e até se fala da adesão da Tailândia a esta espécie de panaceia que que visa levantar os resultados da economia. Do outro lado temos a dependência do mercado chinês; basta que o Governo Central feche a torneira, que é como quem diz limite a emissão de vistos aos seus cidadãos que alimentam a indústria do jogo, para que se gere o pânico, caiam as acções e se comece a questionar o futuro. Então o que fazer? Que alternativas?

A diversificação da economia é uma solução, mas o futuro, ao que parece, é hoje e só hoje. Pensou-se na alternativa do Parque Industrial da Concórdia, mas em vez de se pensarem mais soluções, acabou-se com esta. O pior é que os restantes serviços dependem directa ou indirectamente do jogo: o turismo, a hotelaria, e a própria administração recebe uma fatia dos lucros das concessionárias. Macau funciona como que em piloto-automático graças aos casinos, e a sua população é preparada para integrar, mais cedo ou mais tarde, esse segmento de mercado.

A ideia de aumentar a idade para os jovens entrarem nos casinos para 21 anos é boa, em teoria, mas curta e não garante resultados. É verdade que os jovens de 18 anos não vão poder abandonar os estudos para trabalhar nos casinos, mas quem diz que não vão viver à custa dos pais até aos 21 anos? Ou demorar mais tempo a terminar o ensino secundário? Não existe nenhuma lei que os obrigue a estudar. E mesmo muitos dos que estudam a nível superior, mesmo no estrangeiro, acabam a trabalhar nos casinos, mais cedo ou mais tarde.

Não existem muitas áreas que requerem especialização em Macau além do jogo. Precisamos de médicos, mas faltam hospitais. Precisamos de bons gestores e economistas, mas não há contas a fazer sem os imensos lucros do jogo. Os empregos na administração vão-se afunilando, e é cada vez mais difícil entrar. Empregar-se num casino é a forma mais rápida e fácil de entrar no mercado de trabalho, começar a ganhar dinheiro, e enfim, começar uma vida independente.

Mesmo entre a minha família e amigos, verifica-se este enorme pragmatismo. Uma das primas da minha mulher licenciou-se em higiene e segurança alimentar numa universidade de Taiwan, e trabalha num casino. Um amigo meu é licenciado em gestão de empresas, e trabalha num casino. Outra amiga lincenciou-se em Bioquímica, e trabalha num casino. O que mais podiam fazer? Esperar que abrissem oportunidades de emprego na sua área? Os cursos superiores são um investimento enorme, e depois há contas para pagar.

Seria o ideal que Macau encontrasse uma alternativa, mas têm-se dado passos no sentido contrário. Mesmo a indústria têxtil, que nos anos 70 e 80 era pujante, encontra-se na ruína. Não há lá muito espaço em Coloane para a agricultura orgânica, e o clima também não ajuda. E quando se fala das "indústrias criativas", não sei porquê, mas dá-me vontade de rir.

8 comentários:

Anónimo disse...

A única alternativa viável para Macau é o putedo. Melhorar as condições de trabalho das putas e formá-las para um serviço de qualidade. Principalmente as putas chinesas.

Anónimo disse...

Excelente artigo, caro Leocardo.

Na minha modesta opinião, para se definir o rumo da diversificação da economia, será sempre necessário ter em conta os nossos principais "alicerces económicos".

Os alicerces da economia de Macau são, sem margem para duvida, o jogo e o turismo. Quais as actividades que se poderão desenvolver como complemento destas duas industrias base?

Quando falamos de jogo, pensamos em Las Vegas, em Monte Carlo, no Glamour mas ao mesmo tempo no entretenimento, na extravagância, na "classe" e no luxo mas também no jogo "puro" na tradicional visão chinesa, com fortes raizes aqui em Macau- "no nonsense", directo ao assunto, de grande aposta e risco. Pois bem, quais as portas que esta industria abre para potencias caminhos de desenvolvimento económico? Algumas sugestões:

Tendo em conta a quantidade de "mega estruturas de entretenimento" no território, não faria sentido criar infraestruturas para formar uma nova geração de "entertainers", de artistas, de uma industria de entretenimento que pudesse alimentar essas mega estruturas? Começando com a criação de um Conservatório de classe mundial, juntamente com centros de formação para Artes de performance- desde artes circenses, representação, teatro, magia, dança, etc, passando pela aposta da divulgação desses talentos nos média locais, como a TDM (começaria mal, mas evoluiria a olhos vistos da letargia actual), seriam milhares os postos de trabalho que se abririam à população. Por sua vez, apostar nessa industria não criaria apenas postos de trabalho para os "entertainers", por assim dizer, mas poderia ajudar a criar e desenvolver toda uma industria de apoio, onde se enquadram engenheiros de som, realizadores, produtores, técnicos de iluminação, designers gráficos, etc. A Televisão e as produtoras de conteudos seriam outros dos beneficiados com esta entrada de novos talentos. Sendo é absolutamente necessário para os Casinos a existência de entretenimento, a criação de alicerces para a formação de "entertainers" abriria portas para a criação e desenvolvimento de uma "industria de entretenimento".

Talvez esta seja outra forma de encarar o conceito de "indústria criativa"?

Outra aposta interessante seria na aposta na Lusofonia, mas não na perspectiva actual de polo de intercâmbio económico e industrial com os países lusofonos, que, como podemos ver, se revela pouco interessante para ps negociantes e empresários Lusofonos e Chineses, que preferem negociar "in loco" do que através de Macau. (continua)

Anónimo disse...

(cont) Falo, sim, da criação em Macau de uma verdadeira "Universidade Lusofona" de classe Mundial: criar, aqui, o centro de excelência de aprendisagem de português na Ásia, da história dos países lusofonos, das tradições, da economia- de tudo o que tenha a ver com a Lusofonia.

A criação dessa Academia seria só por ela um chamariz para estudantes de toda a Ásia para se deslocar a Macau, e traria um outro prestigio à cidade, valorizando o seu próprio património, e, com isso, o turismo. Com a afirmação de países como Angola e Brasil no mundo, a procura pelo ensino de português no mundo irá disparar. Esta Academia poderia servir, igualmente, como a Universidade de referência para os estudantes dos países Lusofonos em estudos Chineses, desde a Lingua, passando pelos costumes, economia, história, etc, atraindo a Macau, assim, um vasto número de estudantes que ajudariam a desenvolver toda uma industria de apoio a tal.

Sei que, actualmente, a Universidade de Macau procura fazer, com um ou outro curso, este papel, mas é francamente insuficiente. Para se obter sucesso e poder chamar a isto relamente um rumo, ou uma aposta, teria que ser feito um investimento sério e decidido, com novas infraestruturas, novos curriculos, novos cursos, e um qudro de professores de topo.

Ao desenvolver toda uma industria de apoio para as comunidades Lusofonas, criar-se-iam todas as condições para que Macau se tornasse um local prestigio como o centro de estudos Lusofonos de excelência na Ásia. Tudo o resto- intercâmbio económico com os países Lusofonos, turismo cultural, etc. Viria por acréscimo natural.

Bem, algumas humildes sugestões de um cidadão de Macau!

Anónimo disse...

Essa treta da indústrias criativas não é mais do que encher os bolsos dos mesmos de sempre

Anónimo disse...

Bolas, esqueci-me de fazer o "spell check"...

Anónimo disse...

Eu concordo com o primeiro anónimo: há é que investir no putedo e facilitar-lhes a entrada, para que a oferta seja cada vez mais e melhor.

Francis disse...

Falta-lhe claramente algum glamour que os chinocas não têm. Mas olha que em Las Vegas também há os americanos tipicos de camisolas de alças, meias brancas, calções, a chupar grandes copos de tudo e mais alguma coisa, muito bimbos...
Já Monte Carlo a conversa é outra, aí o código de imagem é coisa séria.

Anónimo disse...

Tudo isto sao comentários muito interessantes excepto o dos putedos que obviamente merece zero de atencao...De estupidez Portuguesa estamos nos fartos.

A realidade é que não temos cabeças para a poiar os projectos Creativos, e as que temos são considerados loucos extravagantes ou mesmo drogados e por isso nenhuma confianca lhes e dada e por tal os seus projectos por melhor que sejam nao vao para a frente.


Se comecarmos por despedir o Manuel Goncalves da TDM e correr com umas quantas miudas Chinesas de alguns gabinetes de escritorio com poder absoluto sobre creadores sem se quer terem o minimo de educacao academica na area...isso sim seria um passo em frente.


Sem se comecar por ajudar quem quer fazer vamos cair no velho habito Portugues de que o que vem la de fora e que é bom e nem se quer olhamos para aqueles que andam todos os dias em Macau a tentar sobreviver do seuy trabalho creativo, esses sim precisam de ser apoiados.

Por outro lado quadros gestores como o nosso inimigo numero Maniuel Gonçalves que gere a pior Televisao do mundo, gasta ,ilhoes nao se sabe bem em que? E nao tem programas de qualidade ne se quer funcionbarios de qualidade nas areas do Audio Visual,,,isto sim nao se percebe como e que se admite.