sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os blogues dos outros


Os dez soldados franceses mortos numa emboscada no Afeganistão em 2008, podem ter sido vítimas das trapalhadas do governo italiano. Segundo o Times os serviços secretos italianos terão pago dezenas de milhares de dólares aos líderes talibans e aos senhores da guerra para manter a paz na região de Saroubi onde os italianos tinham a responsabilidade das operações antes de serem substituídos pelos franceses. Mais uma trapalhada de Berlusconi. O governo italiano considera infundadas as notícias do Times mas os argumentos são dificilmente convincentes.

Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Maitê Proença - confesso que mal a conheço, pois não vejo telenovelas há trinta e tal anos - terá feito comentários desagradáveis a respeito dos portugueses, pelo que se retratou com pedido de desculpas. Vendo um curto excerto do programa, que é eloquente do analfabetismo alvar da rapariga, compreende-se que se ria do que desconhece. O mundo está cheio de idiotas e não é a rapariga que alterará com tão miserável exibição de mentecaptismo atrevido essa nossa certeza. A fazer fé no arrependimento da actriz, fica a mancha de um deslize que não é relevante pela protagonista da gaffe, mas pelo facto de ser característica de um grande país, tão grande como um continente, que foi talhado por Portugal. Aos brasileiros, esse povo admirável nos defeitos e nas qualidades - e até nas qualidades dos seus defeitos - importa lembrar que o Brasil nunca existiu; ou antes, o Brasil foi sempre, pelo menos até aos anos 20 ou 30 do século XX, a expressão da ideia de um Portugal atlântico, tropical e ultramarino. Sem os portugueses, o Brasil seria hoje um amontoado de republiquetas de fala castelhana com enclaves étnicos nativos dominados por terratenentes crioulos como o são, com excepção do Uruguai, do Chile e da Aregentina, os países saídos da colonização espanhola. O Brasil é uma criação portuguesa e tudo o que disserem descendentes de italianos, alemães, libaneses e sírios que ali prosperaram faz parte de uma persistente tentativa de reescrever a história. O brasileiro fala português, o seu Estado foi feito por portugueses, as suas leis e instituições são de matriz portuguesa, os valores sociais e individuais carregam mais de trezentos anos de vida portuguesa e até a sua literatura - pelo menos até Euclides - é portuguesa. O Brasil, lembrem-se os brasileiros, foi monarquia com casa imperial Bragança e chegou até a ser sede do poder, substituindo-se a Lisboa como cabeça do império. O Brasil é caso único, pelo que não se deve contorcer com as habituais cólicas compensatórias e complexos de inferioridade que acometem os ex-colonizados. Há anos tive a oportunidade de conhecer alguns académicos brasileiros que desenvolviam actividade docente nos Eua. Era um permanente campeonato de lugares-comuns e ditos sem espírito nem inteligência para apurar quem dizia mais mal de Portugal. Uns eram pró-holandeses, outros gostariam que o Brasil tivesse sido colónia britânica, outros ainda que se tivesse mantido à margem e fosse um imenso telão verde povoado por bons selvagens. Ou seja, esses professores de língua e cultura debatiam-se com a maior das contradições que era a de negarem o múnus da sua actividade profissional. É triste, pois o Brasil, para ser Brasil, não tem outro destino que o de actualizar, globalizando-a, a herança portuguesa. Nós não devemos nada ao Brasil. O Brasil, sim, deve-nos a visibilidade, a grandeza da sua mancha territorial, a homogeneidade da língua, a capacidade de se ver para além da América do Sul. O Brasil é, nem mais, o prolongamento de Portugal, pelo que não me repugna a ideia de, um dia, o Portugal europeu possa vir a integrar a Federação Brasileira. Sempre que olho esse colosso, lhe ouço o hino e olho a bandeira só vejo Portugal, não o Portugal Estado-nação, mas uma ideia de fraternidade universal que saiu da nossa lavra. O Brasil, a vir a ser uma grande potência, não mais será que Portugal.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Depois do provincianismo a tamanquice desmedida que marcaram a nacional indignação contra um vídeo gravado em Portugal pela Maité Proença, aqui fica uma conversa ouvida ontem, ao vivo e a cores, numa mesa ao lado:
-Então a Maitê diz que os portugueses somos estúpidos porque pomos os números às avessas nas portas…
- Deviam ter dito à moça que quem pôs aquilo ao contrário na porta estava com uma grande barcada e ainda não a curou para compor o estrago. Então é que ela ria mais.
- Eu às vezes quando vou chegando a casa até a porta vejo às avessas, quanto mais o número; ai mãe que não me dou direito. (risos)
- Olha lá, olha lá, a moça estava rindo do número na porta estar às avessas. Então quando ela souber quantos votos a gente deu ao Sócrates e depois do que ele fez a moça vai começar chorando.. (mais risos)
- E depois ainda se ofendem com a moça porque ela disse que os portugueses são estúpidos… Então, queriam que ela dissesse o quê? (menos risos)
Alguns já perceberam que esta conversa foi “recolhida” no Algarve, onde as gentes quase nunca perdem o sentido de humor, são capazes da mais fina ironia e desconfiam do que é demasiado óbvio.


Paulo Porto, Fiel Inimigo

Levantou-se uma onda de ‘patrioteirice’ a propósito de um vídeo em que uma actriz brasileira parece depreciar algumas das nossas especificidades lusitanas. O que é excessivo – tudo aquilo constitui uma declaração de indigência intelectual para além de qualquer redenção e que só envergonha quem a protagonizou. As desculpas ainda fizeram pior. Num estudo de Paulo Cavalcanti, ‘Eça de Queiroz agitador no Brasil’, narra-se a polémica que alguns artigos de Eça e de Ramalho Ortigão em ‘As Farpas’ provocaram no Brasil do século XIX. Longe de querer comparar a senhora Proença com os citados, veio-me à memória uma frase queirosiana: “O brasileiro tem os defeitos dos portugueses só que dilatados pelo calor.” É pena que a dita senhora apenas tenha comprovado essa máxima.

Carlos Abreu Amorim, Blasfémias

Vai-se ao Algarve e quando se pergunta "O que é aquilo?", respondem-nos: "É do Eduardo dos Santos, presidente de Angola!". Vai-se ao centro do país e quando vemos a maior tapada murada do país e perguntamos de quem é, respondem-nos: "É do Eduardo dos Santos, presidente de Angola!". Vai-se ao Norte e quando se pergunta de quem é "aquele empreendimento ali", respondem-nos: "É do Eduardo dos Santos, presidente de Angola!". Bancos, sociedades de investimento, fundos de investimento, imóveis, hotéis, fábricas e um mundo de negócios incalculável representa uma das grandes fatias da fortuna de José Eduardo dos Santos e de seus filhos na nova colónia angolana chamada Portugal. Hoje, lê-se nos jornais que a TAP também poderá ser "salva" pelos angolanos, (leia-se José Eduardo dos Santos). E por que não vender-lhe já o país todo...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Em 2004, quando todos percebemos que a aposta na organização de um Europeu de Futebol tinha sido totalmente perdida, ninguém se lembrou de apurar as responsabilidades. Tanto é que, um ano depois, o principal responsável por este calamitoso desperdício foi eleito Primeiro-ministro de Portugal. Agora preparamo-nos para que tudo aconteça igual. Com a intolerável ambição de querer deixar «marca», José Sócrates insiste no avanço para projectos de viabilidade duvidosa. Todos esquecem que somos um dos países com melhores infra-estruturas da Europa, apesar de sermos, ao mesmo tempo, um dos países mais pobres; e todos esquecem que países extremamente desenvolvidos e, como esta gente gosta de dizer, «periféricos», como os escandinavos, por exemplo, não têm TGV nem coisa que o valha. Portugal está de tal forma embriagado na promessa de prosperidade que lhe é feita, que aceita tudo de braços abertos e sem pestanejar. O pior, caros amigos, é que daqui a quatro ou cinco anos, quando as despesas do TGV já estiverem a ser suportadas pelos nossos impostos e com recurso a mais dívida pública, vamos, de novo, esquecer de quem é a responsabilidade. Vamos, de novo, poupar-nos ao trabalho de remexer na história recente e vamos acabar por voltar a confiar na mesma gente. É triste, mas é verdade.

Tiago Moreira Ramalho, Corta-Fitas

Verifico que as opiniões pré-formatadas se tornaram tão habituais que quem ousa sair do trilho e fazer críticas ora à esquerda, ora à direita arrisca-se a ser apontado como diletante, incoerente, excêntrico, tonto ou até intelectualmente desonesto. A esta última avaliação ficam, por vezes, subjacentes dúvidas quanto ao carácter do opinador, já que se presume que a crítica alternada e cruzada pode ter por objectivo agradar a dois ou mais senhores. Contudo, sendo a realidade polifónica, só os solos que se executam a soldo soam monocórdicos. As opiniões realmente livres aproximam-se, inevitavelmente, da improvisação jazzística. Um registo que, pensando bem, não agrada a muita gente, talvez porque não entre tão facilmente no ouvido...

Teresa Ribeiro, Delito de Opinião

Parece que Manuela Ferreira Leite mudou de disco, deixou aquele que tinha por título “asfixia democrática” e decidiu pôr o PSD a dançar ao som do”oposição responsável”. Sempre que é questionada sobre a futura postura no parlamento a líder do PSD, bem como todos os seus subalternos, respondem com a nova máxima, o PSD vai fazer oposição responsável. Dito desta forma apetece perguntar que tipo de oposição fez o PSD na legislatura anterior, que modelo de oposição terá eito? Manuela Ferreira Leite é daquelas pessoas que veste mal o fato de deputada a oposição, nasceu para mandar e revela grande dificuldade em pensar num contexto em que não lhe cabe mandar. Na legislatura anterior Manuela Ferreira Leite ensaiou vários modelos de oposição, suponho que todos tão responsáveis como o que vai adoptar nesta legislatura, pelo passado recente não lhe faltam imaginação. A mais original das formas de oposição responsável adoptada por Manuela Ferreira Leite foi o desaparecimento por longos períodos, o que agora não deverá suceder já que terá de aparecer pelo parlamento. Depois a oposição pela ausência Ferreira Leite optou por propor soluções para tudo e para nada, mais tarde toda e qualquer decisão do governo era acusada de plágio. Incomodada pelo suposto plágio Manuela Ferreira Leite mudou novamente de estratégia, fazia oposição responsável mas não propunha nada para que o governo não copiasse as suas propostas. Esta estratégia foi levada ao extremo e resultou num programa que mais parecia as instruções de um telemóvel. Com tanta imaginação para introduzir novas modalidades, nem o má moeda a consegue superar, resta saber o que vai ser agora a oposição responsável de Manuela Ferreira Leite. Irá ausentar-se do parlamento quando Sócrates fizer propostas? Irá ficar em silêncio para que Sócrates não consiga saber o que lhe vai pela cabeça? Ou irá acusar Sócrates de ter plagiado o seu programa eleitoral? O PSD vai ter um problema grave nesta legislatura, se Ferreira Leite nunca exibiu grandes dotes para governar, também já mostrou que enquanto oposição é um desastre. O problema não está em saber o que entende por oposição responsável, está na competência com que actua enquanto oposição.

Jumento, O Jumento

O PSD está em pé de guerra … outra vez. Segundo uns, é, outra vez, absolutamente indispensável que o líder cumpra o seu mandato para que depois se possa escolher um novo líder. Segundo outros, é, outra vez, absolutamente indispensável que o líder seja derrubado e substituído por um novo líder. Acredita-se, outra vez, que desta vez é que o PSD vai encontrar o líder forte que não encontrou das outras 10 vezes. Aliás, lendo com atenção o que se vai escrevendo sobre o PSD conclui-se que os dirigentes são bons, os militantes são bons, a implantação no terreno é boa, a ideologia e o programa político são do melhor que há, o grupo parlamentar é excelente, os autarcas são imbatíveis. Falta um líder que faça cumprir o potencial do partido. Sobra um mistério: como é que um partido tão bom gera líderes tão maus.

João Miranda, Blasfémias

Portugal é uma selecção em grandes apuros, de credo na boca. Neste jogo com Malta, vimos o óbvio: uma equipa nula a perder um jogo, e uma equipa medíocre a jogar futebol medíocre. Os próximos dois jogos serão pura lotaria. Bosingwa é um dos melhores futebolistas profissionais portugueses. Joga no Chelsea, depois de ter jogado no Porto e no Boavista. É jogador de Selecção desde 2004, tem 27 anos e está na segunda metade da sua carreira. Então, como se explica que tenha entrado numa picardia de agressões com um jogador de Malta, a qual lhe valeu um amarelo? Que descontrolo é este, a este nível e nesta fase? Numa indústria que dispõe de tantos recursos financeiros, que trabalho psicológico é feito de modo a erradicar estas disfunções? O problema também está em Queiroz. A imagem que passa durante os jogos, e nas declarações, não é de autoridade, é de nervosismo, insegurança. Se ele, o Professor, ele o técnico com currículo internacional de topo, não se dá conta das disfuncões que propaga, o aleatório fica cada vez mais decisivo. Onde não há fraqueza é em Guimarães. O povo fez a festa, não há festa como a do povo.

Valupi, Aspirina B

A Igreja católica anda alvoroçada com a liturgia eucarística, hesitando entre a entrega da hóstia na mão do comungante ou a implantação directa na língua do devoto. Está em causa a propagação da gripe A para a qual o sacramento não serve de vacina. A alva rodela de pão ázimo, sem fermento, é para os crentes o corpo e sangue de Cristo graças a um processo alquímico – a bênção – que produz o salto dialéctico e transforma a quantidade de farinha em qualidade mística. Surpreende que os sacerdotes, capazes de obrar tal prodígio, não sejam capazes de distinguir uma hóstia consagrada de outras mas a fé não é feita de dúvidas, isso são escrúpulos blasfemos de hereges e ateus. O que está em causa é a possibilidade de os devotos com a gripe A lambuzarem os dedos do oficiante e transmitirem o vírus através da hóstia seguinte, problema que tem preocupado a D. Laurinda Alves, que reconhece a contratempo de pousar a patena e o cálice entre duas bocas para proceder à desinfecção das mãos do padre ou dos legais substitutos. «Felizmente a tradição já não é o que era e há cada vez mais padres e leigos a dar a comunhão na mão» – assegura a D. Laurinda que reflecte sobre os problemas da saúde e higiene relacionados com a eucaristia. Mais correcto, seguro e higiénico seria distribuir as hóstias em embalagens herméticas, com código de barras e prazo de validade impresso, mas não é conhecida a qualidade da consagração através do plástico. A gripe A é mais uma contrariedade na liturgia e uma ameaça às tradições em que a fé repousa.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

Há um desporto que me faz muita confusão.
O lançamento do martelo. Não pelo desporto em si mas... como é que conseguem acertar no prego?


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

2 comentários:

joãoeduardoseverino disse...

Obrigado pelo destaque. Abraço.

Anónimo disse...

Mais uma vez O Jumento faz jus ao nome. Devia ir à escola antes de escrever num blogue.