MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!
O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER!
O DANTAS É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO!
O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!
O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM!
O DANTAS NÚ É HORROROSO!
O DANTAS CHEIRA MAL DA BOCA!Almada Negreiros, Manifesto Anti-DantasQuando o jovem Almada Negreiros publicou em 1916 o seu famoso “Manifesto anti-Dantas”, estava longe de imaginar que a crítica em Portugal desse tantos passos no sentido contrário, que retrocedesse tanto. A verdade é que somos um povo muito sensível, um bando de virgens ofendidas que pula da cadeira de faca em punho por tudo e por nada. Afinal foram 48 anos de ditadura e censura que deixaram o sentido crítico no poço, e cada vez que tenta dele sair, escorrega nas paredes cobertas de húmido musgo e volta a bater no fundo.
Ao contrário de outros países onde a crítica mais mordaz faz carreira (os americanos têm o delicioso hábito do “roaster”), em Portugal é preciso “cuidado para não ferir as sensibilidades”. Coitadinhas das sensibilidades, tão impolutas e de pele tão branquinha. Macau não é excepção, e consegue ser um bocadinho pior. Talvez por ter sido durante muitos anos o “quartel da ditadura” a Oriente, no território nunca floresceram espíritos livros e críticos. Faltam escritores, pensadores, criativos, e mesmo os jornalistas em língua portuguesa são praticamente todos importados, e cedo se adaptam às regras e têm cuidado com os calos que pisam.
O que falta em crítica sobra em “produção artística”. Macau é um paraíso para escritores não publicados ou realizadores ignorados, desde que obtenham, claro está, o tal subsídio. E tudo o que se faz “é bem feito”, e quem se atreve a falar mal “é invejoso” ou “só sabe falar mal”. Quem tem mesmo alguma qualidade ou ambiciona a mais altos vôos, raramente se demora por estas bandas. Os artistas plásticos, por exemplo, são um caso interessante de analisar. Macau não é, nem nunca foi, ponto de passagem de apreciadores ou compradores de arte, e tudo o que por aqui se faz é, no máximo, sofrível. Fui aqui há uns tempos a uma exposição de arte de um grupo de artistas do território. Quando um deles me perguntou “o que pensava”, respondi-lhe “nada, pois não entendo de arte”. A sinceridade provavelmente ia sair-me cara, daí que tenha optado por esta escapatória mais diplomática.
Depois há a “cultura do amigalhaço”, que passa por considerar que tal livro que fulano escreveu é “bom” (quando não é “genial”), porque afinal “é um gajo porreiro”, que “toda a gente conhece”. Isto mesmo que não se lhe reconheça qualquer tipo de qualidade técnica ou qualificação especial. E por falar em qualificações, já perdi a conta às publicações locais sobre Direito. Não deve haver aí jurista que não tenha publicado um livro, e o que não faltam por aí são títulos como “A evolução do Direito no âmbito dos pastéis de nata” ou “Considerações sobre o Direito romano-germânico enquanto se faz o pino”, que sinceramente só interessa mesmo aos especialistas desta área, mas não ao comum dos mortais. Mas fica-hes bem. Aos que já têm filhos, só lhes falta plantar uma árvore.
Da produção musical que se faz no território nem se fala. Basta visitar o primeiro andar da Livraria Portuguesa, transformado em museu do CD Made in Macau, para recordar algumas das pérolas musicais que foram por aqui gravadas nos últimos anos da administração portuguesa. Recordo-me assim de repente de um disco de fado gravado por uma senhora portuguesa aqui residente, produzido por uma personalidade da rádio de então, que fez furor entre os expatriados da altura. A qualidade era bem fraquinha, mas ai de quem se atrevesse a falar mal daquilo. Ainda se arriscava a ser metido num avião e recambiado daqui para fora. Éramos tão unidos, não éramos? Para o melhor e para o pior.
Para que se perceba bem como às vezes até se ofende sem querer, basta recordar a polémica há dois anos causada pelas declarações do deputado Au Kam San na AL, quando afirmou que “esta administração conseguiu roubar mais em dez anos do que os portugueses em 400”. Uma declaração que deixou os portugueses (os “pequenos ladrões”) furiosos, e recebeu um encolher de ombros dos que conseguiram de forma incrível subtraír mais massa em dez anos do que os outros em quatro séculos, ou seja, 40 vezes mais. Sintomático.
Existe uma linha muito ténue entre a opinião ou a crítica construtiva e a “difamação”. Provavelmente devido à exiguidade do território e ao facto da nossa comunidade ser reduzida, quase toda a gente se acha com direito “ao bom nome”, como se fosse uma marca de salsichas ou atum de lata. Certamente os leitores estarão ainda recordados de um triste episódio que aconteceu há dois anos quando um professor universitário cometeu no seu blogue pessoal um desabafo, e apesar de não ter referenciado nomes, a parte ofendida apresentou uma queixa que terminou num embaraçoso pedido de desculpas, a lembrar os antigos linchamentos na praça pública.
Mesmo este vosso servo, tantas vezes acusado de “fazer ataques a cobro do anonimato”, mas o que interessa? A cobro do anonimato ou abertamente, a crítica nunca é bem aceite por ninguém. Falta cultura democrática, e sobretudo “fair-play”. Recentemente um jurista do território que escreve para um dos diários publicou uma série de artigos em que, baseado em factos e recortes da imprensa da altura, teceu considerações sobre o caso da Fundação Jorge Álvares, o que caíu mal junto de um dos envolvidos, que recorreu ao insulto e à ameaça verbal para esgrimir os seus argumentos. Esgrimir é a palavra certa, pois só lhe faltava mesmo uma espada.
O pior mesmo é quando os ofendidos ameaçam com “a barra dos tribunais”. O que vale é que são sempre mais as vozes que as nozes. Fossem essas ameaças concretizadas e não conseguiam os tribunais dar vazão às hordas de ofendidos que por aí andam. E ainda ficavam a pensar: “que desocupados são estes portugueses”. E que sensíveis, também. Não sei qual foi a reacção de Júlio Dantas ao manifesto que Almada escreveu, mas até desconfio que levou na desportiva. Outros tempos, aqueles...
6 comentários:
Então porque se removem comentários aqui? Não os leva na desportiva?
Concordo plenamente com sua sábias palavras.
Opiniar sim, ofender não, será esse talvez o mal de muitos dos comentarista que, embora vivamos em democracia, a não entendem, e escrevem, comentam anarquicamente.
Não concordar com determida maneira de pensar é lógico e faz parte do ser humano, porém podemos e devemos fazê-lo de uma forma digna e própria das pessoas cultas.
Não é com vinagre que se apanham moscas, como não é de punho fechado que se gaanha amizades.
Um abraço amigo
VIVA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Estes anónimos ainda não perceberam que os comentários removidos são pelo autor desses mesmos comentários, não pelo Leocardo. Mas há que criticar só por criticar, até para dar razão ao post, pois está claro. Mais um Dantas!
Oh Timóteo, então vá ler a posta do Leocardo http://bairrodooriente.blogspot.com/2008/11/sobre-o-bairro-do-oriente.html.
Palavras do próprio "- O Leocardo censura comentários.
Existe um termo técnico para essa afirmação: “mentira”. Terei apagado três ou quatro comentários que ultrapassaram os limites do bom senso, mas não modero comentários, não elimino comentários que me criticam e mesmo outros que me insultam.
Então? Apaga ou não apaga? Vá, toca a mudar o nome para Dantas.
Discordo do seu post.
O labrego matarruano que comenta naquele bocado de papel e a que o Leocardo se refere, se realmente sucedeu o que veio a público contar, teria de fazer queixa-crime, como parece que fez, e não desabafar numa coluna. Eu estou-me defecando para as dores de um bajulador ou para o que outro da mesma linha disse ao primeiro.
Os comentadores do jornal do nível dos dois que se pegaram, que se insultem em privado.
Obrigado.
Para quem se está defecando para o jornal e para o que nele se escreve, o anónimo anterior até parece muito informado. E até se deu à maçada de escrever um comentário aqui. Não deve ter mais nada para fazer senão defecar a torto e direito. Olhe, compre papel higiénico para se limpar, que sai mais barato.
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