sexta-feira, 10 de julho de 2009

Os blogues dos outros


Os acontecimentos não se comparam mas há um detalhe importante de notar entre 1989 e 2009. Quando os estudantes começaram a manifestar-se em Tiananmen em Abril de 1989, Zhao Ziyang, então secretário-geral do partido, tinha uma viagem marcada para a Coreia do Norte que não foi adiada. Quando regressou, tudo tinha mudado de figura. O editorial de Deng Xiaoping já tinha sido publicado no "Diário do Povo" e o número dos manifestantes tinha triplicado. Agora estamos em 2009. Hu Jintao, então secretário-geral do partido, anda em viagem quando acontece o maior confronto entre Han e Uigures da história da RPC. Cancela-se a viagem. Uma decisão sensata e lógica tendo em conta que não se sabe quando vai parar a violência e que o senhor presidente da China teria de enfrentar os jornalistas estrangeiros a fazer perguntas sobre o país e a situação dos Uigures. Queira-se ou não, lidar com uma imprensa livre exige prática que nem todos os líderes chineses têm. Neste caso, até me parece que Wen Jiabao tem mais à vontade que propriamente o presidente. A violência pode continuar, Hu Jintao teria de discursar nos países que ía visitar (Portugal incluído) a fazer publicidade à economia chinesa e boas relações diplomáticas, sem poder falar dos Uigures mas sabendo que teria de falar deles. Podia até acontecer que a viagem fosse totalmente ofuscada pelo tema dos confrontos entre Han e Uigures na nação (des)unida que é a China. Os riscos são muito grandes e o ano não está para riscos desnecessários. Apelar ao nacionalismo não funciona como quando é contra os franceses ou contra os japoneses. Não se pode falar da grande nação Han sem esquecer os outros. Como tratar então o tema de ter "chineses contra chineses?" Hu Jintao volta daqui a pouco a Pequim. Há reunião no Zhongnanhai.

Maria João Belchior, China em Reportagem

A dado momento da longa espera que antecedeu a apresentação de Cristiano Ronaldo no Barnabéu perguntou um jornalista da RTP, no exterior do estádio, a uma jovem adepta do Real que lia um jornal com o Stallion da Madeira na capa:
- O que achas do corpo de Ronaldo?
- Gostavas de tocar nele, mais logo?


Pseudo-Livreiro, A Leste da Solum

Com todo o desplante, vaidade e ousadia, José Sócrates reuniu as hostes socialistas para lhes transmitir que tem orgulho no trabalho realizado na legislatura que agora termina. Como é possível que a política tenha baixado a um patamar tão desprezível. O país está de rastos. As famílias choram porque já não podem levar os filhos para as escolas. Os estivadores chamam "filho da puta" ao primeiro-ministro, os doentes de cancro morrem devido à longevidade da lista de espera, os escritores, cientistas e artistas emigram e a pessoa que governou toda esta desgraça ainda tem vergonha para tentar enganar mais uns incautos a votar nele, sem se aperceber que no seu próprio partido milhares de quadros e de militantes já estão a colaborar com outras forças políticas, nomeadamente, com o BE e MMS.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Por estes dias está a decorrer a reunião do fórum do G8 em L'Aquila, Itália. Como era expectável, as potências emergentes, outro chavão da política internacional, acharam que tinham de participar porque, afinal, eram importantes de mais para ficar fora do clube. Com isto, convidou-se também o Egipto e mais uns amigos europeus. Tivemos assim um fórum com EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Itália, França, Japão, Rússia, até aqui o G8, mais o Brasil, a Índia, a China, a África do Sul e o México, grupo a que se vai chamando G5, mais o Egipto, Espanha, Holanda e a Turquia. É muito país e se calhar até é bom, para que o diálogo se alargue e não fique impregnado com o odor do Atlântico. No entanto, parece-me interessante o papel a que se prestam líderes poderosíssimos como Lula da Silva, não se riam, ou Hu Jintao. Actualmente, as potências emergentes não o são mais: são potências, ponto. Os países do G5 ultrapassam hoje muitos dos países do G8. A China já é a segunda potência económica a nível mundial e a Índia é a quarta. Mesmo o Brasil já ultrapassou a Itália e o Canadá. Para além disso, em termos militares, não há exército maior que o chinês. É por isto francamente perturbador ver os países do G5 tratarem-se a si próprios como potências de segunda categoria, burgueses a querer entrar nas festas da alta nobreza. Não são. E enquanto se portarem como tal, enquanto não funcionarem independentemente dos caprichos de Washington e não se assumirem como actores importantes, serão sempre vistos pelo mundo como atletas de segunda linha, nações cujo contributo é perfeitamente dispensável. O primeiro passo, provavelmente, seria impor a entrada permanente no grupo.

Tiago Moreira Ramalho, Corta-Fitas

E já que trato destas relações preconceituosas entre beleza e feiura e inteligência e estupidez (reciprocamente e vice-versa e pela desordem que entenderem) recordo, para complicar, que Carla Bruni-Sarkozy, mulher do presidente francês, recusou participar no programa das esposas, e, em vez disso, ficou em L`Aquila, como os chefes de Estado e o seu esposo. Em qual L`Aquila visitou uma igreja que será reconstruída com ajuda da França, e entregou um cheque da sua fundação para reconstruir um hospital. O que dará muito que pensar a pobres tontos que confundam feiura com savoir-faire. E para outros pobres tontos que leiam o Mundo pelos óculos de Esquerda-Bom, Direita-Mau, mais uma complicaçãozinha: o marido de Carla Bruni, Nicolas Sarkozy, não visitou o centro da povoação arruinada por um terramoto. Mas o primeiro-ministro Berlusconi visitou, acompanhado de Barack Obama. Pois é, a vida é muito mais complicada e interessante do que sonha o vosso vão preconceito.

José Mendonça da Cruz, Risco Contínuo

Foi hoje noticiado que o Papa Bento XVI resolveu arengar aos incautos que o ouviam e recomendar aos participantes da Cimeira do G8 que decorre na cidade italiana de L’Aquila que «tomem decisões e orientações úteis para o verdadeiro progresso de todos os povos, em especial para os mais pobres». Pelos vistos, aqui temos um líder religioso que vive como um nababo no meio da mais anacrónica opulência e que tem a autêntica lata de vir apelar aos interesses dos pobres. Aqui temos um autêntico energúmeno, que resolve recomendar aos líderes mundiais «o verdadeiro progresso de todos os povos», quando é ele o primeiro a viver rodeado de ridículas celebrações mitológicas inventadas por pastores primitivos da Idade do Bronze e, do alto do inegável ascendente espiritual que infelizmente ainda tem sobre quase mil milhões de pessoas, recomenda que se discriminem os seres humanos em função das suas razões identitárias. Como se não bastasse, ainda temos de assistir ao desplante místico deste alucinado tarado sexual vestido de trajes circenses a recomendar que se tomem «decisões e orientações úteis» quando é ele o primeiro a privilegiar os risíveis dogmas religiosos que professa sobre a própria vida humana. Não sei o que este Papa anda por aí a fumar; mas deve estar estragado com certeza!

Luís Grave Rodrigues, Diário Ateísta

Quando Margarida Sousa Uva se lembrou, aqui há uns anos, numa famosa campanha eleitoral, de recordar um belo poema de Alexandre O'Neill para pedir aos portugueses que seguissem o cherne, apelando a tão sugestiva imagem para que votassem no seu marido, certamente que não imaginava que o camarada Durão Barroso, o mesmo que nos anos de ouro do PREC quis mobilar a sede do MRPP com móveis da Faculdade de Direito, ainda viria a ser presidente da Comissão Europeia. Agora que ele se prepara para um segundo mandato, conciliando o apoio de gente tão diferente como Zapatero e Berlusconi e fazendo o pleno dos Estados membros, talvez seja mais apropriada a imagem do polvo do que a do cherne. Longe da elegância e altivez do cherne, o polvo tem aspecto gelatinoso, é viscoso, com os seus tentáculos não se importa de tocar vários instrumentos, adapta-se facilmente aos ambientes, muda de cor conforme a ocasião, e servindo de pretexto para reunir os amigos à volta de uma mesa, permite mil e um manjares, dos mais populares aos mais sofisticados. Em arroz ou à lagareiro, vendido tisnado nas feiras ou em sushi no T-Club, aí está ele para o que der e vier. Nessa maneira de ser reside também o seu mérito. Tem, todavia, um senão. Como nem tudo é perfeito, o polvo também não foge à regra, pelo que sem dificuldade se engana e se deixa apanhar. Mas, dirão os mais fervorosos, que importa isso se tudo acabará, inevitavelmente, em lume brando?

Sérgio de Almeida Correia, Delito de Opinião

No plano pessoal, Ronaldo cada vez mais se assemelha a um fedelho destituído de estofo suficiente para poder ser um exemplo humano razoável.
Futebolisticamente falando, há dois Ronaldos: o que deslumbrou em Manchester e o que sempre desapontou na Selecção. Resta saber qual deles irá jogar em Madrid.»


Carlos Abreu Amorim, Blasfémias

Cristiano Ronaldo, famoso também pela vida regrada que levou em Manchester, onde às 9 da noite já estava na cama com duas ou três atletas (algumas delas ainda não profissionalizadas, participando nos encontros com estatuto amador), derivado da problemática dos horários da restauração em Inglaterra, vai enfrentar as casas de pasto madrilenas na certeza de ir perder. Perder tempo, precioso tempo de sono, porque antes das nove ninguém janta naquela terra, nem Rei nem estrelas galácticas. E agora é fazer as contas: mesmo que Ronaldo saia do Santiago Bernabéu às 7 e vá logo para a porta do restaurante para ser o primeiro a entrar, antes das 11, com sobremesa e cafés, mais um dedo de conversa e dois autógrafos, não está despachado. Depois terá de apanhar transportes, chegar a casa, lavar a roupa do treino e ver um bocadinho dos noticiários desportivos. São duas da matina quando consegue enfiar os cornos na palha. Com treinos logo ao começo da manhã todo o santo dia, Futre tem boas razões para estar preocupado. Mas Futre vai muito mais longe, e serve aos ouvintes uma tese antropológica. É a resposta à vexante questão freudiana: que querem as mulheres? Olha, querem falar de arquitectura e decoração de interiores, revela um ilustre filho do Montijo que estudou o fenómeno. O mulherio presta-se a qualquer ignomínia, até a fingir interesse nas balelas de futebolistas ouvidas em bares manhosos, só para poder invadir as suas casas e espiolhar os quartos, salas, casas de banho e arrecadações. Assim que registam os pormenores naquelas belas e pérfidas cabecinhas, as fêmeas desaparecem misteriosamente a meio da noite. E desatam a telefonar umas às outras a contar o que descobriram. E a rir, rir, rir. Este perigo é real, é de Madrid e pode dar cabo da carreira ao nosso menino. Porque se chega ao balneário alguma informação relativa aos naperons em ponto cruz que o Cristiano tem no quarto, ou se o pessoal começa a falar dos reposteiros com sanefa que ornamentam a sua sala, perderá de imediato o respeito dos colegas. E alguns até deixarão de lhe passar a bola em condições. Pelo que a profilaxia está na paixão. O amor protege, acaba com o falatório. Quem ama não anda a expor o gosto do amado em cadeiras e cadeirões, toalhas e toalhetes. Acima de tudo, aqui revelando uma ousadia moral só ao alcance de um grande driblador de preconceitos, Futre deixa em aberto o género, quiçá a natureza, do alvo dessa paixão. Basta que seja alguém. Mulher, homem, anjo, demónio, semideus, titã, gnomo. Ou ele próprio, não é?

Valupi, Aspirina B

É evidente existir uma clara diferença entre o poder personalizado e o poder confundido com um homem, demarcação que o século dos ditadores (o século XX) permite estabelecer sem grande dificuldade. No fundo, o poder dos ditadores é copiado, roubado, macaqueado do poder dos reis, sendo que aquele é um puro acto de banditismo político, exercido através de coação sobre os concorrentes, enquanto o poder personalizado dos reis se confunde com a ideia de bem comum corporizada num chefe de Estado dinástico. Roger Caillois, num luminoso texto integrado no seu Instintos e Sociedade, que data dos anos 30, entendera com precisão a clara relação estrutural existente entre os bandos criminosos e os "partidos únicos": lealdade canina ao líder, distribuição de favores e castigos na proporção do apagamento da personalidade de quem integra a seita-partido, inimputabilidade dos decisores, aceitação de um dogma que proibe qualquer movimento crítico, uma moral interna ao grupo que colide com a normatividade pré-existente, o desprezo pela ética dos corpos sociais e profissionais, obrigando-os a exercer a suas funções ao arrepio dos respectivos critérios deontológicos - os médicos que torturam e matam, os polícias que aterrorizam, os juízes que se limitam a condenar, os jornalistas que mentem, os artistas que se transformam em propagandistas, os gestores que destroem a lógica empresarial, os padres que facultam informações sobre as confissões, os militares que se pretorianizam - e, não menos importante, a total anulação da cidadania, substituída pela confusão entre o Estado e a seita-partido. Quem não serve o partido é inimigo do Estado; logo, só há cidadãos conquanto membros da seita. Anda por aí, sobretudo pelas bandas das esquerdas, um fascínio quase vergonhoso pela recuperação dos "aceleradores da história" ou pelos solitários do poder: é o culto em torno de Chávez e Morales, Lugo e Ahmadinejad, a desculpabilização "compreensiva" de Mugabe e dos Castro, lembrando um tempo em que a esquerda só tinha palavras doces para Tito, Mao, Estaline e Che, exercendo campanha contra os "fantoches do imperialismo e do capitalismo", fossem estes Konrad Adenauer, Ludwig Erhard, Margaret Thatcher, Van Thieu, Park Chung Hi, Anwar Al Sadat...No fundo, o que as pessoas querem e sonham é um poder que as não obrigue a pensar e a duvidar, que as reduza a serviçais iludindo a sua escravidão em nome de um "projecto comum" que horizontalize a sociedade e que as transforme em laboriosas formigas. A propósito da crise nas Honduras - onde um homem quis destruir a constituição e lançar o país no caos socialista invocando a legitimidade da eleição (Hitler também a tinha) - encontro múltiplos exercícios de disfarçada apologia dos ditadores. É o que sempre disse: não há como um bom ditador para fazer sair da casca os bons totalitários escondidos sob o manto do palavreado "democrático".

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Tal como qualquer comum mortal, nunca tinha visto o J.Galamba antes.
Tal como qualquer leitor de blogs, conhecia-o do Jugular, o cantigo do lobby gay/socratino na blogosfera. Ontem, num programa de informação da SIC, João Galamba foi uma espécie de representante da profissão de fé de académicos de esquerda (desde logo sociólogos e geógrafos) a favor das grandes obras/elefantes brancos públicos. A criatura desbocou alarvidades capazes de abalar a estrutura de convicções do mais arraigado keynesiano. Apesar de no momento dificilmente ter tempo para ver um telejornal completo, surpreendido pelas aberrações argumentativas, fiquei a ver até ao fim. Acabado o momento de variedades, fica a dúvida sobre a razão que levou a SIC a convidar o João Galamba. Há duas hipóteses com sérias probabilidades de estarem corretas:
1ª O tio Balsemão quer descredibilizar os defensores das grandes obras públicas para que não há dinheiro e que representarão, quando concluídas, importantes acréscimos de despesa orçamental para amortização de capital, pagamento dos juros e financiamento da cobertura dos prejuízos da sua manutenção;
2ª O João Galamba perguntou à SIC: "Se o Emplastro pode aparecer na televisão sem ser convidado, então porque é que eu não apareço na televisão como convidado?". Estupidificado com a com a pergunta, o diretor de informação resolveu convidar o moço.


Paulo Porto, Fiel Inimigo

Francisco George : "Em Outubro, 25 por cento da população portuguesa poderá estar infectada com a gripe A".
Ministra Ana Jorge : "Só em Dezembro teremos as vacinas !"
Portugal ainda não fez a reserva da vacina da gripe.


Carlos, Galo Verde

Vida de actor porno não é fácil. No trabalho nunca pode dizer "amanhã não venho".

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

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