Volta a estar aceso o debate sobre os "perigos' dos cybercafés. O debate nunca esteve assim tão animado na altura em que estes "antros" se resumiam aos jogos electrónicos, onde a regulamentação era constantemente violada, e a própria polícia pensava duas vezes antes de entrar.
O deputado Chan Meng Kam (olha quem...) interpelou a secretária para a administração e justiça sobre a fiscalização dos cybercafés. Fala-se de mais fiscalização, e de um conceito peregrino que é o do "número de horas saudável" que se pode passar em frente ao ecrã de um computador a jogar ou a fazer outra coisa qualquer.
Concordo que um jovem ou qualquer outra pessoa que passe horas a fio em jogos de computador tem alguma espécie de problema, mas é preciso diferenciar estes dos que usam a rede para ler, estudar, consultar ou simplesmente procurar uma forma de entretenimento. E se fiscalização houver, deve ser no sentido de impedir menores de frequentar esses estabelecimentos, como aliás já consta na lei.
Está a realizar-se no território até ao dia de amanhã uma reunião internacional sobre a internet. Concordo com as palavras de Angus Cheong, da UMAC, que citado pelo Hoje Macau diz que os fóruns na Internet são uma plataforma de expressão às quais o Governo de Macau deveria dar uma maior atenção, de forma a responder mais rapidamente às opiniões da sociedade.
E é verdade que a internet é hoje em dia a forma mais rápida de divulgar informação, obter informação e ter acesso à cultura. O Governo e as autoridades competents devem tratar a informação na internet da mesma forma que trata toda a restante informação. Incluíndo a opinião. Publicar e ter opinião não é privilégio dos encartados que se julgam de donos eternos da palavra. Toda a gente tem uma palavra a dizer, mesmo que as suas habilitações académica não o permitam fazê-lo pelos canais normais.
É verdade que cada um deve ser responsabilizado pelas suas palavras e actos, mas o simples acto de discordar com uma política ou um governante não deve ser considerado "um crime". Lesa-majestade só na Tailândia e no Brunei, e censura de conteúdos leva-nos um dia a ficar mais parecidos com a Arábia Sodomita.
Não devemos ensinar os jovens que a internet é uma coisa má, ou que pode esconder "perigos". Perigos há em toda a parte, e a internet não é excepção. Ao bloquear conteúdos e limitar o acesso à internet, vamos abrir as portas a todos os tipos de sensibilidades e indivíduos que pensam poder ditar o que outros podem ou não ver.
A pornografia, por exemplo, é um tema bastante sensível. Qualquer indivíduo maior de 18 anos tem o pleno direito de aceder a páginas contendo imagens ou vídeos de pornografia. É o trabalho dos pais e educadores de impedir que os jovens tenham acesso a este material, que também não nasceu com o evento da internet. Desde sempre existiu pornografia impressa, e nas últimas décadas foi transposta para o celulóide e não é assim de tão difícil acesso, mesmo para os jovens.
Como já disse aqui muitas vezes, por cada "perigo" que se pode encontrar na internet, existem mil coisas maravilhosas, educativas, pedagógicas, interessantes e completamente inofensivas. Chega de procurar apoio na fatia mais deseducada da população para legitimar uma eventual censura. Só encontra pornografia quem quer, só faz downloads ilegais de filmes quem os procura (e a pirataria, não existia antes da internet?) e só cai nos tais "perigos" quem for incauto. Nesses perigos e em todos os outros.
1 comentário:
Estes fundamentalistas de hoje são os mesmos que na sua adolescência compravam livrinhos da Gina, iam às sessões pornográficas no cinema sem que ninguém os impedisse, fumavam cigarros às escondidas ou abertamente em cafés onde não os conhecessem (especialmente sem filtro, que eram mais baratos), deixavam de almoçar para gastar o dinheiro numa bejeca ou numa sala de jogos, etc. Hoje dizem que tiveram uma infância feliz, mas querem proibir essa felicidade às novas gerações. Nunca vi tanta hipocrisia junta como nesta época que atravessamos.
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