quarta-feira, 8 de julho de 2009

O céu ganha uma estrela


Agora que Michael Jackson encontrou o descanso eterno, doze dias depois da sua morte, é a altura de dizer umas palavras a respeito daquele que chamaram “rei da pop”. Começo por dizer que nunca gostei muito da personagem. Primeiro por aquilo que representou: o americanismo, a “soul”, o comercialismo, um certo tipo de prostituição musical. Michael Jackson tinha um nome maior do que a música que fazia. Os trejeitos do artista em palco também não me fascinavam, e levavam o cantor a angariar uma legião de jovens fãs que o fundo eram um pouco como eles: pobres, negros, que usavam a expressão corporal como única forma de manifestação cultural.

Depois os sucessivos escândalos. Se MJ fosse minimamente inteligente nunca se deixaria apanhar na verdadeira cilada que foram as acusações de pedofilia e as notícias ridículas sobre a sua aparência e estado de saúde. Não se agourava um destino risonho a alguém que desde os 20 anos tratava o corpo da forma que MJ tratou. Foram cirurgias plásticas desnecessárias, o branqueamento da pele que o próprio nunca conseguiu explicar muito bem, o aspecto atroz que evidenciava dos últimos dez anos para cá.

É curioso que um artista que fez tantos anúncios para a Pepsi nunca tenha provado a bebida. Dizem que numa das autópsias realizadas ao cantor foram encontradas marcas na pele que indiciavam que era viciado em morfina e heroína, além dos tais analgésicos que foram encontrados no estômago. Pelos vistos só Pepsi é que não. É incrível como alguém com aquele corpo franzino, aspecto frágil e voz de criança se conseguia transformar completamente em palco. Os movimentos e a voz rouca e agressiva davam a entender que MJ tinha um botão de “on” e outro de “off”. O de “on” raramente era ligado, e o do “off” nunca mais saíu do lugar naquela fatídica noite de 26 de Julho.

O resto foi simplesmente demais. As aparições públicas, os filhos que se diz são dele mas na verdade são completamente caucasianos (será que o branqueamento era também genético?), a constante divulgação pela imprensa da história do menino que nasceu praticamente a cantar, e que nunca teve uma infância feliz. Tudo isto dá a entender que MJ era amigo de toda a gente mas não tinha um verdadeiro amigo, alguém que o protegesse, acarinhasse, aconselhasse. Mas depois havia a música, em si. Quem não conhece canções como “Thriller”, “Billie Jean” (a minha favorita), “Beat It”, “Bad”, “Smooth Criminal”, “Liberian Girl”, “Black or White”, “Will you be there”, “Jam”, “They don’t care about us”, “Heal the world”, “You are not alone”, só para citar algumas. O homem tinha mesmo talento, e a tal voz.

MJ compôs verdadeiros hinos que vão perdurar pelas gerações. E não foi da forma mais fácil. Todas as suas canções falam de paz, amor e amizade, sem conteúdo político, sem recurso ao palavrão ou à melodia fácil. Quando a música de Jackson sai dos altifalantes, deixam um sorriso no rosto. O género pode não ser do meu gosto e do gosto de muita gente, mas a música é simplesmente genial. Agora que foi posto a descansar, os tablóides precisam de outro alvo e os humoristas de escrever algumas piadas novas. E o céu ganhou uma estrela.

5 comentários:

Prof. Martelo de Macau disse...

Vá lá, desta vez fez uma crítica construtiva, onde fala das virtudes e dos defeitos de Michael Jackson e da sua música (e, quanto a mim, acertou em cheio, a música de Michael Jackson pode não ser má de todo mas está nitidamente sobrevalorizada). Era o que já devia ter feito aqui há uns tempos com os Black Eyed Peas, por exemplo, cuja qualidade muita gente reconhece mas que o Leocardo afirmou ser uma banda horrível. Desta vez esteve bem e até acertou em cheio naquela que é realmente a melhor canção de Michael Jackson: Bilie Jean.

Anónimo disse...

um pouco racista no primeiro paragrafo. Podes nao gostar dele, mas o mundo mostrou ao contrario.

Leocardo disse...

Racista porquê? Por não gostar de "soul"? Se foi por causa da referência aos "negros", permita-me a correcção mais politicamente correcta: indivíduos de tez escura. Está melhor assim?

Cumprimentos.

Anónimo disse...

esta gente com complexos de ser preto ja enjoa,se alguem chamar preto a 1 preto pronto lá vem o sos racismo mas se alguem chamar branco a 1 branco nunca ha racismo porque sera???

Anónimo disse...

Faz parte do neo-fundamentalismo, anónimo das 15:53. Numa análise um bocadinho mais aprofundada, chegar-se-à facilmente à conclusão de que é mais um dos resultados da sociedade de atrasados mentais (há quem lhes chame "politicamente correctos") em que nos estamos a transformar.